No princípio
do mês de julho, fui convidado para encontrar o novo Secretário Estadual de Turismo.
Não sendo turismólogo, mas defendendo incansavelmente nosso patrimônio, achei
interessante esta abertura de parte do Dr. Maurício Bacellar. O azar foi
quebrar o fêmur dois dias antes da data marcada, cancelando assim um bate-papo
construtivo para ambas as partes.
Supondo que o
secretário teria pouca verba e menos tempo para desenvolver um programa
ambicioso, resolvi mandar uma carta sugerindo divulgar os tesouros culturais e
naturais do Recôncavo e melhorar a sinalização cultural de uma parte da Bahia
origem da riqueza da primeira capital do Brasil. Afinal, temos muito mais a
oferecer que praias e carnaval.
Refletindo
sobre uma política de turismo que, ao meu ver, deveria priorizar a qualidade em
vez da quantidade, bastou abrir minha janela no bairro de Santo Antônio para
constatar como seria difícil seduzir o turista exigente se preservamos tão mal
cinco séculos de legado histórico. A obra de requalificação do centro antigo a
cargo do Estado, sob a responsabilidade da estatal CONDER, além de inacabada, é
simplesmente desastrosa e as intervenções municipais só acrescentam mais
mediocridade a um conjunto que o IPHAN, soberbamente, ignora.
De que
adianta instalar hotéis de luxo (sic) se temos tão pouco a oferecer ao
visitante mais exigente? Começando pelos próprios estabelecimentos que nada tem
a ver com um Copacabana Palace, um Ritz, Plazza-Athénée ou Savoy.
Mas
suponhamos que os ricaços árabes e russos, os Bill Gates, Rothschild e outros
Buffet desembarquem. Alguém terá a ingenuidade de imaginar que se deslumbrarão
com o Convento de São Francisco caindo aos pedaços ou a ilha de Itaparica cada
dia mais favelizada? Isto é sem falar dos ambulantes e dos famigerados “pintores
tribais”. Além de exigirem Chanel, Cartier e Armani a dez metros do hotel,
restaurantes Michelin e bares sofisticados, onde estão as corridas de cavalos e
Fórmula 1, festivais internacionais de música clássica e de ópera e as melhores
companhias de ballet do mundo?
Nos contentamos
com soluções paliativas paridas por políticos sem imaginação. Cachoeira poderia
ser nossa Paraty. Em vez de implantar uma reserva ecológica no Recôncavo, é
permitida a monocultura do bambu e o plantio do eucalipto, bem chamado de
“deserto verde”.
Existe algum
planejamento para evitar que nossas estradas se transformem em deprimentes suburbanas?
Algum turista ficará seduzido ao viajar entre borracharias e lojas de material
de construção? Quanto à nossa orla, é simplesmente um desastre. Tão desordenada
que parece vítima de alguma praga.
O potencial
da Bahia é considerável. Infelizmente muito menor que a falta de visão de
nossos governantes.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 24/07/2021
Por essas, e por muitas outras faltas de cultura das gestões estadual e municipal é que o heavy user do turismo em Salvador - para limitar espacialmente a crítica - são os hóspedes das pousadas-muvucas da Barra e dos hotelecos três estrelas que se anunciam como quatro. Salvador não tem hospedagem e muito menos oferta de produtos e serviços 5 estrelas. Nem os novos pretenciosos atendem ao turista que deixa seus euros no Rio ou em São Paulo.
ResponderExcluirmuito triste........
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