sexta-feira, 23 de julho de 2021

E POR FALAR EM TURISMO

 


No princípio do mês de julho, fui convidado para encontrar o novo Secretário Estadual de Turismo. Não sendo turismólogo, mas defendendo incansavelmente nosso patrimônio, achei interessante esta abertura de parte do Dr. Maurício Bacellar. O azar foi quebrar o fêmur dois dias antes da data marcada, cancelando assim um bate-papo construtivo para ambas as partes.

Supondo que o secretário teria pouca verba e menos tempo para desenvolver um programa ambicioso, resolvi mandar uma carta sugerindo divulgar os tesouros culturais e naturais do Recôncavo e melhorar a sinalização cultural de uma parte da Bahia origem da riqueza da primeira capital do Brasil. Afinal, temos muito mais a oferecer que praias e carnaval.

Refletindo sobre uma política de turismo que, ao meu ver, deveria priorizar a qualidade em vez da quantidade, bastou abrir minha janela no bairro de Santo Antônio para constatar como seria difícil seduzir o turista exigente se preservamos tão mal cinco séculos de legado histórico. A obra de requalificação do centro antigo a cargo do Estado, sob a responsabilidade da estatal CONDER, além de inacabada, é simplesmente desastrosa e as intervenções municipais só acrescentam mais mediocridade a um conjunto que o IPHAN, soberbamente, ignora.

De que adianta instalar hotéis de luxo (sic) se temos tão pouco a oferecer ao visitante mais exigente? Começando pelos próprios estabelecimentos que nada tem a ver com um Copacabana Palace, um Ritz, Plazza-Athénée ou Savoy.

Mas suponhamos que os ricaços árabes e russos, os Bill Gates, Rothschild e outros Buffet desembarquem. Alguém terá a ingenuidade de imaginar que se deslumbrarão com o Convento de São Francisco caindo aos pedaços ou a ilha de Itaparica cada dia mais favelizada? Isto é sem falar dos ambulantes e dos famigerados “pintores tribais”. Além de exigirem Chanel, Cartier e Armani a dez metros do hotel, restaurantes Michelin e bares sofisticados, onde estão as corridas de cavalos e Fórmula 1, festivais internacionais de música clássica e de ópera e as melhores companhias de ballet do mundo?

Nos contentamos com soluções paliativas paridas por políticos sem imaginação. Cachoeira poderia ser nossa Paraty. Em vez de implantar uma reserva ecológica no Recôncavo, é permitida a monocultura do bambu e o plantio do eucalipto, bem chamado de “deserto verde”.

Existe algum planejamento para evitar que nossas estradas se transformem em deprimentes suburbanas? Algum turista ficará seduzido ao viajar entre borracharias e lojas de material de construção? Quanto à nossa orla, é simplesmente um desastre. Tão desordenada que parece vítima de alguma praga.

O potencial da Bahia é considerável. Infelizmente muito menor que a falta de visão de nossos governantes.

Dimitri Ganzelevitch

A Tarde, sábado 24/07/2021

2 comentários:

  1. Por essas, e por muitas outras faltas de cultura das gestões estadual e municipal é que o heavy user do turismo em Salvador - para limitar espacialmente a crítica - são os hóspedes das pousadas-muvucas da Barra e dos hotelecos três estrelas que se anunciam como quatro. Salvador não tem hospedagem e muito menos oferta de produtos e serviços 5 estrelas. Nem os novos pretenciosos atendem ao turista que deixa seus euros no Rio ou em São Paulo.

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