Desejo aos criadores todo o sucesso do mundo nesta nova empreitada, embora ache que eles não terão vida fácil pela frente. Certamente, os monopolistas da verdade e da virtude vão fazer de tudo para melar o empreendimento.
"... as universidades americanas ... tornaram-se centros de replicação acrítica de “verdades” tomadas por religiosas, segundo as quais os “pecados originais” que dividem a humanidade são ligados à raça, gênero, orientação sexual e qualquer outro elemento que componha a identidade; pressupostos cuja inquestionabilidade afasta a prática científica e a defesa da verdade. Em meio à Idade das Trevas do ensino superior, abundam cancelamentos absurdos que atingem conservadores e progressistas que ousam questionar o dogmatismo pós-moderno.
Ainda que de forma germinal e, por enquanto, restrita aos Estados Unidos, a última segunda-feira, 8, trouxe uma boa notícia para os defensores da liberdade de expressão no ensino superior. “Estamos cansados de esperar que as universidades americanas consertem a si mesmas. Por isso vamos criar uma nova”. Com esta declaração via Twitter, foi anunciada a criação da Universidade de Austin (UATX), no estado americano do Texas. O primeiro texto sobre a instituição, escrito pelo ex-presidente da St. John’s College e futuro presidente da UATX, Pano Kanelos, foi publicado na newsletter da jornalista Bari Weiss, ex-editora de Opinião do The New York Times.
O quadro de conselheiros da universidade, do qual Weiss é membro, é de fazer inveja às outrora prestigiosas instituições da Ivy League. A UATX conta com figuras do calibre do psicólogo e linguista Steven Pinker, a bióloga evolucionista Heather Heying, o cientista social Arthur Brooks, a professora de filosofia Kathleen Stock, o geofísico Dorian Abbott e o professor de filosofia Peter Boghossian.
Também integram o grupo o ex-presidente da Universidade de Harvard Larry Summers, o psicólogo e fundador da Heterodox Academy, Jonathan Haidt, o economista Glenn Loury - o primeiro professor negro a ter uma cadeira titular de economia em Harvard -, o historiador Niall Ferguson, o jornalista Sohrab Ahmari e a ativista Ayaan Hirsi Ali. O que estes nomes têm em comum, além do vasto conhecimento em suas respectivas áreas? Todos são devidamente “cancelados”.
“Nossos alunos serão expostos à sabedoria mais profunda da civilização e aprenderão a enxergar nestas obras não meras tradições mortas, mas conteúdos de significado atemporal que ajudam os seres humanos a distinguir entre o que é verdadeiro e falso, bom e mau, belo e feio. Os alunos verão o livre questionamento como uma atividade vital que exige deles uma busca corajosa, às vezes desconcertante, por verdades permanentes”, diz o artigo de Panelos. (...)
Para Ayaan Hirsi Ali, a Universidade de Austin é o símbolo da renovação: “Por muito tempo, observamos as universidades sendo desfiguradas, felizmente sem saber que tudo o que precisávamos fazer era criar a nossa. Esperemos que este seja o início de um novo Renascimento”, escreveu a ativista.
Trata-se, de fato, do primeiro empreendimento promissor na área desde a criação da Heterodox Academy de Jonathan Haidt, organização sem fins lucrativos que premia universidades realmente capazes de celebrar divergências. Na terra natal da cultura “woke” - termo que designa os “canceladores” associados às pautas identitárias -, seus opositores começam, finalmente, a se organizar contra a “religião” da forma mais proveitosa possível: reunindo vozes ponderadas, qualificadas e diversas sob a bandeira da liberdade. Resta esperar que seus resultados sejam abundantes e, a exemplo das teorias progressistas, exportados para o Brasil."
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