segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

O MAL QUE NOS DEVORA


Qual é a bactéria roendo até acabar com a cultura e o patrimônio da Bahia e da primeira capital do Brasil? Não adianta elaborar mais uma interminável e nunca exaustiva lista dos abandonos, desmandos e mancadas. E, por favor, não me venham com colocações ideológicas neste protesto. Reacionário, nunca fui. Mas ao lembrar o rosário dos secretários de cultura desde o primeiro mandato de Jaques Wagner, só podemos questionar, sem entrar no mérito (sic) de cada um deles, as infelizes escolhas. Em vez de águias, pavões, pombos e rolinhas. A falta que nos faz um Juca Ferreira...

Desde o Pelourinho retornando aos anos 80 - salvo modestas atuações pontuais - ao TCA fechado, igual ao Centro de Convenções, por tempo indeterminado, só ocupando espaço na imprensa pelas brigas de bastidores da OSBA, a estagnação é assustadora. A restauração da Rua Direita de Santo Antônio pela incompetente Conder seria caso de polícia.

Qual o motivo pelo desprezo ao acervo do Frans Krajberg? A fabulosa doação, invejada por muitos países, ao governo da Bahia deveria estar exposta há muito tempo. Até a sua casa em Nova Viçosa foi arrasada pela prefeitura!

Quando se investe 28 milhões de reais (sem contar os benditos e polpudos aditivos) para restaurar o Museu do Recôncavo/Wanderley Pinho e que se posterga a inauguração por, até agora, quase dois anos, o mínimo da normalidade em regime dito democrático, seria dar uma explicação plausível ao povo. Afinal, não esqueçamos que é ele que banca. Sempre.

O mutismo que abafa estes assuntos demonstra a pouca importância que nossos governantes dão à cultura. Nossos edis focalizam a ponte, os viadutos e os navios de cruzeiro. Não temos um espaço adequado para apresentar grandes exposições como os Tesouros Ancestrais do Peru neste momento no CCBB de São Paulo. Seria bom verificar o boato que correu durante a gestão Wagner: Haveria uma proposta do BB abrir um centro cultural na Coelba da Praça da Sé, mas o governo nem se deu a pena de responder.

Outro desastre: a política de terra arrasada com a museologia baiana. O lento e conceituado trabalho das últimas décadas substituído por ações apelativas, inconsistentes e imediatistas. Ainda não engoli a injustificável pobreza do centenário de Mário Cravo.

Da Bienal da Bahia prefiro nem falar e do sarapatel dos editais quero distância.

Em complemento, nosso prefeito só pensa em festas e alvarás para construir imóveis a dois metros da maré. As praias de Salvador virando Império da Sombra.  A Marina não tem nada a opinar? Oba! Ia esquecendo que também é chegado a uma motosserra. Agora é a vez do Dique do Tororó perder suas magníficas árvores. Podar não bastava. Tem que cortar, assassinar.

A terra que tanto me encantou desaparecendo...

Dimitri Ganzelevitch

Salvador, 17 de fevereiro 2024

 

 

 

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