O diálogo abaixo aconteceu ontem, no meu galpão, quando um dos rapazes que trabalha comigo, que além de cenotécnico é excelente barbeiro, cortava o cabelo de um outro que também é meu colaborador. Ambos estudiosos, honestos e excelentes profissionais. A avó do rapaz cujo cabelo era cortado chegou para me ver, presenciou a cena e assim começou o diálogo. Os nomes foram mudados por razões óbvias:
Avó - Mas Danilo! Eu não falei a você pra não cortar seu cabelo desse jeito???
Danilo - Oxe minha avó, qual o problema?
Avó - Você sabe Danilo! A PM não está de brincadeira! Eu não quero ver você ser preso e morto, por acharem que você faz parte de alguma facção meu filho! (falando já em desespero).
Danilo - Eu sei vózinha! Mas a gente precisa viver!! Se eu deixar de fazer coisas que são normais e não têm nada a ver com o crime, pra evitar abordagem da PM, eu não faço nada!! Não é o cabelo minha avó, não é a marca da roupa. É a ideia que eles já têm de que na favela só tem bandido. Disso a gente não pode escapar!
Avó - Veja o que aconteceu com Pedrinho! Mataram o menino que mal saía de casa, achando que ele era bandido.
Danilo - Pois é vó, não adianta nem eu ficar dentro de minha casa. Pra eles, a gente já nasceu errado...
A minha tristeza foi tão grande que eu nem consegui dizer nada. Preferi respeitar a autoridade de uma avó tentando salvar a vida de um neto.
Aí você chega para dar sua opinião sobre racismo, o que é absolutamente normal, achando que a opinião de quem não vive uma desgraça dessa pode ser o nosso norte na luta contra o racismo institucional, que tem sobrevivido a todas as leis. E eu sou obrigado a aceitar e achar que você tem toda razão.
É isso mesmo produção??????
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