sábado, 28 de janeiro de 2017

A VÊNUS DE MILO NÃO FOI ROUBADA



A imponente estátua, defronte ao Mercado Modelo, obra do italiano Pasquale de Chirico, é com certeza um dos monumentos mais imponentes da cidade. De estilo marcadamente acadêmico, temperado de reminiscências a la Rodin, reúne vários atributos alusivos à vida do jurista José da Silva Lisboa, vida essa dedicada a defender Dom João VI e a monarquia. Entre esses atributos, destaca-se uma curiosa réplica da Vênus de Milo, referência aos estudos helenísticos do homenageado. 

Se, por razões técnicas não arrancaram a pequena réplica, nos anos 90 uma parte importante na base da obra foi roubada na calada da noite, desequilibrando a figura da alegoria feminina reverenciando o visconde. Alguns anos foram necessários para reequilibrar a poderosa figura. 


Semelhante sorte não teve o imóvel vizinho, revestido de azulejos e, dizem, residência do visconde. Sacadas e azulejos arrancados, janelas quebradas, marquise prestes a cair. Outros imóveis fechando a praça, abandonados pelos proprietários, são a mais óbvia evidência da omissão dos poderes públicos. Seja a nível federal, como estadual e municipal.

O baiano – salvo um honrado punhado de intelectuais - não preza sua memória, não respeita seus monumentos e, exceto alguns chavões, ignora sua mais essencial identidade. Diariamente, estátuas de mármore, de bronze ou outros metais, são agredidas, quebradas ou roubadas, enquanto os elegantes passeios de pedra portuguesa são substituídas por horrendas placas de concreto.

Existe algum tipo de policiamento para vasculhar os ferros velhos, os brechós e antiquários de Salvador? Se nem os receptadores do bairro da Saúde, onde são repassados os objetos roubados pelos pivetes do Pelourinho, são incomodados pela polícia, embora todos os comerciantes da área conheçam o endereço exato dos tais, como podemos sonhar em ver coibidas as depredações de nosso patrimônio? Os leões em mármore de Carrara da Casa da Itália, vendidos. Os leões em cerâmica branca do Porto no frontispício da casa de oitão da ladeira dos Aflitos, vendidos. Os azulejos da ladeira do Boqueirão, arrancados ou depredados. Imóveis inteiros do bairro de Santo Antônio, derrubados e reconstruídos. Chove a cântaro no meio da nave da igreja de São Francisco. No Recôncavo, igrejas, capelas, casarões, engenhos, que seriam uma excelente forma de incentivar o turismo cultural, são abandonados, destruídos, vandalizados.

Temos secretários de cultura sem poder, secretários de turismo sem conhecimento e governantes sem cultura. Só se mobilizam na hora de assistir a um documentário sobre Axé Music. Dá ibope.


Arte barroca, Art Nouveau, Art Déco, Eclético... o que é isso, minha gente? Para que servem estas velharias? E viva a cultura de shopping center!

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