Carlos
Zacarias de Sena Júnior*
A
semana que começou com Bolsonaro posando para foto com a deputada da AfD
(Alternativa para a Alemanha), principal partido da extrema direita alemã, que
teve a SECOM estimulando a violência no dia do agricultor, termina com a prisão
do ativista Paulo Gallo e sua esposa Géssica por envolvimento no incêndio da
estátua do bandeirante Borba Gato.
O
conhecido entregador antifascista assumiu seu envolvimento no incêndio.
Géssica, entretanto, foi detida não se sabe por qual motivo. Quer dizer,
considerando não existir também motivo algum para a detenção de Gallo, a
justificativa para as prisões só pode ser o aviso de incêndio, como metáfora do
risco do fascismo.
Impressiona
que o Brasil, que conheceu a democracia depois de mais de 21 anos de Ditadura,
tenha mantido de pé uma homenagem a um bandeirante a quem se atribui inúmeros
crimes. Do mesmo modo se admitiu que os símbolos da Ditadura permanecessem
intactos depois de 1988. Por conta disso não é incomum trafegarmos por vias que
têm o nome de generais, sentarmos em praças que homenageiam ditadores ou ter
nossos jovens frequentando escolas de quem trabalhou para a destruição da
educação. Há quem diga que essa onda de iconoclastia, se virasse moda, poderia
pôr abaixo as pirâmides do Egito. Bobagem! Ninguém que tenha se insurgido
contra estátuas de facínoras ignora a diferença entre civilização e barbárie.
Foi
por isso que Revolução dos Cravos erradicou as homenagens a todos que serviram à
ditadura salazarista. Do mesmo modo, não há referência a personagens do
nazi-fascismo nas ruas da Itália ou da Alemanha, mas isso não quer dizer que o
passado foi apagado, muito ao contrário. Pelo fato de que travamos no presente muitas
das batalhas que não puderam ser vencidas no tempo pretérito, toda forma de
monumentalização da história é o modo de afirmar princípios e expectativas
sobre o que somos e desejamos ser.
Estátuas não são
celebração do passado, mas o modo como cada presente representa a história. Num
tempo em que o presidente do país comete crimes a 3x4, e ainda posa para foto
com uma deputada neonazista, o que espanta é que haja gente como Paulo Gallo
com coragem para tacar fogo num símbolo da opressão.
O fato é que Paulo
Gallo cumpriu seu objetivo, que é o de provocar a discussão sobre o significado
da homenagem a alguém como Borba Gato. O exemplo poderia ser seguido em outros
terrenos, mas por ora quero prestar aqui minha solidariedade ao entregador
antifascista, reafirmando que, como historiador, trabalharei para que o
presente e seus personagens não sejam esquecidos. E se for preciso homenagear
alguém com estátua, que se faça isso em nome das vítimas do atual genocídio e,
sobretudo, dos que lutaram contra o morticínio e contra o fascismo.
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