Marquei presença no ato de Justiça por Moïse. Aqui em Salvador, ocupamos o adro da Fundação Casa de Jorge Amado. O Largo do Pelourinho, onde os escravizados eram torturados em público com o estalo de chicotadas cortantes, se converteu no anfiteatro onde ecoaram os discursos de protesto contra o assassinato cruel de Moïse Kabagambe.
Sua morte se ampliou como símbolo da luta contra o racismo no Brasil.
No mesmo dia, tivemos a notícia de que o quiosque na Barra da Tijuca, onde a vida de Moïse foi arrancada a pauladas, se tornará um centro de referência da cultura congolesa e africana. Homenagem à vítima. Será administrado por sua família. “Não à banalização da barbárie!”, exclamou o prefeito do Rio, Eduardo Paes, cravando uma decisão histórica.
Ainda exigimos o julgamento e condenação definitiva de quem o matou e mandou matá-lo. E não podemos descansar até lá!
Entretanto, se um congolês, como Moïse, fosse morto de modo parecido há 20 anos, talvez o crime passasse em branco. Sem repercussão na mídia. Nem prisão dos assassinos. Há 20 anos, o corpo morto de Moïse provavelmente viraria mais um número insignificante na estatística do extermínio negro praticado cotidianamente neste país.
Mas não foi o que aconteceu agora.
O vento da mudança aponta para o acúmulo de forças da luta antirracista, travada desde o escravismo colonial e atualizada pelos movimentos negros. Um avanço, a passo firme, na marcha por justiça.
O advento das redes digitais como palco de disputa política e o florescimento de novas iniciativas e organizações a partir da semeadura de cotas raciais nas universidades públicas potencializaram o brado negro na sociedade.
Este movimento está mexendo com o Brasil. Não será detido pela reação racista. E deve crescer, cada vez mais forte, consciente e consequente.
Quando o protesto negro viraliza nas redes, as manifestações de rua o ampliam, a repercussão na grande mídia se intensifica, os tribunais são pressionados a produzir justiça, os políticos se afinam com o coro da maioria e promovem ações reparatórias: Um monumento antirracista é fincado no território do país como mensagem educativa para toda a população de que o custo da discriminação racial aumentou e os racistas vão pagar muito caro por isso.
A lei seca, que pune condutores alcoolizados de veículos automotores, só pegou depois que as blitzen se proliferaram pelas vias públicas, dando um basta na rotina de acidentes de carro e moto (muitos deles fatais), através da aplicação rigorosa de multa pesada em dinheiro, suspensão da carteira de habilitação e remoção do veículo.
No caso das leis que criminalizam o racismo, a blitz somos nós! Os movimentos negros organizados e os ativistas antirracistas, inclusive brancos, que têm uma responsabilidade imensa nesta luta.
Fiquem sabendo: Pararemos o Brasil quantas vezes forem necessárias! Até que sejamos um país civilizado, como um trânsito de cidadãs e cidadãos bem educados.
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