"Especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita", completa.
Éden Valadares, presidente do PT baiano, se defendeu dizendo que "essa é a opinião de uma corrente minoritária e não do conjunto da militância ou do partido."
Normas do partido burladas
Segundo a publicação, até o estatuto partidário foi colocado para debaixo do tapete. Duas pré-candidaturas petistas se apresentaram: Rodrigo Pereira e Robinson Almeida. Neste caso, o estatuto partidário determina a realização de prévias.
"Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o 'indicativo' da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT", chama a atenção o texto.
Seguindo a narração da linha temporal, a pré-candidatura foi apresentada à presidente do partido, Gleise Hoffmann, indicando que PT teria candidato próprio no pleito de 2024.
"Passada a euforia, a pré-candidatura 'indicada' não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular", aponta o texto.
Após a derrocada da pré-candidatura, chamada pela militância de "apática, insípida e inodora politicamente", o nome do vice-governador foi anunciado. "Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos 'aliados' de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado", ataca.
Texto publicado no site. Crédito: Reprodução
Durante a Conferência Eleitoral Nacional do PT, realizada entre os dias 08 e 09 de dezembro, o Presidente Lula, em seu discurso, chamou atenção publicamente para a fragilidade do PT na Bahia em não conseguir ganhar a prefeitura de Salvador, apesar de estar à frente do Governo do Estado por sucessivos mandatos.
Não adiantou a advertência pública de Lula. Na última semana, consumou-se mais um triste capítulo na história do PT da Bahia. Em 21 de dezembro, através de sua conta na rede social Instagram e, posteriormente, em declaração à imprensa, o Governador Jerônimo Rodrigues (PT) “anunciou” que Geraldo Jr. (MDB), atual vice-governador, será o candidato à Prefeitura de Salvador pela coalizão de partidos que dirigem o Governo Estadual.
Esse “anúncio” representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância.
No que diz respeito ao “método”, trata-se de uma violência política autoritária contra a democracia petista. A tradição petista demanda que a deliberação da tática eleitoral ocorra nas instâncias partidárias, através de processos democráticos que permitem a participação do conjunto da militância, a exemplo dos Encontros de Tática e/ou prévias eleitorais. Contudo, os fatos políticos que desembocaram neste “anúncio” evidenciam práticas que violam as disposições estatutárias e maculam a democracia no partido.
Inscreveram-se duas pré-candidaturas no PT de Salvador para representar o partido nas eleições 2024 em Salvador: o militante Rodrigo Pereira (AE) e o Deputado Estadual Robinson Almeida (DS).
Como determina o Estatuto partidário, havendo mais de uma pré-candidatura inscrita, devem ser realizadas prévias. Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o “indicativo” da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT.
No dia seguinte, foi organizado, pelo PT-BA e PT-Salvador, o Encontro Territorial, quando foi apresentada a pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) à Presidenta do Partido, Gleise Hoffman. Criou-se a ilusão para os militantes e a nação petista, que o PT teria uma candidatura e lutaria por esta. Passada a euforia, a pré-candidatura “indicada” não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular. Reservou-se a emitir declarações à imprensa, inclusive, algumas problemáticas, como a insistente tese de “cidade prejudicial ao desenvolvimento de negócios” e “sem capacidade de atrair investimentos”, quando, na verdade, a cidade está escancarada ao Capital, mas com crescente exclusão do povo trabalhador, vide as votações na Câmara de Vereadores e os projetos de desafetação de áreas verdes, entre outras iniciativas de recorte neoliberal impulsionada pela gestão municipal.
Passados 04 (quatros) meses dessa pré-candidatura apática, insípida e inodora politicamente, o “anúncio” de Geraldo Jr. (MDB) é tratado com uma vergonhosa nota em rede social pela pré-candidatura “indicada” pelo PT ao Conselho Político da coalizão partidária presente no Governo do Estado. Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos “aliados” de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado.
No mesmo caminho da subserviência estão a trilhar as/os dirigentes municipais e estaduais, a começar pela Presidência do PT-BA e PT-Salvador, as/os parlamentares, a esmagadora maioria das tendências e coletivos, tal qual fizeram, vergonhosamente, em 2020, quando foi “decretada” uma candidatura pelo então ocupante do Palácio de Ondina. Aqui cabe reiterar a caracterização que fazemos da atual dinâmica partidária no PT-BA: uma grande coalizão de tendências/grupos aninhados numa mesma perspectiva estratégica de conciliação de classes, resumindo-se as disputas a conflitos burocráticos por nacos do aparato partidário e/ou institucional para aplicar a mesma orientação política.
Voltemos à discussão sobre o “processo decisório” que culminou no “anúncio”. Segundo anunciado, foi o chamado “Conselho Político” o espaço de discussão e deliberação sob comando do Governador. Ocorre que este “Conselho” é composto por representação dos partidos que compõem a coalizão presente no Governo do Estado. No máximo, portanto, deveria se restringir às discussões sobre os rumos governamentais, onde a direita possui peso desproporcional no aparato estatal e apetite insaciável, vide o acúmulo, por exemplo, do PSD em número de prefeituras e o decréscimo do PT nas eleições municipais dos últimos períodos.
Constituir o Conselho Político do Governo do Estado, na prática, como uma instância suprapartidária é um grave equívoco que tende a eternizar a tão falada “correlação de forças” em favor da ala direita da coalizão governamental. Ademais, como já dito, é uma violência política contra a democracia petista.
E no “conteúdo”, o que representa o “anúncio”? Ou seja, o que sinaliza a pré-candidatura Geraldo Jr. (MDB)?
Comecemos pelo que diz o sítio eletrônico da Câmara Municipal sobre sua atuação profissional: “trilhou carreira profissional na advocacia privada, dedicando boa parte da experiência à defesa da Rede Record e Igreja Universal”. É também comunicador e apresentava programa em estação de rádio local.
Na política institucional, participou na gestão municipal de Lídice da Mata (então no PSDB), Antônio Imbassahy (à época no PFL). Com a posse de ACM Neto (União Brasil) foi empossado com Secretário Municipal de Trabalho, Esporte e Lazer.
Na Câmara Municipal de Salvador, assumiu a vereança em 2011 e elegeu-se por 03 (três) vezes: 2012, 2016 e 2020. Transitou, no período, pelos partidos PTN, Solidariedade e MDB, onde encontrava-se filiado ao ser indicado para a vice-governadoria na chapa vitoriosa de Jerônimo Rodrigues (PT) nas eleições de 2022.
Exerceu o mandato parlamentar em fidelidade estrita com o programa neoliberal de ACM Neto (União Brasil), a ponto de ser cotado para ser sucessor do carlista. Estava na Presidência da Câmara quando, em 04 de maio de 2022, foi aprovado, em votação relâmpago, projeto de lei que vulnerabilizava a proteção ambiental em áreas de cidade e atendia aos interesses imobiliários do empresário Carlos Suarez. O mesmo cidadão a que Geraldinho, como é apelidado, fez deferência especial em discurso durante evento da JUCEB na Associação Comercial da Bahia, quando exultante afirmou: “Se hoje sou vice-governador, agradeço ao senhor Carlos Suarez”.
Evidenciados os laços na seara empresarial, passemos às referências atuais na seara político partidária. Durante a parte de declaração à imprensa do “anúncio”, Geraldo Jr (MDB) fez questão de destacar o papel de Lúcio Viera Lima e Geddel Viera Lima. Isso mesmo. Estes próceres do golpismo contra o PT são as referências do pré-candidato.
Entusiasticamente grato a grande empresário do ramo imobiliário, participante direto, no Executivo e no Legislativo, da aplicação do receituário neoliberal na cidade e referenciado nas lideranças do golpismo MDBista, eis, portanto, as características principais da trajetória recente do que se pretende ter o apoio do PT a sua candidatura. Trata-se, inquestionavelmente, de um pré-candidato de direita.
Assim, o “anúncio” representa uma violência política contra a democracia no “método” e uma gravíssima capitulação programática no “conteúdo”, especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o Partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita.
A Tendência Petista Articulação de Esquerda, em Salvador, repudia essa movimentação da maioria da cúpula partidária e governamental, ao passo que irá tomar todas medidas necessárias junto às instâncias nacionais do Partido, ao mesmo tempo que conclama a militância à rebeldia com realização de plenárias, encontros diversos para forjarmos uma reação coletiva a este brutal ataque ao PT.
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