sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

VIVA A LOUCA DE STELLA MARIS!


O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 determina: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Inúmeras matérias foram publicadas nas redes de comunicação assinadas por quem sabe, colunistas e jornalistas, sobre a depredação do litoral baiano, assim como de todo o litoral nacional. Contribuíram para conscientizar os poderes públicos sobre as inúmeras agressões ambientais. Neste exato momento os governantes do planeta se reúnem para tentar enfrentar o previsível drama.

Mas a maior parte da opinião pública ainda não entendeu que estamos à beira de um colapso total de nossas possibilidades de sobrevivência.

"Eles" gostam do estilo play-ground

Muito além do justíssimo apego a paisagens tradicionais, trata-se do mais elementar direito de beber, comer e respirar. Cada dia mais são questionados os projetos de arquitetos de moral perigosamente erodida. Quanto mais espigões somos obrigados a aceitar em beira de praias, mais condomínios de luxo abocanhando as áreas de proteção ambiental nas ilhas, mangues e embocadura dos rios, quanto mais edis obtusos teimam em asfaltar dunas e restingas, em elaborar viadutos, túneis e aeroportos roendo a Mata Atlântica e outras florestas nativas, quanto mais são colonizados milhares de hectares de terra para monocultura de eucaliptos ou soja sem o menor respeito pela necessidade vital de um justo equilíbrio ecológico, eliminando faunas e floras e expulsando a população rural para pornográficas empresas lucrarem sob o confortável manto do progresso, quanto mais cavam montanhas e constroem barragens, milhões de seres humanos se aproximam do suicídio coletivo. Ou será uma nova forma de holocausto?


Então, vamos prestar a devida e respeitosa atenção ás vozes discordantes que se levantam. É louca uma Clarice Bagrichevsky - que prefere, ao sair de sua casa em Stella Maris, pisar na areia macia e andar entre coqueiros até a praia - reclamar ao enfrentar uma camada de asfalto que, muito antes do meio-dia se transformará em chapa ardente, infernizando o ambiente e matando insetos, caranguejos, abelhas e pássaros? É louca uma Regina Serra que manifesta sua oposição ao corte das amendoeiras da Barra? É louco um Paulo Ormindo de Azevedo ao escrever que Salvador está sendo “viadutizada”? Uma Kate Alvarez que defende uma certa qualidade de vida em Itaparica, um Armando Avena que reclama da desfiguração de Salvador?

São loucos mesmo? Se louco é quem propoe uma visão mais ampla e mais humana, então, por favor, incluam-me neste manicômio. Afinal, o que seria da sociedade sem os loucos?

Dimitri Ganzelevitch

Salvador, 9 dezembro 2023

Um comentário:

  1. A grande loucura é o que os bandidos das empreiteiras e do setor imobiliário estão produzindo na cidade. A grande loucura é não vermos que isso tudo é um processo de degradação que começa e termina em nós mesmos. Enquanto isso alguns que se dizem amantes da natureza, ainda tentam descredenciar pessoas nobres como as aqui citadas. Pessoas loucas que lutam pelos outros. Viva a loucura. Axé

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