sábado, 31 de outubro de 2020

O ENTERRO DO CONDE

 


Fora as aulas de literatura e redação, fui um péssimo estudante. Nunca gostei de colégio. Em contrapartida, como era prazeroso andar desde a calle Espartinas até o Liceu francês de Madri, logo após a Castellana, comendo cerejas compradas nos ambulantes! Em 1953, o bairro de Salamanca já era o discreto reduto dos afortunados deste mundo. A Espanha saia de uma terrível guerra civil e podiam ver-se marcas de bala em muitas fachadas. O povo era de uma pobreza cinzenta, a maioria andando de alparcatas de lona e corda, mesmo na neve derretida e suja de dezembro.

Com frequência, atravessava o jardim do Retiro até o museu do Prado. O acesso não era gratuito, mas poucas pesetas bastavam para penetrar num mundo mágico de silêncio e tesouros.

Os trágicos e floridos banquetes de Boticelli, a felicidade nas tapeçarias de Goya, o olhar distante da Dama de Elche, os retratos sem alegria de Velazquez, as luzes minimalistas de Zurbaran penetravam até saturação na minha retina sedente de beleza absoluta. Saia de lá embevecido.

Foi em Madri que vi e ouvi Louis Armstrong e Ella Fitzgerald, Duke Ellington e Josephine Baker, como também foi na capital espanhola que, assistindo ao London Festival Ballet, entrevi o rosto luminoso de Amália Rodrigues. Minhas falhas escolásticas seriam, por vias indiretas, fartamente compensadas.

Não esperei o fim do ano letivo. Mais importante era conhecer Toledo. Quando você for, vá de trem. A estação ferroviária na chegada, em estilo mudéjar, já é um monumento. O Alcazar não passava de um amontoado de ruínas. Brancas ruelas de barro achatadas pelo sol. Encontrei uma modesta pensão com forte cheiro a azeite mal refinado. Um quarto a la Van Gogh. Cama, mesa, cadeira. A comida? Quem, aos dezessete anos, se preocupa com comida? Tinha fome de descobertas. Em vez de dois dias, fiquei cinco. Da terra onde El Greco Doménikos Teotokópoulos escolhera viver, dizia-se “Um passado ilustre, um próspero presente e um futuro incerto”. No momento de minha estadia estava Toledo mais para presente incerto.

O “Guide bleu” - 732 páginas em papel bíblia -  detalhava o acervo de cada museu, cada altar de capela. Obediente, levava a sério minha condição de visitante. Foi assim que entrei numa antiga mesquita transformada em igreja e me sentei em banco desconfortável, sozinho, parca luz de velas, para mergulhar na dor dos familiares e amigos do conde de Orgaz que estava sendo enterrado naquele momento. Na adolescência, a realidade e o fabuloso ainda não têm fronteiras muito formais. Foi-me fácil penetrar na multidão do funeral, algures entre a matéria e o éter. O tempo suspenderia seu voo até sair do imenso quadro, me levantar e reencontrar a brancura da luz e o calor de junho.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 31/10/20

SERÁ UMA HISTÓRIA MAL CONTADA?

 

A história da Torre Pituba e o mar de corrupção que poderá afetar Jaques Wagner

Uma torre com 22 andares, 2.600 vagas de garagem, destinada a abrigar a Petrobras, por aluguel, por 30 anos, foi construída pela Petros – Fundação Petrobras de Seguridade Social, criada em julho de 1970, segundo maior fundo de pensão da América Latina. A Petros administra 39 planos de previdência complementar, oferecidos por diversas empresas, entidades e associações de classe, o que a torna o maior fundo de pensão multipatrocinado do país em patrimônio administrado, totalizando R$ 100 bilhões. Parte desta grana foi investida na Torre Pituba. O investimento daria retorno ao fundo, mas tudo se acabou. O prédio está sendo abandonado pela Petrobrás e o prejuízo da Petros será significativo. Graças à corrupção, muitos saíram lucrando com a torre. Só que a história está apenas começando.

A 56ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) em novembro do ano passado, numa sexta-feira (23) prendeu pelo menos 17 pessoas. Apelidada de Sem Fundos, a operação investiga superfaturamento no processo de construção da sede da Petrobras, em Salvador. O leitor deste portal não é muito afeito a notícias de corrupção, mas a situação é escandalosa. Proporcionalmente falando, é um dos esquemas de corrupção mais ousados. Segundo o MPF, a construção, orçada em R$ 320 milhões, custou mais de R$ 1,3 bilhão. Ou seja, quatro vezes mais. Foram presos o empresário Mário César, da OAS; o ex-secretário de Desenvolvimento Urbano no governo de Jaques Wagner (PT) e ex-diretor da OAS na Bahia, Manuel Ribeiro; e o ex-presidente da OAS, Elmar Varjão, dentre outros. O senador Jaques Wagner não está sendo investigado por ter foro privilegiado, mas o que foi revelado até aqui não demorará a tirar o sono do petista.

Segundo o portal O Antagonista, os empresários Mário Seabra Suarez e Alexandre Suarez agora são delatores. Eles fecharam com a força-tarefa do Paraná acordo de colaboração e narram, segundo o MPF, detalhes da engenharia criminosa que envolveu a construção da Torre Pituba, sede da Petrobras em Salvador. O empreendimento foi construído em meio a pagamentos de propinas de R$ 68 milhões pelas empreiteiras OAS e Odebrecht a ex-dirigentes da estatal petrolífera, do PT e do fundo Petros. Há ainda um terceiro delator. Trata-se de Marcos Felipe Mendes Pinto, filho de Paulo Afonso Mendes Pinto, empresário já morto que supostamente seria o responsável por pagar, junto de seu sócio, Mário Suarez, o pagamento de propina. Os acordos já foram homologados pela 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba. A Lava Jato aponta que houve fraude na contratação da empresa gerenciadora da obra (Mendes Pinto Engenharia), da responsável pelo projeto executivo

Em São Paulo, Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) João Vaccari Neto, foi presa temporariamente. Wagner Pinheiro Oliveira, ex-presidente da Petros e dos Correios, foi alvo de busca e apreensão no Rio de Janeiro. Segundo delatores da operação, a propina era embutida no valor da construção. Para os procuradores, as vantagens indevidas causaram “prejuízo expressivo à Petrobras, já que o montante de aluguel pelo qual se comprometeu e vem pagando é calculado sobre o valor total do empreendimento”.

Segundo revelou o jornal A Tarde, o esquema de contratações fraudulentas e pagamentos de vantagens indevidas ocorreram entre 2009 e 2016. De acordo com as investigações, Petrobras e Petros formaram uma suposta organização criminosa em conluio com outros dirigentes da estatal e do fundo de pensão. A Procuradoria da República aponta que, “em troca de vantagens indevidas”, inclusive para o PT, os procedimentos de contratação da empresa gerenciadora da obra – a Mendes Pinto Engenharia, da responsável pelo projeto executivo – a Chibasa Projetos de Engenharia, e das empreiteiras que ficaram responsáveis pela obra – OAS e Odebrecht, que participaram por meio da Edificações Itaigara, foram fraudados.

A Procuradoria relata que a OAS detinha 50,1% e a Odebrecht, 49,9% de participação no empreendimento. A investigação identificou que, para a contratação das empreiteiras, foram acionadas outras duas empresas – Carioca e Engeform, integrantes do cartel que atuava na Petrobras para apresentar propostas-cobertura no procedimento seletivo. A Lava Jato identificou dois esquemas simultâneos de pagamentos de propinas – que também foram relatados por colaboradores -, realizados pelas empreiteiras OAS e Odebrecht entre 2011 e 2016. De um lado, afirmam os investigadores, os executivos da OAS acertaram e distribuíram vantagens indevidas em percentuais de 7% a 9% do valor da obra. Os montantes foram pagos, em espécie e por meio de contrato fictício, aos dirigentes da empresa gerenciadora Mendes Pinto para que fossem repassados aos agentes públicos da Petrobras e aos dirigentes da Petros.

Segundo a Procuradoria, os pagamentos ocorriam em hotéis em São Paulo, na sede da OAS e em outros endereços já identificados e eram organizados pelos integrantes da “área de propinas” da OAS, por ordem dos principais dirigentes da empreiteira. Além do montante de 7%, de acordo com a Lava Jato, mais 1% do valor da obra da Torre Pituba foi destinado ao PT em repasses organizados pelo “setor de propinas” da empreiteira OAS e entregues, em espécie, por meio de pessoa interposta pelo tesoureiro do partido, João Vaccari, ou diretamente ao PT, por meio de doações partidárias ao Diretório Nacional. O Ministério Público Federal afirma que, além desses percentuais, outros “valores expressivos” foram destinados ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, por meio de contrato simulado com sua empresa, a D3TM.

A Lava Jato aponta que pagamentos em espécie foram dirigidos ao PT por meio de marqueteiro do partido e operacionalizados pelo “Setor de Operações Estruturadas” da Odebrecht, a área da empreiteira responsável pela distribuição de caixa 2 para o pagamento de vantagens indevidas. O dinheiro financiou as campanhas de Jaques Wagner, Dilma Rousseff e outros nomes do PT. Assim como a OAS, a Odebrecht também pagou propinas a Renato Duque por meio de transferências para conta no exterior de offshore controlada por operador que atuava para a empreiteira e que podia ser movimentada por executivo dela em benefício do ex-diretor, além de outros repasses a serem ainda rastreados.

A Operação Lava Jato afirma que a OAS e a Odebrecht distribuíram propina de ao menos R$ 68.295.866,00, “em valores históricos”, e que representam quase 10% do valor da obra. A investigação aponta que, para obterem ainda maior volume de vantagens indevidas, os envolvidos no esquema ilícito atuaram para que fossem celebrados aditivos ao contrato de gerenciamento, em favor da Mendes Pinto e ao contrato da obra, em favor da OAS e da Odebrecht (Edificações Itaigara), além de novo contrato de projeto executivo celebrado com a Chibasa.

“Isso implicou estrondoso aumento do valor do empreendimento, acarretando prejuízo adicional à Petrobras. Com os aditivos contratuais e novas contratações, o valor do empreendimento da Torre Pituba atingiu o montante de R$ 1.317.063.675,10, em valores corrigidos até novembro de 2018. É estarrecedor ver um golpe dessa magnitude aplicado não apenas contra a tão vilipendiada Petrobras, mas também contra todos aqueles que confiaram destinar suas economias de uma vida ao fundo de pensão, buscando, destacadamente, amparo na velhice por meio das aposentadorias. Atos de gestão fraudulenta como os revelados no caso da Petros são afrontosos à higidez do sistema de previdência complementar e comprometem gravemente a confiabilidade de seus investimentos”, afirma Isabel Groba Vieira, procuradora regional da República.





quinta-feira, 29 de outubro de 2020

SEM DESCANSO: A ENTREVISTA DE BERNARD ATTAL

 Sem Descanso: Uma entrevista com o diretor Bernard Attal




Em 2019, o diretor Bernard Attal apresenta “Sem Descanso” (CRÍTICA AQUI) no Festival do Rio. E conquista o Troféu Vertentes de Melhor Documentário (TRAILER AQUI), pela força e impacto de usar o cinema como propulsor de um diálogo. Em 2020, com oito meses de confinamento, o filme estreia nos cinemas, dia 05/11. Nosso site conversou com o realizador sobre cinema, política social e humanidade. Confira a seguir!

Preciso começar esta entrevista com uma pergunta padrão e protocolar: como surgiu a ideia do filme?

Foram vários fatores: primeiro, claro, a coragem do pai Jurandy que resolveu enfrentar as autoridades públicas para achar seu filho e os responsáveis por sua morte; depois foi o compromisso do jornal Correio de ajudar Jurandy a desvendar o caso e de assumir o papel investigativo do jornalismo, uma raridade hoje em dia; e finalmente foi o fato que Geovane foi assassinado a mesma semana que Michael Brown nos EUA e de ver que as duas sociedades, a americana e a brasileira reagiram de uma forma bem diferente. Fui no enterro de Geovane lá no interior, só tinha família, amigos, alguns repórteres. O estado não mandou ninguém para simpatizar com a dor da família. Nos EUA, milhares de pessoas seguiram o caixão do Michael, inclusive muitos formadores de opinião e artistas. Obama fez um discurso impactante. Quando voltei do enterro, com minha esposa e produtora Gel Santana, que foi criada perto do bairro da família do Jurandy, a decisão estava tomada. Precisávamos contar essa historia.

Seu filme gera o impacto da dor. O espectador sente o luto, a luta e a força de seus personagens reais. Como foi arquitetado o tom narrativo do documentário?

O principal objetivo era de não fazer uma obra sensacionalista, de não instrumentalizar a dor alheia. Nada se compara com a dor de perder um filho. Então, logo a ideia era de acompanhar a jornada do pai Jurandy e da família ao longo dos anos, não somente ao longo das semanas do drama. Por isso, gravamos esse filme entre 2015 e 2018. Poderíamos ter lançado esse filme um ano depois do drama, mas o preço seria sacrificar muitos elementos que analisamos no filme sobre as raizes da violência policia, sobre a cumplicidade da sociedade toda e sobre o fracasso da nossa segurança pública.

O filme venceu como o Troféu Vertentes de Melhor Documentário porque se apresenta como uma obra de diálogo. Qual foi pensada a mensagem inicial?

A mensagem inicial é que somos todos responsáveis por essa situação, não somente os policiais, o estado, mas também a justiça, lenta demais, os políticos que fazem o jogo da demagogia, e nos, cidadãos, que toleramos a violência do estado porque achamos que é um mal necessário para combater o crime.

No início da pandemia, falou-se muito que esta experiência traumática de perdas mudaria, humanizaria e sensibilizaria o ser humano. Hoje, oito meses depois de confinamento, percebemos que o indivíduo social está mais insensível, principalmente por nossos governantes. As vidas humanas tornam-se apenas estatísticas. Como você vê esse descaso compactuado e banalizado de que mortes acontecem “e daí?”? 

MAIS: 

https://l.facebook.com/l.php?u=https%3A%2F%2Fvertentesdocinema.com%2Fsem-descanso-uma-entrevista-com-o-diretor-bernard-attal%2F%3Ffbclid%3DIwAR34GsQ3z06VazijgqOVvB-5OG-uUb2zhNr2hIkzgWY5OlRtpFUJyspg7gQ&h=AT0m3LjfiQYPR_vY1XF0pTTqzF6X7oqpu8HH0SFq4PTUebAO3ZUkKGxDiHlEOkpgfzMnh89FWZNt65zsgcifWWIET7z7HtU0fUoIkFZirRPlZBmMHfNeYO2zo1AvbyLc8mIdV8a-FFuJPaTcC7mr&__tn__=%2CmH-y-R&c[0]=AT0czKXv5b-Z8e7uT3CsfNFaqUPwTWbjL2S4CZG2VRxQ4G4cn5RIyh-Uc9MZBP5jRtoxq-HNYUrEWj_T6dUk4Bvv7BQL0yTz-Srl_6BnnheBGFX7jNuvVQnsqH9RNvL4wesNxwduwnwigLDEEjmfQ5c4M1saX_KpjOWAF3r32a-Hr9y5njxYCQwoYkjxEiAJIynVsVC-Sy2T-oZaI3TFoeGUZHj8a_IsOAoW091QGbOSIR8




quarta-feira, 28 de outubro de 2020

UM PAÍS DOMINADO POR BOÇAIS

 Um País dominado por Boçais

Cláudio Marques




Quarentena – dia 218

Apoiador de Bolsonaro pediu que ele fizesse algo para controlar o preço do arroz. O “presidente” se aborreceu e retrucou de forma ríspida. Falou qualquer bobagem para seu seguidor.

Bolsonaro é um boçal. Um boçal que pensa em privatizar o SUS no meio de uma pandemia. Boçalnaro. Estamos em um país dominado por boçais.

Enquanto que a segunda onda do COVID-19 chegou com força à Europa e aos Estados Unidos, por aqui, o vírus deu uma pequena trégua. Números de mortes e infectados diminuiu. Bem no momento da eleição. Tempo de abraços efusivos, comer pastel na feirinha, colocar chapéu de couro na cabeça, entre outras coisas.

É verdade que todos nós estamos cansados das restrições impostas pela quarentena. São mais de oito meses inteira ou parcialmente fechados. Para quem pode, claro. A maior parte da população foi jogada às ruas logo de cara. Desde maio, muita gente teve que ficar amontoada em ônibus lotados e em frota reduzida. Ano de eleição, as obras não pararam e milhares de trabalhadores foram às ruas como se não houvesse nada de anormal. Centenas de milhares morreram. A imensa maioria, mortes evitáveis.

Um isolamento razoável no Brasil não durou mais do que duas semanas. Isso ajuda a explicar o número elevado de mortes. Nos EUA, aconteceu o mesmo. Nos dois países estima-se que o isolamento jamais passou dos 40%, enquanto que na Europa ficou em torno dos 80%.

Na China, mais de cinco milhões foram testados, recentemente, após uma única pessoa ter sido infectada. No Brasil, tivemos poucos testes e rastreamento raro. Discursos confusos dos governantes, o negacionismo de Boçalnaro… tudo leva a um comportamento arrogante por parte da população, que, à essa altura, se sente fora de perigo. Máscaras no queixo e na orelha estava na moda. Distanciamento foi outra coisa que nunca pegou, entre nós.

A falta de empatia pelo outro, é chocante. E tem se agravado.

Relato, aqui, três situações vividas nos últimos dias. Episódios que dão conta do grau da boçalidade que nos cerca. A terceira história é a pior de todas.

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Entrei no Uber e logo notei que o motorista não usava máscara. Perguntei se ele poderia colocá-la. Ele olhou para mim, indignado. Nada respondeu. O motorista deu início à viagem e seguiu. Pouco depois, eu pedi novamente que ele colocasse a máscara. O motorista balançou a cabeça de um lado a outro. Resmungou, disse que eu tinha batido a porta do carro com muita força. Eu lamentei, pedi desculpas. Reiterei o pedido para ele colocar a máscara. Ele fez que não ouviu e voltou a reclamar. Eu pedi que ele parasse o carro. Ele interrompeu a corrida. Eu desci e fiz denúncia à empresa.

Ok, vamos supor que o motorista estava em um dia ruim. Vamos à segunda situação, que envolve mais pessoas.

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Estávamos com saudades de ir à Ilha de Itaparica. Há muito não íamos. Como não temos carro, contratei um motorista e fomos todos: minha companheira, meu filho e eu.

Na entrada do ferry, escutávamos as instruções pelo alto-falante. “É proibido ficar sem máscara no ferry-boat”. “Estamos operando com número restrito de carros para evitar aglomerações”. Lá dentro, tudo ao contrário. Funcionários do ferry orientaram e ocuparam todos os espaços possíveis com os carros. Poucos frequentadores usavam máscara. Ninguém fiscalizando. Em certo momento, uma banda de forró surgiu. A galera se animou. Povo que não se conhecia se juntava, se pegava e dançava. Sem máscara, gel, distanciamento… coisas de outro mundo. Uma alegria bonita, mas totalmente fora de lugar. Fiquei de longe e vi as coisas rapidamente. Pensei em filmar, mas me senti muito mal. Voltei ao carro e ficamos fechados.

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No Porto da Barra, tem um estabelecimento que aluga pranchas, caiaques e canoas (surfi-ski). Um lugar com banheiro e armários. Eu costumava levar meu filho à escola e, depois, ia até lá, de bicicleta. Eu deixava minhas coisas no armário, nadava, trabalhava um pouco e depois voltava para pegá-lo. Com a pandemia, claro, tudo parou.

O Porto continua fechado até hoje, mas está livre para esportes aquáticos. Depois de pensar muito, resolvi ir um dia ao estabelecimento. Ao chegar, percebi que ninguém usava máscara. Perguntei ao jovem atendente se lá a pandemia havia terminado. Ele sorriu, me olhou sem jeito. Confirmou que ali, por ser local de esportistas, ninguém usava máscara. O dono do estabelecimento me viu e se aproximou. Alegre, ele estendeu a mão na minha direção. Eu estendi o cotovelo. Constrangido, ele disse “Você anda muito preocupado com isso”. Consternado, eu perguntei se não era para estarmos preocupados. Eu perdi um tio, vários amigos ficaram doentes e perderam pessoas queridas. Mais de cento e cinquenta mil mortos. A segunda onda se anunciando. Ele deu as costas. No caminho, ele soltou a pérola “O planeta está passando por uma limpeza genética”. Eu realmente não acreditei no que eu havia escutado e pedi que ele repetisse. Lá longe, ele falou em “limpeza energética necessária”.

Eu peguei as minhas coisas e fui embora.

O dono do lugar é jovem, forte, aparência bastante saudável. Pratica boxe, surf, surf-ski, a porra toda. Provavelmente, ele não vai passar pelo processo de “limpeza genética/ energética” que o planeta está vivenciando. A dor não é dele e ele não tem que se preocupar com isso. Talvez, ninguém importante para ele contraia o vírus. Então, tá tudo bem. O mundo dele vai ficar limpinho.

Para mim, nos três casos, estamos diante de um comportamento desprovido de inteligência mínima mesclado com sonora arrogância. Uma grosseira sem limites. É eugenista, mas com certa dose de ingenuidade bastante perigosa. É um tipo de nazismo pobre. A mais imbecil boçalidade se instaurou de vez nos trópicos.

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Em poucos dias, é bem provável que Joe Biden ganhe as eleições nos EUA. Não tenho nenhuma empolgação em especial por Biden, mas me anima muito que a principal referência da extrema-direita no mundo, Donald Trump, perca. Torço para que seja uma derrota retumbante, que ele se veja chutado do poder. Se der certo (oxalá, dará!), Boçalnaro começa a ter seus dias contados. Já durou demais. 

Está na hora de mudar o rumo, novamente.




UM MARQUÊS COMPLICADO!

 

Todas as figuras históricas têm os seus mistérios. Mas no caso de Sebastião José de Carvalho e Melo, um dos mais importantes governantes portugueses de sempre, há zonas de sombra que persistem, e que nos fazem perguntar: não terá o próprio pretendido manter esses mistérios?

1. A vida oculta

Um Secretário de Estado que veio do nada… Não há documentos que dêem conta do que fez Sebastião José antes de 1723, quando raptou D. Teresa de Noronha, com quem se casou, fugindo para Pombal. Um documento ligeiramente posterior dá conta de um pedido de promoção a oficial de cavalaria, o que comprova que esteve no exército. Alguns biógrafos do século XIX falavam de que se envolvia em pancadarias. Certo é que deixou Lisboa, em tensão com a família, e se refugiou primeiro em Soure e depois em Pombal.

O que levaria a um rapaz da cidade, crescido ao pé do Bairro Alto, a deixar tudo e a encafuar-se no campo? Em que histórias se terá envolvido? O próprio Sebastião José, tendo escrito mais tarde sobre tantos momentos da sua vida, ignora este. Não há – que tenhamos encontrado – testemunhos escritos sobre este período. Terá o Terramoto arrasado provas e histórias? Ou teria o próprio, mais tarde ministro omnipotente, destruído documentos?

2. As estranhas doenças

Era habitual na época, com a distância e a comunicação via cartas, que cada pessoa desse detalhadamente conta por escrito sobre o seu estado de saúde. Contudo, no caso de Sebastião José, as descrições e a gravidade das doenças são crescentes. Ocorrem sempre depois de períodos de intenso trabalho, envolvidas num imenso receio de falhar nas tarefas que lhe foram confiadas; crescem no largo isolamento, desdobram-se em sofrimento psicológico.

Longas e frequentes sangrias foram-lhe feitas várias vezes, devido a frequentes «defluxos» (como o próprio descrevia os corrimentos), febres, dores de garganta. Esteve à morte em Londres, em 1743-44, em Viena em 1748-49, em Lisboa em 1765-66. Mesmo assim sobreviveu aos seus irmãos, morrendo com 82 anos, provecta idade para o século XVIII.

Teria o Marquês de Pombal alguma secreta doença que no seu tempo não pôde ser diagnosticada? Ou seria apenas hipocondria? Uma outra hipótese: tratar-se-ia apenas das consequências de extremo trabalho? O mistério persiste.

3. Mulheres

Depois de raptar a primeira mulher, D. Teresa, doze anos mais velha, e de com ela viver aparentemente em harmonia, Sebastião José fica viúvo em Londres, em 1739. Apenas voltou a casar em 1745.

Entre as suas amizades londrinas, contava-se o escritor pornográfico William Cleland. E em Londres, e mesmo em Viena, enviava todos os meses uma ajuda a uma certa “Madame Bachelier”. Teria este homem alto, louro, bem-falante, embaixador de um rei prestigiado e rico, ficado solteiro durante tantos anos? Ter-se-ia envolvido com outras mulheres? Era sensível à beleza feminina, como atestam as suas cartas para Lisboa, admirando intensamente a rainha da Hungria, Maria-Theresa. Se o Marquês de Pombal era dado a aventuras, apagou-as o segredo.

4. Inimigos

Já no governo, foi vítima de três atentados contra a sua vida, e de uma orquestrada e crepitante campanha de difamação. Depois de chegar a Secretário de Estado do Reino (1756-1777) perseguiu os seus inimigos: o embaixador Encerrabodes por pouco escapou entre as suas mãos. Terminou com a Companhia de Jesus, e testemunhou pessoalmente junto da Inquisição para que fosse preso e condenado o jesuíta Malagrida.

Porém, durante mais de duas décadas de poder, afastou quem lhe fazia frente ou até sombra. Muitos foram presos, desterrados, muitas vezes sem conhecermos os verdadeiros motivos: o ex-colaborador Seabra da Silva, o Visconde de Vila Nova da Cerveira, ou até o Bispo de Coimbra. Já sem falar de milhares de jesuítas presos. O seu rancor, poderoso motor, tudo fez desaparecer.

5. A sua mãe

Que relação teve o Marquês de Pombal com a sua mãe? Sabemos que se opôs ao segundo casamento da mãe, e segundo alguns testemunhos chegou a vestir-se de preto e a dizer que a mãe tinha morrido. Não mais falou sobre ela. Entre ambos sobra apenas o fim de uma carta, em que a mãe lhe manda secos cumprimentos para Londres.

Como esta ferida fulcral foi um fantasma na vida de Sebastião José? Talvez cortando para sempre qualquer laço entre si e os outros, entre si e o mundo?

Há mistérios que até uma biografia da vida de um governante não consegue responder.

Há, contudo, outros que, soterrados nos arquivos, apenas aguardam para ser descobertos. Como outros que resolvemos nesta biografia, De Quase Nada a Quase Rei: como o Marquês foi o autor secreto de obras contra os Jesuítas, ou cartas de louvor a si mesmo; ou como beneficiou no cargo a seu favor.


Os Jardins e o Palácio do Marquês de Pombal, classificado como monumento nacional, é um exemplo do valioso património do século XVIII, cujo projeto é de autoria de Carlos Mardel, famoso arquiteto húngaro que teve papel privilegiado na reconstrução pombalina de Lisboa, aquando do terramoto de 1755.






terça-feira, 27 de outubro de 2020

NEGRO, POBRE E CUBANO...

                    CONHEÇA A BRILHANTE TRAJETÓRIA DE CARLOS ACOSTA



                 













ADIOS NONINO

A OBRA-PRIMA DE ASTOR PIAZZOLLA



A canção "Adiós Nonino", outra das mais conhecidas composições, foi feita por Astor Piazzolla em homenagem ao seu pai, quando este estava no leito de morte, Vicente "Nonino" Piazzolla em 1959[

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

É POSSIVEL SER POLÍTICO E HONESTO!

 Marcelo perdeu mais de um milhão de euros em rendimentos como Presidente


Presidente da República confirma que está a recorrer às poupanças. Ana Gomes é a candidata às presidenciais que tem o maior património. André Ventura tem as poupanças todas à ordem.



À entrada para o cargo de Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa declarava cerca de 395 mil euros brutos de rendimento anual respeitantes a 2014, dois terços dos quais como trabalhador independente: a actividade como jurista (que faz pareceres) e como comentador televisivo mais bem pago do país, na TVI. Tudo isso desapareceu com o novo cargo.


A última declaração de rendimentos entregue antes de assumir o cargo sugere uma perda potencial de rendimento bruto de 1,2 milhões de euros ao longo de todo o mandato. O Presidente, através de fonte oficial da Presidência da República, confirma "a redução significativa das suas poupanças, resultado de despesas pessoais e familiares". As poupanças de Marcelo caíram 142 mil euros entre a penúltima a última declaração de rendimentos e património entregues no Tribunal Constitucional. Questionado sobre se a questão financeira tinha sido ponderada na decisão de recandidatar-se, a mesma fonte oficial responde que "as questões materiais não são o que motivam as suas decisões, se assim fosse não se teria candidatado em 2015".  

A análise às finanças de Marcelo faz parte de um trabalho mais amplo na edição impressa da SÁBADO sobre as finanças de cinco dos seis candidatos conhecidos à Presidência da República: a lista inclui a independente Ana Gomes (que tem o maior património), André Ventura do Chega! (que admite não saber investir e tem todas as poupanças numa conta à ordem), Marisa Matias do Bloco (que melhorou muito a sua vida financeira em Bruxelas) e João Ferreira do PCP (que também beneficiou do efeito Bruxelas e é o único senhorio e dono de participações sociais entre os candidatos).


BENIN: UN MÉCÈNE FRANÇAIS

 Robert Vallois, collectionneur passionné et mécène de l'art africain



Il a offert un musée au Bénin et passe ses journées entouré de 800 statuettes du Congo dans son bureau du Quartier Latin: à 83 ans, le marchand d'art Robert Vallois vit ses passions comme un enchaînement d'heureux hasards.

Avec un collectif de marchands amis, il a monté le "petit musée de la Récade" (du nom des sceptres du royaume d'Abomey), au sein d'un centre d'art près de Cotonou. Ils ont donné l'argent pour sa construction et offert les récades royales qu'il abrite désormais. Le musée est ouvert depuis cinq ans et reçoit 500 visiteurs par mois.  

Robert Vallois et ses amis avaient acheté, notamment en ventes publiques, ces sceptres ayant appartenu aux rois d'Abomey.  

"C'est une initiative totalement impromptue, inorganisée, qui est partie comme ça", raconte-t-il, amusé, soulignant ses très bonnes relations avec ses interlocuteurs béninois.

"On a donné ce petit musée, on l'a garni. On n'a jamais parlé de restitution. C'est dans le droit fil de la pensée (de) maintenant mais on ne savait même pas à l'époque. On n'abordait pas ça comme ça".

"On l'a fait avec le coeur, pas la tête. On est tombé dans le bain béninois, bain d'un pays d'artistes. Ca n'a rien coûté à personne, à part à nous", dit-il, tirant sur un énorme cigare Havane. 

L'oeuvre de collection, insiste ce marchand rétif aux débats idéologiques, "appartient à tout le monde. Ça n'appartient pas à un peuple, pas à un Etat, c'est universel. Est-ce que c'est vraiment important de dire: +c'est à moi+? Est-ce qu'il y a des désirs de revanche en disant +ça a été pillé+? L'important, c'est que ce soit fait, montré et vu par le plus grand nombre."

-"Ma galerie me permet mes fantasmes"-

Le contraste est saisissant rue de Seine entre sa très chic galerie d'Art déco au rez-de-chaussée et son bureau encombré, en haut d'un petit escalier qui craque: "Ma galerie, explique-t-il, me permet mes fantasmes". 

MAIS:

https://actu.orange.fr/societe/culture/robert-vallois-collectionneur-passionne-et-mecene-de-l-art-africain-CNT000001ulBdK/photos/le-galeriste-robert-vallois-a-paris-le-21-octobre-2020-208ab6b98c0774544e42f6552c2ea7cb.html


terça-feira, 20 de outubro de 2020

CARTA AO IPHAN/BRASÍLIA

 Senhora Presidente,


O Coletivo dos Servidores do IPHAN vem encaminhar a Vossa Senhoria as ponderações de técnicos da Superintendência da Bahia acerca do projeto existente para a reforma do Solar Berquó, sede da Superintendência, na forma abaixo:



O Solar Berquó é um dos mais importantes remanescentes da arquitetura civil do período colonial no Brasil e um dos monumentos históricos mais representativos da cidade de Salvador.
Trata-se de um edifício da segunda metade do século XVII, de grandes dimensões, dotado de dois pavimentos e porão. Foi erguido no vale do Rio das Tripas, na parte baixa do Centro Histórico. Sua fachada principal está voltada para a pequena Rua Visconde de Itaparica e conforma o alinhamento do logradouro. Nos fundos, área voltada originalmente para o rio, existe um grande quintal com árvores frutíferas de várias espécies, o último quintal preservado em todo o Centro Histórico e quase a única área verde da região.
A área do quintal atingiu sua atual configuração no início do século XX, após a canalização do Rio das Tripas para a construção da Rua J.J. Seabra, que constitui o principal acesso ao local. O muro de alvenaria e o portão gradeado que separam o quintal do logradouro seguem o padrão formal dos muros de residências daquele período e se harmonizam com a arquitetura do solar, localizado ao fundo da área verde.
O Solar Berquó foi adquirido pelo IPHAN, para sede da Superintendência, na década de 1980. Seu restauro e adaptação à nova função, sob projeto do renomado arquiteto Diógenes Rebouças, foi uma obra-modelo, pela fineza da intervenção e pelo respeito às características arquitetônicas do monumento e sua ambiência. A garagem para os veículos oficiais e a guarita, necessárias ao funcionamento da sede, foram dispostas ao longo do muro, de modo a preservar a integridade do quintal, que teve as áreas verdes reforçadas com o plantio de vegetação arbustiva e de novas árvores.

Todo esse belo conjunto encontra-se hoje ameaçado pelo novo projeto de restauro proposto para o Solar Berquó, que prevê a demolição do muro e da guarita existentes para a construção de um novo acesso. Com uso abundante de vidro, este segue o modelo atualmente praticado em condomínios e shopping centers – uma estética incompatível com uma edificação histórica. Além disso, está previsto um aumento considerável e desnecessário dos espaços para a circulação de veículos, o que ocasionará a supressão de boa parte da cobertura vegetal. A garagem para os veículos oficiais será demolida e substituída por um novo edifício, a ser construído no centro do quintal. Isso comportará, além, do corte de diversas árvores, a perda da visibilidade do monumento, localizado nos fundos do terreno. Trata-se, portanto, de um projeto que compromete seriamente a ambiência do velho solar.
Outra questão que não está equacionada é a distribuição das funções no interior do edifício principal. O novo projeto prevê uma intensa ocupação do porão, área localizada abaixo do nível do Rio das Tripas, muito úmida e insalubre, que se alaga a cada chuva mais forte. Isso levará à perda de todo o mobiliário e equipamentos ali instalados, causando grandes e frequentes prejuízos, além de danos à saúde dos ocupantes. Está prevista, ainda, a transferência do Setor Técnico – que ocupa atualmente cerca de um terço da área do solar – para um edifício anexo a ser construído no terreno contíguo ao Solar Berquó, que não é de propriedade do IPHAN, nem tem aquisição prevista. No projeto proposto, multiplicam-se os espaços destinados a “secretárias”, “assessorias” e até mesmo “a definir” (denominações constantes das plantas), ao mesmo tempo em que a atividade-fim do órgão – seu Setor Técnico – fica sem espaço definido. Trata-se, portanto, de um projeto que não atende às necessidades básicas de funcionamento da Superintendência.
Outro ponto polêmico é a climatização do edifício, que exigirá a vedação de suas janelas. O Solar Berquó é um edifício com três lados livres, dotado de um pátio interno e de muitas janelas. Essa disposição lhe garante excelente ventilação natural, o que torna discutível a opção de climatizá-lo. Em tempos recentes, os protocolos de retorno ao trabalho presencial impostos pela pandemia da COVID-19 preconizam a preferência pela ventilação natural dos ambientes, como forma de garantir sua salubridade. Esse fato reforça ainda mais as dúvidas quanto à pertinência da climatização.
Pela importância das modificações propostas, o novo projeto de restauro tem um elevado custo de implantação. Apesar disso, não atende a certas necessidades básicas de funcionamento da Superintendência, como o espaço para o Setor Técnico. Mas o fato mais grave é que trará sérios prejuízos à ambiência, à visibilidade e à própria salubridade do edifício tombado.
É verdade que o edifício carece de obras de manutenção e melhorias, sobretudo das instalações elétricas, subdimensionadas para o uso atual. Mas, na expectativa de implantar, na íntegra, o novo projeto, o Superintendente vem postergando a manutenção básica, permitindo sua degradação.
Trata-se de uma casa extremamente agradável e adequada às necessidades da Superintendência. As melhorias de que necessita podem ser obtidas com um projeto de restauro bem mais simples, o que seria menos oneroso para os cofres públicos, e, ao mesmo tempo, mais respeitoso das características arquitetônicas e de ambiência do belo solar seiscentista.
Pelos motivos aqui expostos, solicitamos a REPROVAÇÃO e a REVISÃO do novo projeto de restauro do Solar Berquó.

Atenciosamente,

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DAVID ATTENBOROUGH E NOSSO PLANETA

DINHEIRO NAS NÁDEGAS, PÁTRIA NO CORAÇÃO

 Fernando Gabeira

Subiu ao poder um novo e caseiro método de desviar dinheiro público


Convivi cordialmente com Chico Rodrigues na Câmara. Assim como convivi com Bolsonaro e o próprio Severino Cavalcanti, inclusive depois de sua derrubada.

Uso pouco a expressão “baixo clero” ou mesmo “vale dos caídos” para designar aquelas fileiras numa zona de sombra no final do plenário.
Aprendi na cadeia, como se não bastassem outras experiências, a conviver sob o mesmo teto com pessoas que não escolhi. E aprendi também que alguns deputados simples e discretos tinham muito a me ensinar, como era o caso do piauiense Mussa Demes, que sabia tudo sobre política fiscal.
Bolsonaro nunca foi genuinamente contra a corrupção. Ele integrava o partido em que Paulo Maluf era um dos expoentes. Sua luta era basicamente contra a esquerda, e a corrupção só se tornou interessante para ele quando a percebeu como o ponto fraco do governo petista.
Chico Rodrigues de uma certa forma sabia disso. Num encontro com Bolsonaro, ele declara que o presidente soube encarnar o espírito do tempo, preencher essa lacuna de liderança, defender a família, dar exemplos para a juventude.
Traduzindo o discurso de Chico, ele estava dizendo para Bolsonaro: “Vamos nessa, irmão, é por aí que devemos seguir”.
O resultado não custou a aparecer. Chico era um grande companheiro. Elogiava Bolsonaro, empregou em seu gabinete o primo e amigo de Carlos e ganhou o cargo de vice-líder.
Quando o condecorou, Bolsonaro teve a preocupação de lembrar que Chico estudou num colégio militar. Ambos sabem que existe uma aura de seriedade em torno dos militares e querem tirar todo o proveito dela.
Bolsonaro e Chico são o novo poder. No passado, havia dólares na cueca; agora, a moeda na roupa íntima é o real.
Não sei se seria correto invocar Freud para explicar tanto dinheiro nas nádegas. De fato, o sábio austríaco associava o dinheiro a pulsões anais, mas o fazia de uma forma sofisticada. Freud tentava explicar relações obscuras, apontar as bases essenciais de relações que as aparências escondiam.
No caso de Chico Rodrigues, o exemplo é grosseiro e, por que não admitir?, até malcheiroso. Não se trata de uma substituição simbólica do dinheiro pelas fezes, mas sim de uma fusão concreta de uma equivalência metafórica.
O resultado é que Bolsonaro ficou com a retaguarda descoberta. Já estava após a prisão de Fabrício Queiroz. Fica cada vez mais evidente que subiu ao poder apenas um novo e caseiro método de desviar dinheiro público.
O episódio acontece uma semana depois que Bolsonaro afirmou que acabara com a Lava-Jato porque não há corrupção no seu governo. Na semana em que André do Rap foge para o Paraguai montado numa lei que Bolsonaro sancionou, apesar de, na campanha política, ter se declarado o único comprometido com a segurança pública.
A lei parte de boas intenções, mas foi elaborada pelos políticos, pensando apenas neles, sobretudo em ter um horizonte temporal de prisão preventiva para não caírem na tentação de delatar seus esquemas.
Disse que o André do Rap está no Paraguai porque é um lugar para refletir sobre o Brasil. Projetamos uma carga negativa sobre o Paraguai; uísque e cigarros falsificados, até os cavalos que disparam na largada e param subitamente chamamos de cavalos paraguaios.
Os deputados fizeram uma lei imprecisa, o presidente sancionou, um ministro do Supremo a aplicou cegamente, juízes deixaram de opinar, e a própria polícia, diante da libertação de um preso importante, não soube monitorar.
Esse episódio em si já bastaria para que se tivesse uma visão crítica do Brasil, a partir do Paraguai, que tanto subestimamos.
O que surgiu depois, para completar a semana, é chocante: um nobre senador, literalmente, enchendo o rabo de dinheiro.
Seria engraçado se o dinheiro não fosse destinado a atender às vítimas da Covid-19 e se este governo metido a sério não estivesse destruindo nossos recursos naturais num ritmo alucinante.
Isso só reforça o que escrevi há algum tempo: não há nada mais importante para todos do que combater Bolsonaro. Não estou propondo amar uns aos outros. Vamos sair dessa, depois conversamos, ou brigamos, se preferirem.

domingo, 18 de outubro de 2020

A HISTÓRIA DE ANDRÉ DO RAP

 Marcelo Godoy



O homem que enganou o PCC e o STF, André do Rap é um tipo raro de bandido, chefe de um grupo ousado que procura construir sua própria rede de distribuição de entorpecentes

A TV de 20 polegadas ficou para o detento Cássio Clay Pereira. Calça, quatro calções, duas blusas, dois pares de tênis, chinelos, duas toalhas, cobertor, duas fronhas, dois lençóis, quatro camisetas, travesseiro, revista, uma Bíblia e dois livros - A Vida de São Francisco de Assis e Sexo para Adultos, de Laura Muller. Tudo isso foi entregue ao preso Ronaldo Arquimedes Marinho. André Oliveira Macedo, o André do Rap, saiu só com a roupa do corpo da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na região oeste do Estado.
A doação dos bens que acumulou na prisão para os colegas de cela foi o último gesto do bandido ostentação, um ato de populismo carcerário do chefão do tráfico para sua clientela. De fato, ao deixar a penitenciária, André do Rap carregava só um envelope, onde havia seu alvará de soltura, concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) ao homem condenado a 25 anos de prisão por tráfico internacional de drogas. Eram 10h15 de sábado. Devia se dirigir, por ordem do STF, a um endereço no Guarujá (SP). Não foi. Desde então, está foragido.
A história de André do Rap, de 43 anos, é a de um tipo raro de bandido. Não por ter enganado a Justiça - como lembrou o presidente do STF, Luiz Fux. Mas porque foi acusado de enriquecer, passando para trás uma organização mafiosa, o Primeiro Comando da Capital (PCC), sem pagar com a vida por isso. Sua história é ainda a de um grupo que, primeiro, uniu-se à mais poderosa máfia da Europa, a ‘Ndrangheta, da Itália, para, em seguida, procurar construir sua própria rede de distribuição de entorpecente no Velho Continente. André do Rap e seu colega Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, tornaram-se os maiores barões da droga do Brasil.
O que lhes garante essa posição é o fato de serem os responsáveis pela Sintonia do Tomate, o setor do tráfico internacional de drogas do PCC. Primeira organização de tipo mafioso do País, a facção tem à sua disposição doleiros para mandar para o Paraguai e Bolívia o dinheiro recebido pelo embarque da droga no porto de Santos - principal centro da operação do grupo. O que poucos sabem é que o PCC entrou no radar da DEA (Drug Enforcement Agency, a agencia antidroga americana). Os investigadores americanos já detectaram integrantes da facção - “irmãos batizados” - em Miami, na Flórida, que começaram a operar uma pequena rede de distribuição de cocaína.
Mas não só. Policiais paraguaios, argentinos, britânicos, holandeses, espanhóis e italianos também buscam no Brasil informações sobre a atuação do cartel brasileiro da droga. Em 2016, a DEA convidou um investigador brasileiro para que fosse até os Estados Unidos falar sobre a facção. O homem esteve em seis estados americanos, levando informações para polícias estaduais e municipais. O convite surgiu pouco depois de o nome de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, passar a ser ouvido pelos americanos em investigações sobre as ramificações no Peru e na Bolívia do Cartel de Sinaloa, então a mais importante organização criminosa do México, sob as ordens de Joaquín “El Chapo” Guzman.
Vida loka e rap
Mas como foi que André entrou para o crime? Ele e Fuminho se conheceram na Baixada Santista. Fuminho permaneceu 20 anos foragido, antes de ser preso em Moçambique, em 2020, e extraditado para o Brasil em uma operação que por muito pouco não fracassou. Havia um plano de resgate do traficante que seria feito por seus seguranças - entre eles estaria supostamente um coronel das forças moçambicanas.
Nascido em Santos, em 1977, André do Rap cresceu em Itapema, perto da Favela Portuária, no Guarujá, no litoral paulista. Em 19 de setembro de 1996, foi preso pela primeira vez. Razão: tráfico de drogas. Tinha então 19 anos. Foi levado pela Polícia Militar ao 2.º Distrito Policial de Guarujá. Dali, foi transferido para a cadeia pública da cidade, de onde foi trazido para São Paulo, onde cumpriu a pena na antiga Casa de Detenção, no Carandiru, na zona norte. E lá conheceu o rap, que crescia entre um grupo de detentos, do qual saíram, por exemplo, os integrantes do 509-E: Afro-X e Dexter, então detidos no Pavilhão 7. O rap se tornava uma forma de expressão dos presos, que, ao mesmo tempo, achavam na música um caminho para deixar o crime.
Solto em 1999, André do Rap voltou a ser preso em flagrante e acusado do mesmo crime em 2003. Já havia então chamado a atenção da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), de Santos, que o indiciaria ainda em mais dois inquéritos nos anos seguintes. Foi durante essa nova prisão, de acordo com documentos da Inteligência Policial, que André foi batizado na facção criminosa. Era 13 de maio de 2005 quando o bandido se tornou integrante do PCC, dentro da Penitenciária de São Vicente, no litoral. Foi solto em abril de 2006, preso em 2007 e libertado outra vez em 2008.
Em liberdade, André passou a compor músicas. Começou com raps elogiando a “vida loka”, a cena do crime e a lei dos criminosos contra a “opressão do sistema” - parte de suas músicas até hoje pode ser encontrada na internet. Em uma delas, Impacto Total, André do Rap se dizia “um guerreiro armado e perigoso”, uma “mente criminosa da legião do mal”. Fazia músicas com os MCs Careca e Pixote, os chamados “guerreiros de Itapema”. Falava em dar “justiça” e que Deus abençoasse “os irmãos da correria”. “Não tem meio termo, quem corre no certo tá no bonde também.” André do Rap se dizia um vaso ruim de quebrar, sempre pronto para enfrentar os “gambé (policiais)”.
Nada diferente dos funks proibidões que assolam o Rio de Janeiro. O traficante começou - segundo a inteligência da polícia paulista - a ganhar fama e passou a promover bailes funks na quadra da escola de samba Amazonense, no Guarujá. Também passou a patrocinar um time de futebol, o MRF (Movimento Revolucionário Favelas), cuja versão musical seria o grupo ligado a André do Rap, a família MRF.
É dessa época a abertura da conta do Twitter de André do Rap - com apenas 16 publicações, 110 seguidores e uma foto do cantor com seus parceiros musicais. E assim ia a vida de músico de André, até que, em 2012, tudo começou a mudar na Baixada Santista. Seus conhecimentos com o pessoal da estiva - os trabalhadores do porto de Santos - levaram-no a se aproximar de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro.
Tráfico
Cabelo Duro e Fuminho estavam montando a estrutura do Tomate, quando convidaram André do Rap. Em pouco tempo, o tráfico internacional ia deixar os homens do Tomate milionários. Cabelo Duro, por exemplo, logo comprou uma cobertura duplex de 559 m² na Rua Torrinha, no Tatuapé, na zona leste. O imóvel, avaliado em R$ 3 milhões, tinha quatro vagas na garagem.
Carros importados e imóveis de luxo se tornariam uma constante do grupo. André do Rap, por exemplo, comprou uma lancha de R$ 6 milhões, um helicóptero de R$ 7 milhões e um Porsche - ele é alvo, por isso, de um inquérito por lavagem de dinheiro no Departamento de Operações Especiais (Dope), da Polícia Civil paulista. O enriquecimento de Cabelo Duro, André do Rap e de Fuminho chamou a atenção da facção paulista.
De acordo com a Inteligência da polícia, foi usando a rede do PCC para fins particulares que André do Rap e Fuminho ganharam muito dinheiro. O último se tornara sócio de Marcola. A facção então não contava com nenhum dos membros da chamada Sintonia Final, a cúpula da organização, em liberdade para fiscalizar “o proceder” de quem estava solto. Um delegado que trabalhava então na inteligência contou ao Estadão que os três - provavelmente, com o aval de Marcola - usaram aviões do PCC, rotas da facção e obtiveram o direito de comprar droga pelo preço e prazo de pagamento generosos oferecidos ao grupo pelos produtores de cocaína na Bolívia, no Paraguai e no Peru.
“Agiam como se o dinheiro da operação fosse todo para a facção”, confirmou o promotor Lincoln Gakyia, jurado de morte pelo PCC. Segundo a Inteligência Policial, os dois traficantes passaram a usar a estrutura da facção para negócios privados - assim, 50% da droga transportada até Santos passou a ser dos chefes do Tomate, e o dinheiro extra não entrava mais no caixa do PCC.
Gegê
Quando foi solto, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, então terceiro homem da hierarquia da facção, recebeu a missão da cúpula do PCC de fiscalizar os negócios da organização. Gegê sentiu cheiro de queimado justamente no setor do Tomate e resolveu enquadrar Fuminho, Cabelo Duro e André do Rap. O grupo se reunia, então, em um bar no Tatuapé, na zona leste, para acertar grandes partidas de droga - um negócio que movimenta cerca de R$ 800 milhões por ano.
Gegê proibiu que a estrutura da facção fosse usada para fins particulares. A disputa levaria ao sangrento acerto de contas em uma mata na área indígena do município de Aquiraz, na região de Fortaleza, no Ceará, em 2018. Ali Cabelo Duro executou Gegê do Mangue e Fabiano Alves de Souza, o Paca, outro líder histórico do PCC. A decisão de matar os dois - creditada a Fuminho - provocou um terremoto na facção que por pouco não tragou Marcola. É que Gegê era irmão; Fuminho não. E, portanto, não poderia ter decidido matar Gegê sem a concordância da cúpula.
Na época, Fuminho sugeriu que tivesse recebido o aval de Marcola. Mesmo assim, ele, Cabelo Duro e André do Rap tiveram suas sentenças de morte decretadas pela facção. Cabelo Duro seria morto uma semana depois, fuzilado diante de um flat no Tatuapé. Fuminho e André do Rap se esconderam até que conseguiram inverter a acusação e convencer a facção de que Gegê era quem estava roubando o caixa da organização. A sentença de morte foi suspensa, e ambos voltaram a atuar como antigamente, sem serem fiscalizados por ninguém da facção. “Eles ficam com a maior parte do dinheiro”, diz um investigador.
Prisão
Quando foi para o Dope, em 2019, o delegado Fabio Pinheiro Lopes, o Fábio Caipira, trouxe do Deic a informação, o fio da meada que o levaria ao traficante. Tratava-se da lancha que o bandido havia adquirido por R$ 6 milhões. A polícia sabia que o traficante faria contato por telefone para pedir que a lancha estivesse à sua disposição quando fosse para Angra do Reis (RJ). E assim foi. Quando o bandido ligou para que ela estivesse pronta, os policiais deduziram que André estaria na mansão que alugava por R$ 20 mil e o prenderam. Com o bandido do PCC, os policiais apreenderam ainda dois helicópteros.
É que André e seus principais colegas da facção sempre se movimentavam por meio de avião ou helicóptero para se manterem longe da polícia. Fuminho, por exemplo, usava seu avião particular quando precisava se deslocar do Brasil para Moçambique, onde mantinha negócios com o governo - uma de suas empresas produzia asfalto para o poder público. Era de Moçambique, na África, que Fuminho e André do Rap preparavam o segundo maior passo da história da facção. Eles queriam construir uma rede de distribuição de droga na Europa e, assim, se verem livres do pedágio que são obrigados a pagar para ‘Ndrangheta e para a máfia sérvia: 40% da droga enviada pelo PCC fica nas mãos dos mafiosos do Velho Continente.
O contato italiano dos chefes do Tomate com a 'Ndrangheta havia sido preso no Operação Overseas, da Policia Federal, em julho de 2019. Estava na Praia Grande (SP), o representante da máfia calabresa na América Latina: Nicola Assisi, o Fantasma da Calábria. O filho dele, Patrick, foi preso na mesma ação. Antes mesmo da prisão dos dois, o PCC já buscava o mesmo caminho trilhado pelo supernarcotraficante mexicano Miguel Ángel Félix Gallardo, de Sinaloa, nos anos 1980: controlar a distribuição da droga após dominar suas rotas de transporte.
André foi morar na Holanda e em Portugal para estabelecer contatos, antes de ser preso, em 2019. A ideia de se livrar do pedágio da ‘Ndrangheta incluía fugir do porto de Gioia Tauro, o maior terminal de contêineres do Mediterrâneo, na Calábria, na Itália, dominado pelos mafiosos. Com a prisão de André, Fuminho assumiu a tarefa de construir uma nova rota para pôr a droga na Europa ( € 35 mil o quilo) e, ao mesmo tempo, abrir outra, para a Ásia, um mercado em que o quilo da cocaína chega a valer US$ 100 mil.
É essa a tarefa que André do Rap deve retomar agora para a facção. Ele dizia aos colegas de cela - informação revelada pela TV Bandeirantes - que não ficaria preso até o Natal. Tinha razão. Ao deixar a P2 de Venceslau, no sábado, 10, foi recebido por seu advogado e, de lá, foi de carro até Maringá (PR), onde um avião o aguardava. Em um primeiro momento, os investigadores acreditaram que o bandido foi para o Paraguai, mas quem conhece de perto o xadrez da fronteira garante que André do Rap não vai se expor ao risco de permanecer no país vizinho - em um ano, três grandes traficantes do PCC foram presos no Paraguai. Os investigadores apostam que André deve se esconder na Bolívia, onde a instabilidade política favoreceria seus negócios. O barão da droga está tateando o terreno. E é atrás de um descuido dele que a polícia aposta suas fichas para tentar mandá-lo para a cadeia.