sábado, 24 de junho de 2023

O GRUPO WAGNER

 Grupo Wagner: conheça o exército paramilitar que começou uma rebelião na Rússia

Grupo recruta soldados em prisões russas; dono do exército mercenário admitiu 10 mil baixas em maio

Redação

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

 24 de Junho de 2023 

Militares junto à entrada da sede do grupo militar privado Wagner, durante a abertura oficial do bloco de escritórios da corporação, em São Petersburgo, em 4 de novembro de 2022. - Olga Maltseva / AFP


Enquanto rebeldes do Grupo Wagner avançam em direção à capital russa, Moscou, neste sábado (24), os olhos do mundo se voltam para o exército mercenário que ganhou notoriedade durante a guerra na Ucrânia. Comandado pelo empresário Yevgeny Prigozhin, as tropas foram decisivas na conquista de territórios ucranianos, como a cidade de Bakhmut. Mas a atuação do grupo não começou com o conflito iniciado em 24 de fevereiro de 2022. O Wagner vem atuando em conflitos na Síria e em países africanos desde 2015.

A origem do grupo remonta à crise na Ucrânia em 2014, quando uma forte onda de protestos no país levou a um golpe de Estado e ao conflito armado na região de Donbass, no leste ucraniano. A entrada do grupo de Prigozhin em cena estaria ligada ao encobrimento da interferência russa nos assuntos da Ucrânia.

“O papel de iniciativas privadas [em conflitos] aumentou em 2014 com os acontecimentos na Ucrânia e o surgimento de empresas militares privadas, e suas iniciativas estavam ligadas ao uso dos princípios de ‘guerra híbrida’, que se baseiam no fato de que as partes militares regulares não participam de ações militares”, afirmou o pesquisador Pavel Usov, chefe do Centro de Análise e Previsão Política da Bielorrússia, em entrevista ao Brasil de Fato em abril deste ano.

No entanto, as ações do Wagner e de outros grupos militares privados eram encobertas pelo governo russo. Em 1º de maio de 2022, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, negou que o Grupo Wagner operasse no território da Ucrânia, afirmando que isso seria desinformação de Kiev.

Foi só em janeiro de 2023 que o governo russo admitiu a atuação do Wagner. O próprio Ministério da Defesa russo pela primeira vez reconheceu oficialmente os méritos dos mercenários de Prigozhin no campo de batalha. Em particular, a pasta destacou “a bravura” dos combatentes do Wagner em meio ao anúncio da tomada da região de Soledar, em Donbass, pelas forças russas.


Soldados recrutados na prisão

Uma das táticas do Grupo Wagner é recrutar soldados em prisões russas. Criminosos condenados por crimes graves recebem a promessa de anistia da pena após seis meses no front. Muitos, no entanto, nunca chegam a aproveitar a liberdade. Segundo informação divulgada pelo próprio chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin, em maio deste ano, quase 10 mil prisioneiros recrutados haviam morrido na Ucrânia. 

“Eles são jogados em grandes ondas para as posições ucranianas e inauguram alguns novos pontos de combate, na prática, as perdas são em centenas. Ou seja, o que acontece lá agora mostra que aqueles que servem ao grupo Wagner não têm valor nenhum, nem militar, nem de quadros, é simplesmente material descartável. A tarefa é simplesmente esgotar, chamar o fogo para si, e aí, em seguida, a artilharia militar avança sobre as posições ucranianas”, explicou o pesquisador Pavel Usov.

Em janeiro deste ano, foi revelado um relatório da agência de inteligência militar do Ministério da Defesa da Ucrânia sobre as táticas das operações de combate do batalhão Wagner na Ucrânia. O estudo, realizado inclusive a partir de escutas telefônicas, apontava uma "indiferença brutal de Prigozhin às baixas", com execuções de combatentes que tentam se render aos ucranianos ou que realizam retiradas não autorizadas.

A análise ucraniana afirmava que as táticas de Wagner "são as únicas eficazes para as tropas mal treinadas e mobilizadas que constituem a maioria das forças terrestres da Rússia". 


Putin chama rebelião de mercenários de 'facada nas costas' e promete punir traidores

Grupo Wagner era aliado do presidente russo e contribuiu para a conquistas de territórios da Ucrânia. Putin se pronunciou pela primeira vez após organização tomar instalações militares em cidades da Rússia.




O presidente da RússiaVladimir Putin, classificou a rebelião de membros do Grupo Wagner como "facada nas costas" e prometeu punir quem trair as Forças Armadas do país. Putin fez um pronunciamento à nação neste sábado (24).


O discurso de Putin aconteceu horas depois de o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, afirmar que quer depor o comando militar da Rússia, tomar o controle de instalações militares de Rostov-on-Don e e ameaçar avançar para Moscou, que teve a segurança reforçada.

Após a declaração de Putin deste sábado, Prigozhin se manifestou novamente e afirmou que o presidente russo está errado ao acusá-lo de traição.


Durante o pronunciamento, Vladimir Putin disse que a resposta à rebelião será dura e que todos os que tomaram parte no motim serão punidos. Segundo o presidente, todas as Forças Armadas da Rússia já receberam todas as ordens necessárias.


"É um golpe para a Rússia, para o nosso povo. E nossas ações para defender a Pátria contra tal ameaça serão duras." 
 

"Todos aqueles que deliberadamente pisaram no caminho da traição, que prepararam uma insurreição armada, que seguiram o caminho da chantagem e métodos terroristas, sofrerão punição inevitável, responderão tanto à lei quanto ao nosso povo", disse o presidente.


Putin também fez um apelo às pessoas que foram "enganadas", referindo-se aos mercenários do Grupo Wagner, ordenando que os membros da organização não continuassem participando de ações criminais.

Putin assumiu que a situação em Rostov-on-Don, cidade que foi tomada pelo Grupo Wagner, é complicada, mas afirmou que o governo irá tomar ações para estabilizar o problema.

Putin declarou que será necessário "unir forças", deixando as diferenças de lado.


De acordo com a agência de notícias Associated Press, autoridades russas informaram que os mercenários de Wagner entraram na província de Lipetsk, a 360 quilômetros ao sul de Moscou.

Segundo a agência, o prefeito da cidade, Igor Artamonov, disse pelo Telegram que "estão tomando todas as medidas necessárias para garantir a segurança da população. A situação está sob controle." Mais cedo, as autoridades da área pediram que a população não saísse das casas.

Onde fica Rostov-on-Don? — Foto: Editoria de Arte/g1

Onde fica Rostov-on-Don? — Foto: Editoria de Arte/g1

Em meio ao conflito, surgiram rumores de Putin teria deixado Moscou, o que foi negado pelo porta-voz do governo, Dmitri Peskov, à agência de notícias TASS.


Entenda o caso


O desentendimento

Grupo Wagner em registro deste sábado (24) — Foto: REUTERS/Stringer

Grupo Wagner em registro deste sábado (24) — Foto: REUTERS/Stringer

O Grupo Wagner é uma espécie de organização paramilitar ligada ao governo russo. O grupo surgiu em 2014, composto por ex-soldados de elite altamente qualificados.

Com a invasão da Ucrânia, acredita-se que o grupo tenha se expandido recrutando prisioneiros para lutar a favor da Rússia. Os mercenários reforçaram a linha de frente e atuaram em várias batalhas, incluindo na conquista de Bakhmut.

A relação entre o grupo e o Ministério da Defesa da Rússia já estava estremecido há alguns meses. Nesta sexta-feira, a crise se intensificou depois de Yevgeny Prigozhin acusar o governo russo de promover um ataque contra acampamentos da organização.

Prigozhin prometeu retaliações. Isso levou o procurador-geral da Rússia a abrir uma investigação contra ele por "suspeita de organizar uma rebelião armada".


Soldado do grupo mercenário Wagner em patrulha nas ruas de Rostóvia do Dom, na Rússia — Foto: REUTERS/Stringer

Soldado do grupo mercenário Wagner em patrulha nas ruas de Rostóvia do Dom, na Rússia — Foto: REUTERS/Stringer

O Exército russo nega o ataque contra o Grupo Wagner e classificou as acusações como uma provocação.

Mesmo assim, após a ameaça de Prigozhin, o governo russo reforçou a segurança em Moscou. Já na cidade de Rostov-on-Don, que foi invadida pelos paramilitares, o prefeito pediu para que a população não saia de casa.



 



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