Cientistas
afirmam que o homem que chegará aos 150 anos já nasceu. Como ninguém sabe quem
é, vejo uma inegável possibilidade de ser minha augusta pessoa. Por favor, dispenso
a risada. Não é que tenha uma vontade louca de arrastar minhas pelancas por ainda
mais de sessenta anos. Basta ler “Todos os homens são mortais” de Simone de
Beauvoir para pedir descanso. Mas porque não investiria na fantasia? Resolvi,
portanto, oferecer aos meus amigos o mais belo sorriso, entregando os maxilares
ao Dr. Jovan. Competente e comunicativo. Recomendo. Vai demorar um tempão,
certo, mas já adivinho a extasia das multidões frente a um clone do Alain
Delon.
Agora vem a
parte problemática da empreitada. Para ir de minha casa no bairro de Santo
Antônio até o consultório, junto ao Campo Grande, costumo chamar um Uber.
Às vezes vem
ligeiro, outras vezes desiste, sem explicação, no meio do caminho. Um me pede
R$11,00, outro R$17,00 pelo mesmo exato trajeto no mesmo horário sem engarrafamento.
Freud explica? Levo na esportiva, estilo roleta-russa. Na vida a gente nem
sempre ganha.
Muito pior é
o táxi. Exemplo: no sábado 30 de outubro, ao sair do consultório pelas onze
horas da manhã, avistei um, parado na sombra acolhedora da rampa do Hotel Wish,
ex-da Bahia. Matrícula na porta: A-3622. Respondeu sem pressa a meu sinal.
Entrei. Bom dia, nem pensar.
Estranhei a
bandeira 2. Respondeu é assim.
Sendo de
natureza cordial, sempre bato um papinho com o motorista. Nada demais. O calor
está chegando, mormaço, estas coisas. Não arrisco paraíso fiscal, genocida,
Amazonas, por razões evidentes. Com o cara do Wish, nem me aventurei. Silêncio
sepulcral. Chegando à ladeira do Boqueirão, o taxímetro marcava R$24,00. Dei
uma nota de R$50,00. O homem me devolveu R$22,00. Reclamei. Se fez de surdo. Foi
uma dificuldade conseguir as duas notas de R$2,00. Ainda bem que a rua está
movimentada, pensei ao sair do carro.
Não sei qual
seria sua reação, mas eu odeio que me façam de otário. No computador, procurei
algum órgão para dar queixa do elemento. Nada fácil. Da Semob, caso você também
precise, nem tente usar os endereços e-mail divulgados. Não existem ou não
funcionam. Finalmente consegui mandar a queixa à ouvidoria da Semob. Até a data
de publicação deste meu desabafo, ainda não obtive a mínima resposta. Em
contrapartida a gerência do Hotel Wish, a quem mandei cópia, respondeu
imediatamente.
Cada leitor
terá alguma história parecida para contar. Salvador sofrendo doença de cidade
grande. Mondo Cane, alguém se lembra do filme? Estamos perdendo a gentileza, o
sorriso, o rito sagrado da hospitalidade. Braços abertos não seria hoje mais
que um chavão sem sentido?
E ainda
pretendemos ter uma cidade projetada para o turismo.
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 13 de novembro 2021
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