Da Antiguidade ao século XII, o sistema básico é tripolar: o branco opõe-se ao preto e ao vermelho, que é “a cor" por excelência.
Este sistema cromático muito antigo é utilizado, por exemplo, para o agrupamento trifuncional de classes na Roma antiga, e é encontrado na Idade Média em literatura, fábulas, contos (a versão mais antiga de Chapeuzinho Vermelho data do ano 1000).
O léxico do azul é, em latim, impreciso e instável. Isso não significa que os romanos não enxergassem o azul: a retina humana não mudava de estrutura, mas a cor azul é "silenciosa", ou seja, não está integrada num sistema de valores (e sim associada aos bárbaros, celtas e alemães).
O azul mudou de status no século XI. Está fixada, na iconografia, como a cor do manto da Virgem. A princípio religioso e mariano, brilha nos vitrais góticos.
Entrou então para a política: o brasão da família Capeto (flores-de-lis sobre fundo azul) passou a ser o emblema do rei da França por volta de 1130. O vermelho permanece imperial e papal, mas o azul torna-se real: é a cor do lendário Rei Artur.
A popularidade desta cor pode até ser medida: por volta de 1200, o azul só está presente em 5% dos brasões; por volta de 1400, a proporção é de 30%. O vermelho ganhou um novo oposto. Os tinturistas azuis destronaram, na corporação, os tinturistas (para uma bela “romantização” dessa luta na região de Albi, por volta de 1440).
Entre os séculos XV e XVII, o azul tornou-se uma cor “moral”. Proliferaram as leis suntuárias, que regiam o vestuário, entre outras coisas, foi o primeiro suporte de signos numa sociedade depois em plena transformação.
Existem cores proibidas e cores prescritas, em particular para marcar ou estigmatizar. Mas o azul não é estigmatizado: nem prescrito nem proibido, o azul é gratuito.
A Reforma Protestante, iconoclasta mas também “cromoclástica”, assegura a promoção do vestuário negro. O azul tira proveito disso e se torna uma cor “honesta”.
Finalmente, do século XVIII ao século XX, o azul triunfa. A invenção, por volta de 1720, da gravura a cores abriu caminho à reorganização do sistema em torno da tríade vermelho-azul-amarelo, as futuras cores primárias.
Os azuis se diversificam. Do lado material, a guerra dos dois azuis tintoriais (pastel europeu contra índigo exótico) pode ser lida nas regulamentações estatais e nas lutas coloniais. Por volta de 1710, uma fraude comercial deu origem a um novo pigmento, o azul da Prússia. Goethe ("Traité des couleurs", 1810) reafirma contra Newton a forte dimensão antropológica da cor: “Uma cor que ninguém olha não existe”.
E foi também ele que, com o casaco azul de Werther (1774), lançou o azul romântico, o da "florzinha azul" de Novalis, a cor da melancolia e dos sonhos que, por volta de 1870, daria origem aos "blues" americanos.
Fonte: Michel Pastoureau, "Bleu. Histoire dune couleur", Paris, Le Seuil, 2000.
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