Ygor da Silva Coelho
Cumprindo a minha rotina anual de exames fui ao Instituto de Urologia, em Salvador. É curioso observar a diferença entre uma clínica que atende em sua maioria homens e uma clínica de mulheres. Na clínica masculina ninguém conversa, alguns homens olham o celular, outros fazem que lêem uma amarrotada revista Veja de 2017 e outros cochilam. Ninguém sorri, nem troca informações. A secretária chama o próximo:
- Sr. Anfilófio! Sala 3!
Desconfio que até os nomes eles inventam, usam pseudônimos para passar no anonimato. Não é possível que aquele moço bonito, bem vestido, com pinta de Fábio Júnior quando era jovem, se chame Anfilófio!
Minutos depois, Anfilófio sai sem olhar para trás, levando um pequeno isopor. Outros já saíram com isopor. Fico intrigado e pergunto baixinho à secretária:
- Norma, o que tem nesse isoporzinho que o pessoal leva? Um brinde?
Com a voz alta, Norma responde, como se fosse uma coisa normal:
- Remédio para disfunção erétil, tem que manter no gelo! Trouxe o seu isopor?
- Psiu, Norma! Oxente! Não vim aqui pra isso!
Assim é a minha clínica urológica: silenciosa! Mas como eu tenho três filhas, quatro netas, uma mulher, uma sogra e duas funcionárias (somou? é melhor nem totalizar! haja paciência!), vez por outra tenho que conduzir alguém a uma "clínica da mulher". Seja para levar um cartão, a chave do carro ou qualquer coisa assim. E vejo como é diferente a clínica feminina. Todas as mulheres falam! Em dois minutos, sei quem tem mioma, o tamanho e a localização!
Às vezes quem mais fala é a secretária. Acho que, para mostrar a importância do patrão, cita famosos que passam lá:
- Não se preocupe, Jenniffer! Que bobagem! Cláudia Leitte tinha um problema deste seu! O doutor resolveu tranquilamente! Ah, Claudinha... que amor! Esteve aqui ontem. Claudinha interrompe qualquer tournée e vem no seu jatinho se consultar com o doutor... Um amor de pessoa!
Jenniffer, impressionada, interroga a secretária:
-Cláudia Leitte é paciente do doutor?!
-Sim! Ivete também!
Saio imaginando a diferença entre as clínicas do homem e da mulher e achando que a secretária mente!
Confesso, eu prefiro o silêncio da minha clínica urológica. Outro dia encontrei Carlinhos Almeida, dono de uma barraca de praia na Ilha de Itaparica:
-Oi, Carlinhos! Você está por aqui?
- Vim buscar os resultados do meu pai!
Carlinhos também mentiu! Seu pai, o saudoso Antenor Almeida, cacauicultor das antigas, contemporâneo de Jorge Amado, já é até nome de rua em Ilhéus! E pra que o isopor?
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