quinta-feira, 23 de novembro de 2017

ARMAS, A INACEITÁVEL CULTURA DO ÓDIO

RANULFO BOCAYUVA


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Você discute com o vizinho por causa do barulho e o mata.  Leva uma fechada no trânsito e almeja o motorista barbeiro. O rapaz leva um fora e dá um tiro na namorada. O garoto rouba a arma do pai, fere e mata seus colegas. Qualquer sinal de revolta, raiva ou ódio pode se transformar em violência, sem que o assassino seja terrorista, doente mental ou serial killer. Muitas vezes, não é.    
Que mundo é este? Até quando, presidentes, governadores, congressistas e sociedade vão tolerar leis retrógradas e o poder de influência política e econômica dos fabricantes de armas e seus lobistas?
Repetidamente, os Estados Unidos, alimentados pela sua cultura histórica e cinematográfica, incluindo os sombrios capítulos do criminoso massacre dos índios e seu genocídio, assim como os da Guerra Civil e da violência colonial contra os escravos africanos, chocam com cenas de carnificina e aproximam o ideal capitalista neoliberal do pesadelo social.
Dados assustadores, coletados pela cientista política Marie-Cecile Naves no Gun Violence Archive (arquivos de violência com armas), registram, desde janeiro de 2017, 13 mil mortes, 27 mil feridos e 300 assassinatos em massa nos EUA de Donald Trump e de sua propaganda do “homem americano”. São 300 milhões de armas, mesmo legalmente protegidas pela Constituição, causam a morte de inocentes.
Denúncias fundamentadas, por Dan Gross e AJ+ (Ted Talks) sustentam que a Associação Nacional de Rifles, interessada no lucrativo negócio de venda de armas nos EUA, esconde, em milionárias campanhas publicitárias, os números reais da população. Noventa americanos, entre cem, têm armas, colocando os EUA no topo dos países com mais cidadãos armados do mundo.   
No nosso Brasil brasileiro idem: a intensificação da cultura do ódio, paralelamente à fama do criminoso em alguns minutos de exposição enaltecida pela mídia irresponsável, acaba contaminando o ambiente como se fosse algo normal. Aceita-se, inexplicavelmente, a banalização da morte.
Tolerar esta cultura sinaliza decadência e falta de liderança das sociedades em resistir e mudar. Agudas desigualdades sociais e econômicas e tráfico de drogas causam, obviamente, violência urbana, mas as autoridades fingem que não enxergam, desprezando outras soluções, como a criteriosa regulamentação do uso de drogas.

Como defende Ilona Szabó, coordenadora do Programa de Política sobre Drogas do Instituto Igarapé, reprimir o tráfico de armas e drogas não basta, nem tampouco a proibição do porte de armas. Mudanças corajosas de paradigmas na política de combate às drogas são essenciais para sufocar o bilionário poder de quadrilhas e cartéis e reduzir a violência decorrente do tráfico. Não enfrentar as causas da violência é simplesmente beneficiar, hipocritamente, o crime. 

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