QUEIMA DE LIVROS NO BRASIL
Tudo indica ter sido minuciosamente planejado e não um ato espontâneo. Tinha toda uma organização bolsonarista por trás e não se descarta uma orientação partida diretamente do governo. Tanto que, mesmo com a gravidade do fato, o governo em nenhum momento se pronunciou.
Evidentemente, quem cala, consente.
Os autores do ataque insano justificam sua atitude no fato do escritor Paulo Coelho ter criticado algumas vezes o governo Bolsonaro.
Pretendem, com isso, deixar claro que qualquer resposta em casos como tais, para ter a devida repercussão, deve se direcionar não ao autor das críticas, mas a seus livros.
Vingam-se nos livros.
É um exemplo para que outras pessoas sigam o mesmo caminho. E qualquer escritor que se comporte como Paulo Coelho deve ter a mesma resposta. Enfim, foi um ato claramente inspirado no episódio de queima de livros de 1933, na Alemanha, prenúncio do que veria a ser a vitória do nazismo.
Mesmo que o governo não esteja diretamente envolvido no episódio, não há a menor dúvida de que ele foi inspirado nas condutas de Bolsonaro, que desenvolve uma política genocida para a cultura brasileira, com o objetivo de destruí-la.
É muita coincidência que, logo a seguir o Itamaraty tenha emitido ordem interna para que todas as embaixadas ataquem o ex-presidente Lula e defendam o governo Bolsonaro.
A ordem é espalhar este vídeo pelo mundo, num momento em que o país está completamente desacreditado. O maior sonho de Bolsonaro é transformar em crime qualquer crítica feita ao governo. E muitas ações judiciais de sua iniciativa comprovam este objetivo.
A Academia Brasileira de Letras e o Pen Clube do Brasil não podiam ficar calados diante da queima de livros de Paulo Coelho, que é membro das duas organizações. e emitiram notas oficiais contundentes contra o ato selvagem. Na primeira, a ABL conclui com estas palavras:
“Dar fogo aos livros traduz um símbolo de horror. Evoca um passado de trevas. Como esquecer a destruição das bibliotecas de Alexandria e Sarajevo, os crimes de Savonarola e as práticas do nacional-socialismo? O Brasil precisa de livros, bibliotecas e leitores. A linguagem do ódio é redundante e perigosa. Devemos promover, sem hesitação, os marcos civilizatórios e a cultura da tolerância.”
A segunda, assinada pelo seu presidente Ricardo Cravo Albin, finaliza com palavras de igual quilate, para conhecimento do mundo:
“Tanto a solidariedade a Paulo Coelho, integrante da Academia Brasileira de Letras e de clubes literários de todo planeta, quanto o gesto de usar a bastardia de tal censura, cujas origens medievais são sobejamente reconhecidas, não podem, em nenhum momento serem ignorados por nossa sede em Londres e por seus 200 clubes associados nos cinco continentes.”
PM,
Lisboa, 2 de outubro de 2020
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