POR TRÁS DAS MÁSCARAS

Ygor da Silva Coelho

Confesso, não deixei de sair durante a pandemia. Tomei precauções, como uso de máscara, distanciamento, álcool gel e tenho passado um período na capital e outro no interior.

Neste tempo, observo o comportamento das pessoas diante da pandemia. Vejo que varia do incrédulo relaxado ao apavorado, que, de tanto medo, se torna cômico.

Alguns são amigos, daí os nomes fictícios. Mas qualquer semelhança com alguém que você conheça não é mera coincidência:

DIEGO e FRIDA: Acho que os dois já queriam se separar antes da pandemia. Agora estão em quartos isolados, quase não se vêem e, segundo a secretária Magdalena, vivem brigando pelo celular porque só um dos quartos é suíte. O risco de pegar o vírus não é fifity-fifity! Diego tem que sair do quarto para ir ao banheiro e Frida fica na suíte com todo conforto. Sendo uma defensora ferrenha das atitudes feministas, Diego acha que ela não pode ficar só no discurso.

- Cadê a igualdade de gênero? Diego vive a reclamar!

FILEMON e CELESTE: É um casal que também nunca viveu uma paz celestial. A vida dos dois sempre foi eterno arranca-rabo. Embora o nome Filemon no grego signifique "aquele que ama" não era isto que se via e sabia.

Moram numa confortável casa de dois pavimentos. Já usavam quartos separados, mas agora estão em andares diferentes, separados por uma laje e dois lances de escada. Filemon foi para o andar de cima, Celeste está no térreo. É ela quem recebe o delivery e, com uma cordinha, Filemon puxa a "quentinha" que vem da Cantina Volpi. Fonte próxima afirma que há três meses não se encontram frente a frente.

ERNESTO: Mora sozinho num condomínio de apartamentos. É outro de hábito radical e defende com garra o "Fique em Casa". Politizou a doença, é contra Ivermectina, Cloroquina, vacina, China... É contra tudo. Possuidor de um transtorno bipolar, tem momentos que supera o problema e se mostra descontraído, imitando Freddy Mercury (Ernesto costuma dizer que na juventude cantou com Raulzito e os Panteras). Mas na fase irritada, fala alto, bate portas e desacata o síndico do prédio! Pela bipolaridade, a gente tem dúvida se a mãe colocou o nome dele por causa de Ernesto Che Guevara ou Ernesto Geisel.

NAPOLEÃO: Apesar do número de infectados e das más notícias pelo mundo, Napoleão acha que a Covid é invenção comunista para quebrar a economia. Só usa máscara para passar nas barreiras sanitárias. Em geral, ela fica no queixo. Vai semanalmente à CEASA comercializar frutas e lá pegou o vírus. Mas, como tem uma saúde leonina, curou-se rapidamente e faz parte daqueles que acham que é só uma "gripezinha". Como bebe muito, meia garrafa de Riachão por dia, pode ser que o vírus não tenha sentido conforto em se hospedar num corpo impregnado de cachaça. Covid é vírus, não é burro!

MARY LOU

Você reconhece alguém chato pela fisionomia? Eu conheço logo pelo andar: Mary lou! Ai daquele que chamá-la ou escrever seu nome Marilu! Já brigou com o síndico por escrever Marilu num boleto do condomínio.

Mary Lou é uma Chatonilda. Mal educada, mal amada e que não se preocupa com nada além do seu quadrado. Sai cedo para passear com o cachorro, vestida com um tipo de escafandro para se proteger do vírus. Touca vermelha, máscara, "face shield" por cima da máscara, moleton, luva e uma coleira na mão, puxando o o cachorro.

Você só identifica que é a Chatonilda por causa do exagero das vestes. Debaixo de seu escafandro, Chatonilda se preocupa com o vírus e com a sua saúde. Não se preocupa com a saúde do cão e nem com o cocô que ele faz no passeio. Alheio!!

- Marilu! Marilu! Marilu! Chatonilda! Pronto!!!