Já sei. O
título é manjado. Mas não deixa de ser a melhor forma de alertar a
opinião pública e os responsáveis (sic) sobre as razões da angústia que habita
parte do bairro de Santo Antônio, desde que a Conder resolveu “limpar” a
encosta, retirando, com a mesma celeridade e falta de
critérios, casebres, árvores e mato. Tudo aquilo que dava
sustentação à encosta.
A época
de chuvas pesadas se aproximando, como podemos dormir tranquilos com os
previsíveis deslizamentos de terra, ameaçando patrimônio e vidas humanas?
Bem perto
do fundo da Igreja de Nossa-Senhora do Boqueirão, duas lajes desabaram, levando
em outubro passado cataratas de lama até os moradores da Ladeira do Pilar.
Denunciei
o fato ao Ministério Público, não uma vez, mas várias. Suponho que minhas
queixas tenham sido encaminhadas aos órgãos competentes, mas até hoje não vimos
qualquer preocupação em consertar o malfeito, a não ser a colocação apressada
de mantas de plástico preto que, neste momento, estão mais
esburacadas que renda portuguesa.
A
pergunta que continua sem resposta até hoje: qual é o órgão
fiscalizador/executivo responsável? A Codesal, a Conder, o Iphan, o Ipac, o
governo estadual, federal, municipal ou a Escola de Dança? Estamos
cansados de ser confundidos com uma bola de pingue-pongue, cada órgão
empurrando com a barriga!
Voltando
ao passado, no princípio da década de 90, quando o então governador Antônio
Carlos Magalhães resolveu afastar o Ipac e entregar à Conder a
responsabilidade pela restauração de parte do centro histórico de Salvador, a
dita estatal escolheu soberbamente ignorar as competências do Iphan e da Ufba e
massacrou um patrimônio que naquela data já era tombado pela Unesco. Uma ação
urgente era necessária, sim. Mas criteriosa. Optaram pelo
espalhafatoso imediatismo, desprezando as caraterísticas que davam uma
identidade peculiar a cada imóvel.
Uniformizaram
portas e janelas, pintando tudo com um deprimente verde militar e parte da
encosta foi impermeabilizada, à revelia de qualquer lógica ambiental.
Nossos
governantes continuam com a política errada de considerar a cultura e a memória
sob o único prisma do turismo.
Ainda não
entenderam que os visitantes sempre preferirão uma cidade concebida, antes de
qualquer projeto de sedução descartável, para seus moradores e não como cenário
para selfies.
Mais uma
vez me vejo obrigado a mencionar Quito, Medellin, Puebla e Cartagena de las
Índias como modelos de inspiração para um centro histórico com maior respeito
ao patrimônio e melhor qualidade de vida para seus habitantes.
Mas
nossos edis preferem viajar a Miami, voltando com malas novas entupidas de
produtos descartáveis e autorizando mais um viaduto, mais uma torre, mais um
shopping...
Dimitri Ganzelevitch
ATarde, sábado 3 de fevereiro 2024
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