Ás vezes tenho o complexo de ser um velho chato resmungão, sempre criticando tudo, e que para me aturar só sendo santo.
De repente, em março de 2020, apareceu esta pandemia que iria virar o mundo de cabeça para baixo e mais, no meu caso, quebrei o fêmur ao tentar entrar na rede (que é com certeza uma das maiores invenções, com a roda, do homo sapiens).
E não é que então começou uma ciranda de amigos me mandando, ou até levando pessoalmente, queijos e frios, vinhos, bolos e tortas, livros e revistas?
Durante mais de um ano foi praticamente um Natal a cada mês.
Entre os que mais se lembraram de mim, o Ademir, dono do restaurante D´Venetta, que vez ou outra mandava deliciosas moquecas, maniçoba - muito melhores que em Cachoeira - e hoje... um efó!
Anos que não comia efó. Desde que deixei de frequentar as festas de largo, deprimido pela padronização das barracas. Lá reinava sem a menor contestação possível a Barraca da Índia. E a Índia fazia um efó que deixou saudade...
Até o Ademir bater, hoje, a minha porta!
O efó origina-se do étimo iorubá Ɛ`fó e é considerado um prato afro-brasileiro/afro-indígena. No candomblé ketu, é uma das comidas oferecidas a Nanã e Omolu, orixás associados à ancianidade acolhedora. Omolu é o pai que cuida dos doentes, dos desprotegidos e, em sua homenagem, é realizado o ritual do Olubajé. Nesse dia, um banquete é oferecido com a comida de todos os orixás. As porções de cada comida são servidas em folhas de mamona e o Olubajé é tido como um ebó (uma oferenda) para a saúde.
Segundo Vilson Caetano Junior, a partir de informações do professor de grego Vilhena, o efó e outras iguarias (acarajé, caruru, acaçá, etc.) já eram vendidas nas ruas de Salvador por africanas desde o final do século XVIII, ao lado de bebidas como o aluá. Manuel Querino incluiu a comida na lista dos alimentos puramente africanos e William Bascom confirmou que, na África Ocidental, efó é o nome genérico dado a qualquer ensopado preparado com folhas.
Na Bahia, as folhas mais utilizadas para fazer o efó são: língua de vaca, taioba, mostarda ou espinafre (cortadas, fervidas e escoadas previamente). No tempero da comida vai camarões secos, cebola, pimenta, sal e azeite de dendê. Para Manuel Querino, “Prepara-se também o efó com peixe assado, ou com garoupa, caso em que esta é cozida à parte. Ainda mais: como o peixe é assado sem sal, ralam-se os respectivos temperos, em quantidade suficiente e leva-se tudo ao fogo”. Vivaldo da Costa Lima, ao analisar as comidas informadas por Olga do Alaqueto, diz que obé euê é o iorubá para “caruru de folha” e que “Olga chama a língua de vaca “euê malu”, vertendo o nome brasileiro da folha, língua de vaca, com o termo iorubá “malu”, que é boi, vaca, em iorubá”.
A principal diferença entre o caruru e o efó é que um é preparado com quiabo, enquanto o outro é feito com folha. Com o passar do tempo, infelizmente, o efó tornou-se uma comida “esquecida” pela população soteropolitana/baiana, sendo dificilmente encontrado nos dias de hoje, apenas em alguns poucos restaurantes ou casas de família que conservaram o preparo dessa iguaria.
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