Análise das últimas declarações de bens revela como o “liberal” Jair Bolsonaro enriqueceu com sua família mamando no poder público
Eduardo Bolsonaro, Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro (reprodução)
Marcos Sacramento, DCM
Dono de pautas genéricas e de apelo popular como “combate à corrupção”, defesa dos “valores cristãos” e de leis mais rígidas para punir criminosos, Jair Bolsonaro é ídolo de uma massa pouco instruída politicamente e revoltada com o que ele chama de “políticos tradicionais”.
Contudo, uma análise nas últimas declarações de bens do deputado federal indica que o maior compromisso do patriarca do clã político Bolsonaro é com a própria saúde financeira.
De acordo com dados do TSE, entre os pleitos de 2010 e 2014 a renda do parlamentar subiu 97%, já levando em consideração os efeitos da inflação sobre o valor declarado em 2010.
Em 2010, a renda por ele declarada foi de R$ 826.670,46. Quatro anos mais tarde, saltou para R$ 2.074.692,43, valor que inclui cinco imóveis, entre os quais dois que não constavam na declaração anterior.
São duas casas localizadas na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Uma está registrada com o valor de R$ 400 mil e a outra de R$ 500 mil, bem abaixo do preço médio dos imóveis na região repleta de mansões.
A diferença entre os valores no documento apresentado à Justiça Eleitoral e o preço de mercado é comum nas declarações de bens dos políticos e está dentro de legislação, que permite a declaração do valor constatado durante aquisição do bem, sem exigir a atualização nos casos de valorização.
Este detalhe não indica irregularidades por parte de Bolsonaro, embora mostre que na realidade ele é mais rico do que a sua declaração de bens deixa a entender.
Bolsonaro pode ser grosseiro e pródigo em soluções estúpidas para os problemas do país, mas de bobo não tem nada. Pelo que a evolução do seu patrimônio demonstra, ser o ídolo de uma multidão de marmanjos e de um punhado de mulheres é um excelente negócio.
Eleito vereador pelo Rio de Janeiro em 1988, no rastro da fama conquistada em reivindicações salariais para os militares, o capitão do exército não exerceu nenhum cargo fora da política dali em diante. Elegeu-se deputado federal em 1990 e não saiu mais da Câmara dos Deputados.
Fiel a ideais reacionários, não tem a mesma lealdade em relação aos partidos políticos. Começou no PDC (e nas derivações PPR e PPB), saltou por PTB, PFL, PP, PSC e por enquanto está no PEN, um partido nanico em vias de mudar o nome para Patriotas.
Um nome mais indicado seria Partido Bolsonarista Brasileiro, pois junto com o Jair estarão no PEN os filhos Carlos, vereador no Rio de Janeiro desde 2000, quando foi eleito aos 17 anos, Eduardo, deputado federal por São Paulo, e o primogênito Flávio Bolsonaro, deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Este último, aliás, tem um currículo que renderia milhões de memes para o WhatsApp se o seu pai fosse o petista ex-presidente da República. Eleito deputado em 2002, aos 21 anos, foi reeleito sucessivamente até hoje. Na primeira declaração de bens constava um patrimônio de R$ 25 mil, referente a um automóvel Gol 1.0 Turbo, ano 2001, para ser mais exato.
Quatro anos mais tarde, no pleito de 2006, seu patrimônio decolou para R$ 385 mil, ou 992% a mais, considerando a inflação no período. Sua renda continuou subindo, mas de forma menos brusca, chegando ao patrimônio de R$ 690.978,23 em 2010. Em 2014 o acréscimo foi modesto, ficando em R$ 714.394,69.
Mas a declaração de bens de 2002 dá uma pista de que o primogênito de Jair Bolsonaro já pagava suas contas graças ao poder público bem antes de se tornar deputado.
Na cópia do recibo da declaração de imposto de renda apresentada à Justiça Eleitoral consta, no campo “rendimentos tributáveis recebidos de pessoas jurídicas”, o valor de R$ 56.548,63 recebidos da Câmara dos Deputados no ano de 2001.
O montante, corrigido pelo IPC-A, equivale hoje a R$ 152.630,36. Dividindo a quantia por 13 (salários mensais mais 13º) daria uma renda mensal de R$ 11.740,79, formidável para um rapaz de 21 anos. Na sua página, Flávio Bolsonaro afirma que defende a “importância do trabalho e do mérito como mais justos critérios de progresso social”.
O único mérito visível, neste caso, é ser filho de um político histriônico e com produtividade parlamentar raquítica, cujas promessas rasteiras e irrealizáveis atingem diretamente o fígado do eleitorado ávido por um salvador da pátria.
De acordo com um relatório a respeito de Jair Bolsonaro elaborado pelo Exército na década de 1980, o então jovem oficial foi descrito como alguém com “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”.
As planilhas da Justiça Eleitoral e a prole desde cedo agarrada ao poder estão aí para comprovar o quanto Bolsonaro foi bem sucedido nos seus propósitos dos tempos da caserna.
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