quarta-feira, 18 de julho de 2018

O PRIMEIRO FILME ETNOGRÁFICO


Funeral indígena brasileiro: o primeiro documentário etnográfico da história? André Cabette Fábio 10 Jun 2017 (atualizado 17/Abr 17h59) Ritual dos Bororo foi registrado por Luiz Thomaz Reis em filme lançado em 1917


Cena do file 'Rituais e festas Bororo', de 1917

Lançado em 1922, o filme “Nanook of the North” retrata a busca por comida de um esquimó e sua família no norte do Canadá. A obra de Robert Flaherty mostra cenas de caça, construção de iglus e outras tarefas, e é frequentemente apresentado em faculdades de comunicação e antropologia como o primeiro documentário etnográfico da história. Ou, simplesmente, filme etnográfico, focado em retratar as práticas culturais de um povo em determinado período do tempo, em uma forma visual de antropologia. Contudo, um artigo publicado na edição de maio de 2017 na revista “Pesquisa Fapesp” aponta que desde a década de 1990 pesquisadores têm defendido que um filme brasileiro lançado em 1917 pelo major Luiz Thomaz Reis retratando indígenas da etnia Bororo no Mato Grosso pode ser o primeiro do gênero. Segundo a reportagem, o filme “Rituais e festas Bororo” passou a ser defendido como primeiro documentário etnográfico a partir de 1992, quando recebeu destaque do antropólogo francês Pierre Jordan em seu livro “Cinéma - Premier contact, premier regard”. Desde então, esse ponto de vista tem sido retratado em diversas referências acadêmicas francesas e brasileiras. Em fevereiro de 2017, pesquisadores de Universidade de São Paulo, Universidade Estadual Paulista e Universidade de Manchester defenderam esse ponto de vista em uma publicação de língua inglesa, a "Visual Anthropology”, no artigo “O primeiro documentário etnográfico? Luiz Thomaz Reis, a Comissão Rondon e a produção de 'Rituais e Festas Borôro' (1917)". O filme foi gravado por Reis durante sua atuação na Comissão Rondon, uma agência do governo brasileiro criada em 1907 para implementar um sistema telegráfico entre cidades do Noroeste do país. Ela foi comandada pelo marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que tinha ascendência bororo. Em seu trabalho, desbravou terrenos pouco explorados e travou contato com povos indígenas isolados. A equipe de Rondon coletava, em suas expedições, dados sobre topografia, zoologia, botânica e etnologia. Em 1912, o então tenente Thomaz Reis obteve uma permissão e criou a Seção de Cinematografia e Fotografia da Comissão Rondon. No mesmo ano, gravou sua primeira obra “Os Sertões do Matto Grosso”, em que registra o estabelecimento das linhas de telégrafo e a interação com os indígenas. Hoje, restam apenas alguns fragmentos do trabalho, de três minutos no total. Em 1914, Reis comprou novas câmeras na França, com Auguste e Louis Lumière, inventores do cinematógrafo no final do século anterior e pioneiros na área. Entre julho e outubro de 1916, registrou imagens de uma aldeia com cerca de 350 membros do povo Bororo que viviam a cerca de 100 quilômetros de Cuiabá, às margens do rio São Lourenço. Editado, esse material se tornou “Rituais e festas Bororo” em 1917. O filme tem duração de 30 minutos e está dividido em três partes. Há tomadas panorâmicas da região, mas o foco principal é nas diversas fases da cerimônia funeral de uma mulher, que dura mais de uma semana. Entre os trechos retratados por Reis estão uma expedição de pesca, a simulação da caça de um jaguar, danças com vestimentas tradicionais e uma sequência com o enterro do corpo da mulher enrolado em uma esteira. Exibido pela primeira vez no Brasil em 1917, a obra teve uma nova exibição em 1918 no Carnegie Hall em Nova York, durante uma viagem de Reis. Diferentemente do que acontece em “Nanook of the North”, Reis praticamente não registrou momentos em que dirigiu os indígenas para encenarem alguma atividade. A edição final inverte a cronologia de cenas do ritual, mas ele é retratado principalmente a partir de observações. Segundo dados do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena e da Secretaria Especial de Saúde Indígena relativos a 2014, os Bororo somavam naquela época 1.817 pessoas, concentradas principalmente no Mato Grosso. O vídeo de Reis faz parte do acervo do Museu do Índio, da Funai (Fundação Nacional do Índio), e foi disponibilizado pela entidade on-line junto a outras obras: 


A FILMOGRAFIA DE LUIZ THOMAZ REIS 

Os sertões de Matto-Grosso (1912) 

Rituais e festas Bororo (1917) 

Ronuro, selvas do Xingu (1924) 

Viagem ao Roraima (1927)

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