sábado, 21 de abril de 2018

PALESTRINA, BACH, FAURÉ...

... E NOSSAS IGREJAS



Dos gregorianos a Stravinsky, a civilização ocidental produziu em quase dois mil anos obras-primas para todos os momentos do cristianismo. Qualquer que seja a opção espiritual do ouvinte, impossível não se comover com a beleza de uma cantata, réquiem ou oratório, sempre carregados de profunda interioridade. Impossível negar que se trata da mais alta e elaborada expressão musical do homem.

Aos vinte anos, estudante em Londres, já assumindo meu ateísmo, nunca porém deixara de me emocionar com a íntegra do Messias de Handel, fosse na Saint Paul ou no Royal Festival Hall, levantando-me como o resto da assistência no momento do Halleluiah.


Todo este preâmbulo para lamentar a mediocridade atual daquilo que costumo ouvir quando passo por templos, sejam católicos ou pentecostais, ou quando alguma procissão de Semana Santa desfila debaixo de minha janela. Parece um corpo do qual teriam retirado toda a estrutura óssea e musculatura, mole, desprovido da menor sombra de espiritualidade. Musiquetas bobinhas, feitas para serem cantadas ou tocadas sem esforço de concentração.


No fim do ano passado, graças ao empenho da produtora Eliana Pedroso, tivemos a oportunidade de iniciar uma tradição de concertos de música erudita nas igrejas do centro histórico de Salvador, como acontece em toda a Europa. Infelizmente tão dignificante proposta foi dinamitada pelo pouco entusiasmo do frei Marco da Igreja de São Francisco, sob pretexto de mudança de liderança. Quanta saudade do frei Lucas! Atitude similar teve o seu Denilson, responsável pela Igreja da Ordem Terceira de São Domingos de Gusmão, alegando importante trabalho da irmandade. Na catedral basílica, durante muitos anos, o padre Hans desenvolveu um excelente trabalho. Chegou até a encomendar um órgão na Alemanha. Mereceria um público maior não fosse uma evidente dificuldade de comunicação. Esperemos que algo mude após a reabertura da Sé.


Um projeto ambicioso de restauração do órgão da igreja de Nossa-Senhora da Piedade, coordenado por Eric Tapie, com tecnologia francesa, aval do arcebispo dom Murilo desde 2016 e da Fundação Gregório de Mattos, tão pouco encontrou o apoio necessário por parte de frei Ulisses, responsável pela Ordem dos Capuchinos. 
A proposta inclui a formação de mestres organeiros acoplada a um sistema sensorial para pessoas com necessidades especiais, como os autistas. O projeto deve estar a jazer numa gaveta do Ministério da Cultura.

Resta-nos aguardar o sábado após a Lavagem do Bonfim para apreciar a curiosa missa do século XIX, misturando barroco com romântico, erudito com popular. Ou ir a Minas-Gerias, grande celeiro de música barroca.
Em Salvador a música sacra vai mal, muito mal.


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Um comentário:

  1. Infelizmente só irá existir apreciadores de uma boa música,ou exímios músicos quando ocorrer uma evolução cultural neste País de semi analfabetos, mesmo no seio daqueles que se consideram cultos

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