Malu Fontes
Da série “catando a poesia que entornas no chão”
Estou na fila da livraria para comprar este livro da foto 1 e ouço, à minha frente, de uma senhorinha de uns 75 anos ou mais, cheia de livros nas mãos: “nunca voltes aos lugares onde fostes mais feliz, onde aprendestes a ser o que és. Nada mais vai estar lá e acharás que se enganou sobre a felicidade que sentiste”.
Não lia poesia, apenas falava dela mesma, da vida dela. Pelo desenrolar da conversa, saiu jovem de algum lugar onde nasceu e cresceu para vir cursar a Universidade em Coimbra e nunca mais voltou à terra da infância.
Começou a falar de Angola. Mas não ficou claro se referia-se ao país, antes colônia portuguesa, como o lugar dessa felicidade.
Mas o conselho dela vale para tudo.
Evite voltar aonde fostes feliz. Somos agora outra pessoa e o lugar também tornou-se outro. Nada nosso estará lá.
Felicidade está nos hojes, talvez nos amanhãs. Ontens são pura memória ou melancolia de algum lugar, de sensações que só sobrevivem na gente, não nos outros, nem nos lugares, nem em passados, esses buracos inexistentes no real.
A felicidade do passado é como aquelas árvores imeeeensas que temos no imaginário, as árvores das lembranças da infância. Voltemos lá e vejamos. São arvorezinhas minúsculas.
Na infância, éramos nós que éramos pequenos. E, pequenos, acreditávamos que eram enormes as árvores, os móveis, as coisas de nossos avós.
O tamanho da nossa felicidade do passado é sempre, hoje, do tamanho das árvores dos quintais de nossa vó.
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO. O texto é lindo, mas não concordo. É preciso enfrentar nossa memória, cuja tendência natural é de sempre embelezar o passado. Temos que ter a coragem de admitir que tudo evolui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário