Durante a
gestão do prefeito João Henrique, hoje varrido da cena política, o Porto da
Barra viveu um de seus piores momentos com a substituição das pedras
portuguesas por placas de concreto, sob o olhar indiferente do IPHAN.
A atual gestão
municipal está aqui para provar que a história se repete, sim, e a leitura
errada do patrimônio da cidade também. Com uma cegueira entusiasta, despoja as
tradicionais calçadas do Comércio e até amplos espaços em excelentes condições
estão sendo quebrados, como é o caso da Praça Marechal Deodoro, antigo Cais de
Ouro, que está sofrendo – termo bem adequado – inúteis obras de “modernização”
cujo único resultado será, além de mais impermeabilização da área, desperdiçar o
dinheiro dos contribuintes.
Foi
exatamente no meio destes deprimentes pensamentos que recebi da amiga
facebookiana Rita Ramos, baiana morando em Portugal, um fascículo intitulado
“Técnicas de calçada” editado em 2006. Para quem gosta de pedras portuguesas, se
trata de publicação essencial da história e das técnicas do empedrado.
“Em Novembro
de 1986, a Câmara Municipal de Lisboa preocupada com a perspectiva de perder a
arte de saber calcetar, decide criar a Escola de Calceteiros de Lisboa. A arte
de calcetar “ao quadrado”, o “desdobrar da pedra” e o “malhetar” são expressões
que a Escola de Calceteiros recupera numa profissão genuinamente portuguesa e
intimamente ligada ao nosso patrimônio cultural.”.
Resisto à vontade de
continuar copiando o texto que ilustra o empenho dos portugueses em manter sua
identidade em absoluta oposição a políticos tupiniquins cuja maior ambição é
plagiar o pior do american way of life.
Eis uma das mais óbvias razões da decadência do turismo e falência de nossa
rede hoteleira: o abandono de nosso patrimônio cultural. Ninguém vem à Bahia para um medíocre
faz-de-conta da Flórida.
Quando
começaram a esburacar o calçadão cuidadosamente mantido, com pedras portuguesas
e árvores de pau Brasil, do Trapiche Barnabé, expressei meu descontentamento
nas redes sociais e ameacei entrar com processo formal no Ministério Público. Fui poupado desta empreitada por um oportuno
recuo da prefeitura que agora se compromete a recolocar a calçada original e
respeitar o trabalho de recuperação do belíssimo imóvel, cuja parte mais antiga
data do século XVIII.
Devemos evidenciar que neste caso com em tantos outros –
inclusive do escandaloso roubo na catedral – o IPHAN, cujos funcionários são
pagos por nós, brilhou, mais uma vez, por sua mais total omissão. Esta instituição já foi essencial para a
preservação do patrimônio. É hoje mais um obsoleto cabide de emprego, começando
por seus superintendentes. Um título tão pomposo quanto oco.
Dimitri Ganzelevitch
sábado 17 nov 2018
jornal A Tarde
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