domingo, 25 de julho de 2021

UM OCEANÁRIO NUM FORTE?


 Pensei que essa fase da municipalidade já tinha passado. Essa fase de decidir entre quatro paredes, de um pequeno grupo de tecnocratas que se acham habilitados a tomar decisões que dizem respeito à cidade como um todo.

Mas não. Parece que no breu das tocas algo malévolo está sendo urdido, burramente, para causar impacto político,sem que as variáveis condicionantes da transformação sejam discutidas abertamente pelos usuários,como (não) foi a ponte sobre a baía, da alçada do governo estadual e péssimo exemplo a ser seguido.

Refiro-me ao futuro de uma pérola da arquitetura militar. Simbolicamente, é na ‘Bahia’ de Todos os Santos que está um dos mais importantes, antigos e originais monumentos históricos do Brasil, do início do século 17:o Forte do Mar. Também chamado ‘umbigo da Bahia’,já é tempo do baiano olhar para o próprio umbigo e tomar ao pé da letra o apelido, ufanar-se, e isto sugere um panteão de glória.

Não há nesse pais um estado que reúna toda a importância histórica, desde a ‘descoberta’, a chacina dos índios, (nunca homenageados)a escravidão ( poética de Castro Alves), a economia do açúcar e do fumo(a arquitetura dos engenhos, capelas e sobrados)a luta pela independência(o Dois de Julho) e o período áureo e atual do reitorado de Edgar Santos. E tantos e tão grandiosos nomes na arte e na cultura.

Em artigo anterior identifiquei essas figuras e concluí fechando com chave de ouro: uma santa! Só na Bahia, já escreveu Mangabeira premonitoriamente, que teve seu nome usurpado por uma marca de cerveja! Ah, governos indecentes!

O novo design supõe a mescla de atividades lucrativas nas artes e no turismo: sua vocação natural sendo o mar e a navegação, tem pontos de atracação e observação fantásticos, dia e noite, para o frontispício da cidade da Bahia.

O Forte teria em seu entorno a marina pública, uma vitrina permanente da cultura e das belezas geográficas do nosso estado. Pode ser em si mesmo um ‘big data’ integrado a um espaço de fenomenal arquitetura, que vai lidar com a problemática do mar e da baía, síntese do contemporâneo e do antigo, com essa temática:

As origens do próprio forte passando pela ocupação holandesa, sua história é a vocação primitiva desta cidade para a defesa de um território nacional.

Mostra da cultura lítero-artística da Bahia: o saveiro na BTS, a origem indígena da canoa...

Um museu ‘ao mar livre’: submerso e conectado a um observatório de preservação do mar...

Um centro de hotelaria mundial, um hub digital, uma prefeitura da BTS com seus 17 municípios. Tudo junto. Para isso há espaço, mas não há espaço para peixes presos em aquários, zoológico é uma das práticas mortas pela Internet.

A ligação desse forte com a Bahia e a baía é inconteste e jamais deveria ser facultado a uso que não seja rigorosamente planejado e discutido.

A insistência numa destinação insensata encontrará resistências intelectuais e políticas intensas. Lembrem-se que balas de canhão já partiram do Forte em direção à praça municipal...

LOURENÇO MUELLER

 

Um comentário:

  1. Nenhuma surpresa. O retrocesso também é intelectual. Falta também cultura e informação aos gestores que são eleitos. O parâmetro utilizado no tratamento do patrimônio histórico e em obras públicas é o da cafonice burra.

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