Albérico Teixeira Filho
Agora que estou saindo da
meia-idade para entrar na idade inteira, quero aqui narrar uma desventura que me mostrou que a idade chega brocando...
Terminada a aula, ainda na sala de aula, estava eu a meia luz compenetrado, preenchendo diário de classe e demais papelórios da profissão, quando subitamente tive minha atenção desviada por uma delicada mão que apareceu na porta, golpeando graciosamente e levemente com um anel de brilhante a madeira, como se anunciando, em seguida, surgiu em seu total esplendor, criatura exuberante, escultural e curvilínea, cintura delgada, uma mecha de cabelo rebelde que teimava em cair sobre seu rosto, desfilou com passos felinos em direção a minha mesa, chegou tão perto, que mesmo naquela penumbra, pude ver suas pupilas dilatadas, lábios chamativos e um perfume inebriante...Sem nada dizer, estendeu-me um papelote bem dobrado, segurou a ponta dos meus dedos e sem mais saiu balançando acintosamente um belo par de empinada e redonda nádegas, não sem antes parar perto da porta e com uma piscadela disse:
“-Leia logo!”.
Ainda aturdido (provavelmente boquiaberto e babando), lentamente desdobrei o papel que ainda exalava o perfume da portadora e surpreso pude ler:
“ Sou aluna da sala ao lado, o tenho observado já há algum tempo, preciso vê-lo, necessito falar contigo...Estarei esperando no estacionamento K, o local mais discreto nesta unidade. Por favor venha logo! ” Michelle Sasha.
Arrumei meus pertences, antes verifiquei se o hálito e a sovaqueira estavam aceitáveis, tentando aparentar um fleugma que na verdade não existia, me dirigi ansioso ao estacionamento k. Lá chegando, fui imediatamente acercado pela deslumbrante criatura, ela aproximou-se com os lábios úmidos e trêmulos, afastou graciosamente aquela mecha insistente e ao meu ouvido, sussurrou resfolegante...
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