O TRABALHO ESCRAVO
CONTEMPORÂNEO
NO BRASIL
Larissa Moreira
Auditora-fiscal do trabalho
e presidente da delegacia sindical
do Sindicato
Nacional dos Auditores Fiscais
do Trabalho na Bahia

O Brasil foi um dos últimos
países ocidentais a permitir a posse de pessoas no denominado ‘regime de
escravidão’, o qual só foi oficialmente abolido através da Lei Áurea, de 13 de
maio de 1888. A partir daí, exercer o direito de propriedade sobre outra pessoa
tornou-se ilegal. No entanto, a mão de obra análoga à escrava infelizmente
ainda é uma triste realidade no país.
Somente
na década de 90 é que o governo brasileiro reconheceu a existência em nosso
país do trabalho escravo contemporâneo e iniciou a adoção de medidas visando
seu enfrentamento. Uma dessas medidas foi a criação, no âmbito do Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), do Grupo Especial de Fiscalização Móvel para atuar
especificamente no meio rural. Avançamos com a aprovação pelo Congresso Nacional
da Emenda Constitucional nº 81, que determina o confisco de propriedades onde
for flagrado o trabalho escravo.
Entretanto,
ouros importantes avanços no combate ao trabalho análogo ao escravo vêm
sofrendo ataques que têm comprometido a atuação da Auditoria Fiscal do
Trabalho, principal representação pública de defesa dos direitos dos
trabalhadores. Entre eles a suspensão da publicação da “Lista Suja” do MTE, que
permite a consulta daqueles que foram flagrados na prática do trabalho escravo.
Outra medida prejudicial foi a aprovação, em Comissão do Senado Federal, de
projeto de lei que regulamenta a EC-81/2014 e restringe o conceito do trabalho
análogo ao escravo.
Lamentavelmente,
até hoje vemos a impunidade dos mandantes do crime conhecido como “Chacina de
Unaí”; que vitimou quatro servidores do Ministério Público do Trabalho, sendo
quatro auditores fiscais do trabalho, quando realizavam atividades de
fiscalização rural e combate ao trabalho escravo em fazendas de Unaí, em Minas
Gerais. A impunidade do crime choca e preocupa todos aqueles que lutam por
eliminar definitivamente a chaga da escravidão de nosso país.
Somando
a tudo isso, o número reduzido de auditores fiscais de trabalho também tem
prejudicado as fiscalizações de combate ao trabalho escravo. Dados da
fiscalização do trabalho apontam que no Brasil, no período de 2003 a 2015,
foram resgatados 33.981 trabalhadores que estavam submetidos à condição análoga
à de escravo, sendo que na Bahia foram 2.908 casos.
A
categoria, através do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
(Sinait), tem cobrado exaustivamente a realização de concurso público para o
preenchimento de mais de 1.100 cargos vagos. Atualmente existem cerca de 2.500
auditores no país e cerca de apenas 150 na Bahia. Os auditores também lutam por
valorização da carreira e condições de trabalho dignas, para que continuem
desempenhando sua missão e sendo referência mundial na defesa dos direitos dos
trabalhadores.
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