Qual é a bactéria roendo até acabar com a cultura e o patrimônio da Bahia e da primeira capital do Brasil? Não adianta elaborar mais uma interminável e nunca exaustiva lista dos abandonos, desmandos e mancadas. E, por favor, não me venham com colocações ideológicas neste protesto. Reacionário, nunca fui. Mas ao lembrar o rosário dos secretários de cultura desde o primeiro mandato de Jaques Wagner, só podemos questionar, sem entrar no mérito (sic) de cada um deles, as infelizes escolhas. Em vez de águias, pavões, pombos e rolinhas. A falta que nos faz um Juca Ferreira...
Desde o
Pelourinho retornando aos anos 80 - salvo modestas atuações pontuais - ao TCA
fechado, igual ao Centro de Convenções, por tempo indeterminado, só ocupando
espaço na imprensa pelas brigas de bastidores da OSBA, a estagnação é
assustadora. A restauração da Rua Direita de Santo Antônio pela incompetente
Conder seria caso de polícia.
Qual o motivo
pelo desprezo ao acervo do Frans Krajberg? A fabulosa doação, invejada por
muitos países, ao governo da Bahia deveria estar exposta há muito tempo. Até a
sua casa em Nova Viçosa foi arrasada pela prefeitura!
Quando se
investe 28 milhões de reais (sem contar os benditos e polpudos aditivos) para
restaurar o Museu do Recôncavo/Wanderley Pinho e que se posterga a inauguração
por, até agora, quase dois anos, o mínimo da normalidade em regime dito democrático,
seria dar uma explicação plausível ao povo. Afinal, não esqueçamos que é ele
que banca. Sempre.
O mutismo que
abafa estes assuntos demonstra a pouca importância que nossos governantes dão à
cultura. Nossos edis focalizam a ponte, os viadutos e os navios de cruzeiro.
Não temos um espaço adequado para apresentar grandes exposições como os
Tesouros Ancestrais do Peru neste momento no CCBB de São Paulo. Seria bom
verificar o boato que correu durante a gestão Wagner: Haveria uma proposta do
BB abrir um centro cultural na Coelba da Praça da Sé, mas o governo nem se deu
a pena de responder.
Outro
desastre: a política de terra arrasada com a museologia baiana. O lento e
conceituado trabalho das últimas décadas substituído por ações apelativas,
inconsistentes e imediatistas. Ainda não engoli a injustificável pobreza do
centenário de Mário Cravo.
Da Bienal da
Bahia prefiro nem falar e do sarapatel dos editais quero distância.
Em
complemento, nosso prefeito só pensa em festas e alvarás para construir imóveis
a dois metros da maré. As praias de Salvador virando Império da Sombra. A Marina não tem nada a opinar? Oba! Ia
esquecendo que também é chegado a uma motosserra. Agora é a vez do Dique do
Tororó perder suas magníficas árvores. Podar não bastava. Tem que cortar,
assassinar.
A terra que
tanto me encantou desaparecendo...
Dimitri Ganzelevitch
Salvador, 17 de fevereiro 2024
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