sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

LISBOA, CULTURA E PÓS-COLONIALISMO

Passado e Presente. Lisboa, cultura e pós-colonialismo
Lisboa é em 2017 a Capital Ibero-americana da Cultura, com uma programação que se estende por várias áreas em mais de 170 atividades e que, dirigida por António Pinto Ribeiro, procura ir ao encontro das novas narrativas e abordagens à história da América Latina e da colonização
O caminho até Madrid ou Barcelona ou Rio de Janeiro ou São Paulo faz-se bem de olhos fechados. Já que há entre Lisboa e Bogotá, Buenos Aires, Caracas, Havana e Lima, ou Manágua, Montevideo, Cidade do México ou do Panamá, Quito, San José, San Juan, Tegucigalpa será mais incerto. Mas são toda a América Latina, não só o Brasil, mais o resto da Península Ibérica que chegam à capital portuguesa já a partir de 7 de janeiro, em mais de 170 atividades – nas áreas da arte, do cinema, da música, do teatro, da dança, com colóquios, uma conferência e intervenções no espaço público – com a Capital Ibero-Americana da Cultura que, sob o signo do passado e do presente, tem em 2017 Lisboa a sua cidade, depois de Andorra.
Passado “nem sempre grandioso” ou “heróico”, será bom lembrar neste presente em que estamos e a partir do qual olharemos para ele, numa programação a cargo de António Pinto Ribeiro com a colaboração de mais de 40 equipamentos culturais, entre os quais a Câmara de Lisboa e o Ministério da Cultura para nos trazer a diversidade do universo ibero-americano.
“Diversidade de autores e de abordagens”, nota Pinto Ribeiro, “tal como são diversos os países, a geografia e os regimes políticos” de hoje, ponto do qual encaramos um passado que aqui se procura apresentar “não de uma perspetiva estática, e sobretudo não continuando as narrativas históricas tradicionais que temos em Portugal sobre a expansão, mas equacionando a própria ideia de expansão”. Com o que teve bom e de mau, com o que foi “a aventura tecnológica e científica dos Descobrimentos, que foi fantástica, mas simultaneamente uma barbárie cometida pelos europeus na América”. E a reflexão da qual nos temos alheado e que vem agora com oportunidade perfeita, com uma programação enquadrada em quatro temas fundamentais: a questão indígena, a questão das migrações, a questão da afrodescendência e a criação contemporânea, que serão “vias de acesso a muitas das obras” que passarão por Lisboa ao longo deste ano.
o racismo e o fim do paraíso
A inaugurar já a 7 de janeiro no Padrão dos Descobrimentos, por exemplo, a exposição “Al Final Del Paraíso” do mexicano Demián Flores, cujo trabalho se tem caracterizado pelo diálogo com o contexto socio-político do lugar de onde vem, que é o Sul do México, com o contexto histórico as descobertas do século XVI e o aparecimento daquele a que se chamou então de “novo mundo”. Ou mais tarde, em maio, a exposição “Racismos” com curadoria científica e investigação de Francisco Bethencourt para discutir a relação entre racismo e cidadania nos seis séculos que passaram entre 1497 e o presente, juntamente com o seminário “Racismo e Cidadania”, com com Jorge Vala e Teresa Beleza a 13 de maio no São Luiz Teatro Municipal. O mesmo onde no próximo fim de semana atuam Gisela João com Mariela Condo, do Equador, e Mariela Condo, do Panamá.
Entre as exposições, destaque ainda para “Shadows”, de Aldredo Jaar, nome incontornável da arte contemporânea chilena pelo reconhecido caráter interventivo e político das suas obras, que aqui nas Carpintarias de São Lázaro apresenta uma homenagem a Koen Wessing, fotógrafo sueco que em 1978 em Esteli, Nicarágua, registou o momento em que um grupo de camponeses que carregavam o corpo de um companheiro morto pela guarda nacional do ditador Somoza. No teatro, chega-nos noutro exemplo “Mateluma”, do Chile, uma peça sobre a ética da violência política e sobre os conceitos da verdade e da inspiração artística, com encenação de Guillermo Calderón. Ou “Poesia na Esquina do Bairro”, sessão de divulgação da poesia latino-americana com coreografia de Adriana Queiroz e participação de João Grosso, José Neves e Manuel Coelho.



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