Cem anos atras foi assinado o armistício da Primeira Guerra Mundial, que pôs fim a quatro anos de uma guerra que parecia ser sem fim e matou milhões de seres humanos. Quando era criança, na Normandia, conheci um dos soldados dessa guerra, os poilus (“os pelados”) como eram chamados.
Nascido em 1898, Maurice Martin foi chamado para servir com dezoito anos no exercito francês. No final de 2016, foi gravemente ferido na terrível batalha de Verdun , que matou quinhentos mil soldados, e não podia ter filhos depois. Consequentemente, meus irmãos e eu se tornamos os netos de adoção dele e da sua esposa Flora. Todas as quarta feiras, almoçamos na casa deles, a mesma quiche de cebola, o mesmo bife com arroz, o mesmo iogurte caseiro, e a mesma torta de maçã.
Depois do almoço, como era poeta, músico e pintor, fazia para nos uma demonstração dos seus múltiplos talentos. E depois nos treinava na corrida, no futebol ou nos levava para fazer passeios na floresta atras da casa dele. Durante a segunda guerra mundial, incapacitado de participar no exercito, entrou na resistência francesa e lutou contra a ocupação dos nazistas. Nas celebrações comemorativas dessas tragédias históricas, saia com bandeira na rua e colocava no peito todas as medalhas que testemunham o serviço heróico dele, umas doze no mínimo.
Depois da guerra, abriu um armazém e acordava as quatro horas todos os dias para buscar os melhores produtos para sua clientela nas feiras e fazendas da região. Entrou no partido socialista com meu pai e participou de todas as derrotas eleitorais dele, não porque era socialista, mas porque gostava do meu pai.
Não conto essa historia só para resgatar a memória desse herói discreto, mas também para sugerir que nossos avos ou bisavós vivenciaram períodos mais cruéis do que aquelas que devemos enfrentar, não baixaram a cabeça, resistiram e no final venceram.
BERNARD ATTAL
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