sábado, 1 de outubro de 2016

AREMBEPE DA CONTRACULTURA



José Simão, jornalista, colunista, radialista e querido "macaco", é morador de Arembepe. A paixão é antiga. Chegou aqui pela primeira vez em 1973 pelas mãos do amigo e poeta Waly Salomão. Simão conta como foi a primeira temporada em nosso "paraíso".
“Eu vim parar aqui porque um imã me trouxe. Vim para cá pela primeira em 1973 com o Waly Salomão. Morei em uma casinha de fundos para o mar, na primeira pracinha de Arembepe.
Havia contracultura. Pessoas interessantes que eram amigas e viviam do mesmo jeito, diferente para a época. Morei lá por três meses com a Pinky Wainer, artista plástica, e a Vera Barreto, modelo.Não lembro muito bem, mas acho que eu dormia em uma canoa no quintal. Colocava umas almofadas e dormia ao relento, vendo as estrelas. Me lembro também que às vezes a Gal Costa aparecia para nos visitar. Vinha linda, com um vestido comprido, transparente.
Aconteciam muitas histórias. Tinha a turma que via disco voador e dizia que os coqueiros tinham uma marcação roxa no meio do seu tronco por causa da energia que as naves emitiam. Uns viam OVNIs e eu, por exemplo, um dia, vi Jorge Amado. Ele apareceu em nossa casa procurando a Pinky. Ela era, acho, menor de idade e havia fugido de casa. O pai dela, o Samuel Wainer, jornalista, era muito amigo do Jorge. E naquele tempo, a Bahia era uma coisa única e longe. Ele ligou para o Jorge pedindo ajuda para encontrar a filha. Jorge deve ter ficado sabendo que havia uns jovens malucos em Arembepe e veio atrás. Era assim. As pessoas chegavam e partiam.O ano de 1973 foi muito especial. Foi um carnaval incrível ao som de "Um Frevo Novo" do Caetano Veloso.”


A história de hoje é da carioca Isabel Moraes Bel. Linda como todas as histórias que falam de liberdade. Quem gostar, por favor, compartilha. Quem tiver outra para contar, por favor, escreve.
Verão de 72
“O ano era 1972. Acabávamos de terminar a faculdade. Eu, uma amiga da Escola de Belas Artes da UFRJ e mais duas colegas da Faculdade de Letras. Uma delas havia acabado de terminar um namoro muito intenso. Era verão e decidimos pegar um ônibus do Rio para Bahia. Vinte e cincohoras depois, estávamos amontoadas num quartinho dos fundos da casa da tia de uma delas no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. O carnaval começou e a Praça Castro Alves era do povo. Lembro do frisson quando @Caetano Veloso e Dedé Veloso apareceram na praça, recém-chegados do exílio, e de Gil, caminhando com os Filhos de Gandhy. Outra sensação foi o trio elétrico de Dodô e Osmar. Não era tempo de violência. Rapidamente conhecemos uns jovens paulistas, que estavam viajando de carro. Combinamos de ir conhecer Arembepe. Era linda, deserta, com pouquíssimas casinhas de pescador. Acho que comemos em uma dela. Fomos ficando, tomando cerveja, escureceu. Resolvemos ficar por lá e dormir na praia, na noite de lua e cheia de estrelas. Deitamos todos, lado a lado. Éramos umas 10 pessoas. Deitamos nas cangas. Começou a esfriar, puxamos, então, as palhas de coqueiros caídos para nos cobrir. Óbvio que "fiquei" com o carinha bonito ao meu lado. Amanheceu e rumamos para Salvador. A tia da amiga que nos hospedava no quartinho dos fundos estava desesperada. mas não existia celular e não dava para evitar este tipo de aventura.
Uma das amigas já se foi desta vida. Outra encontrei há algum tempo no bloco Bola Preta. A outra é professora universitária e às vezes a encontro na rua. Dos rapazes paulistas, fiquei muito amiga de um deles, o mais novo. Nos visitávamos e me hospedei na casa de campo da família dele, em Campos do Jordão. Até que um dia nos perdermos no mundo. Soube que foi morar nos Estados Unidos. Eram tempos sem violência e podíamos nos aventurar na poesia da vida. Arembepe era muito longe e deserto. Quando lá voltei, já não era a mesma. Já era tempo de ter medo de se aventurar .”

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