A ESTUPIDEZ DO RACIALISMO

    Fabiana Cozza, cantora, mestiça (mãe branca e pai negro) renunciou a interpretar Dona Ivone Lara no Documentário que estava sendo produzido pelo Diretor Elisio Lopes Jr. A razão foram as duras críticas sofridas pelos racialistas do movimento negro que a acusava de ser "branca", ou de não ter a pele suficientemente negra para representar Dona Ivone Lara. 

Em carta, que é quase um manifesto ela afirmou de forma emocionante - "Renuncio porque falar de racismo no Brasil virou papo de gente "politicamente correta". E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias".

Na verdade Fabiana, esta é a memória da humanidade, pois não existe purismo racial, a não ser para os racistas. Tenho afirmado a algum tempo que o racialismo é uma estupidez. Conforta apenas o radicalismo pueril daqueles que não conseguiram entender a complexidade da vida e muito menos querem entender a generosidade da igualdade. O racialismo é a representação mais primitiva do ódio, da vingança e do revanchismo.

Conheço Elisio Lopes Jr, sua trajetória, sua luta e seu compromisso com o combate ao racismo e a promoção da igualdade. Mais que isto, conheço o rigor ético com realiza seus trabalhos. Por isto mesmo, nunca imaginei que ele seria vítima dessa barbaridade. Embora não conheça Fabiana Cozza pessoalmente seu gesto de renúncia revela sua grandeza e indignação, própria de quem possui caráter e compromisso com a vida.

Lamento profundamente que o racismo tenha nos levado para este caminho tão estúpido. Na verdade um beco sem saída. Espero, sinceramente, que tenhamos a lucidez para refletir sobre este equivoco monumental e assim não o repetir jamais.

Axé!

ZULU ARAUJO