segunda-feira, 1 de agosto de 2016

MUITO MAIS QUE UM BATERISTA!



É um homem perigoso, este iraniano nascido um ano antes revolução que derrubou o xá homónimo, Mohammad Reza Pahlavi. Não pelas suas ideias políticas. Mas porque pode dar ideias aos gurus da gestão. Se estes administrassem orquestras e vissem como um homem só consegue encher um palco apenas com os seus dedos a tocar nas peles de um tambor, estaria aberto o caminho para o despedimento colectivo e a exigência de que cada músico se tornasse um homem dos sete instrumentos. Perigoso, também, porque depois do que se viu e ouviu daquele homem de ar lúgubre e frágil tudo o resto poderia parecer banal. Ora com o daf    (espécie de adufe), ora com o tonbak (tambor também conhecido como tombak ou zarb), ora ainda com uma versão mini de um tambor, os dedos de Mortazavi, por vezes bem mais rápidos que a vista, extraem uma paleta de sons e de ritmos tal que ao fim do primeiro tema já havia quem gritasse "Mestre!". 
Quando o virtuoso acelerava a cadência, a Avenida da Praia transformava-se numa inesperada pista de dança ao pôr-do-sol e envergonharia muito DJ que por ali passasse. Qual dervixe em dança rodopiante, Mortazavi parecia entrar num estado de abandono e iluminação, enquanto os seus dedos seguiam o seu caminho, cada qual com vida própria. O êxtase passou para a audiência, que exigiu um segundo encore do tocador radicado na Alemanha.

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