quinta-feira, 29 de outubro de 2020

SEM DESCANSO: A ENTREVISTA DE BERNARD ATTAL

 Sem Descanso: Uma entrevista com o diretor Bernard Attal




Em 2019, o diretor Bernard Attal apresenta “Sem Descanso” (CRÍTICA AQUI) no Festival do Rio. E conquista o Troféu Vertentes de Melhor Documentário (TRAILER AQUI), pela força e impacto de usar o cinema como propulsor de um diálogo. Em 2020, com oito meses de confinamento, o filme estreia nos cinemas, dia 05/11. Nosso site conversou com o realizador sobre cinema, política social e humanidade. Confira a seguir!

Preciso começar esta entrevista com uma pergunta padrão e protocolar: como surgiu a ideia do filme?

Foram vários fatores: primeiro, claro, a coragem do pai Jurandy que resolveu enfrentar as autoridades públicas para achar seu filho e os responsáveis por sua morte; depois foi o compromisso do jornal Correio de ajudar Jurandy a desvendar o caso e de assumir o papel investigativo do jornalismo, uma raridade hoje em dia; e finalmente foi o fato que Geovane foi assassinado a mesma semana que Michael Brown nos EUA e de ver que as duas sociedades, a americana e a brasileira reagiram de uma forma bem diferente. Fui no enterro de Geovane lá no interior, só tinha família, amigos, alguns repórteres. O estado não mandou ninguém para simpatizar com a dor da família. Nos EUA, milhares de pessoas seguiram o caixão do Michael, inclusive muitos formadores de opinião e artistas. Obama fez um discurso impactante. Quando voltei do enterro, com minha esposa e produtora Gel Santana, que foi criada perto do bairro da família do Jurandy, a decisão estava tomada. Precisávamos contar essa historia.

Seu filme gera o impacto da dor. O espectador sente o luto, a luta e a força de seus personagens reais. Como foi arquitetado o tom narrativo do documentário?

O principal objetivo era de não fazer uma obra sensacionalista, de não instrumentalizar a dor alheia. Nada se compara com a dor de perder um filho. Então, logo a ideia era de acompanhar a jornada do pai Jurandy e da família ao longo dos anos, não somente ao longo das semanas do drama. Por isso, gravamos esse filme entre 2015 e 2018. Poderíamos ter lançado esse filme um ano depois do drama, mas o preço seria sacrificar muitos elementos que analisamos no filme sobre as raizes da violência policia, sobre a cumplicidade da sociedade toda e sobre o fracasso da nossa segurança pública.

O filme venceu como o Troféu Vertentes de Melhor Documentário porque se apresenta como uma obra de diálogo. Qual foi pensada a mensagem inicial?

A mensagem inicial é que somos todos responsáveis por essa situação, não somente os policiais, o estado, mas também a justiça, lenta demais, os políticos que fazem o jogo da demagogia, e nos, cidadãos, que toleramos a violência do estado porque achamos que é um mal necessário para combater o crime.

No início da pandemia, falou-se muito que esta experiência traumática de perdas mudaria, humanizaria e sensibilizaria o ser humano. Hoje, oito meses depois de confinamento, percebemos que o indivíduo social está mais insensível, principalmente por nossos governantes. As vidas humanas tornam-se apenas estatísticas. Como você vê esse descaso compactuado e banalizado de que mortes acontecem “e daí?”? 

MAIS: 

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