Mais uma vez, lá vou eu brigando
contra moinhos de vento. Estes não moem trigo para seu pão quotidiano, mas
produzem energia. Em março de 2002 entrei com ação no Ministério Público
Estadual contra a Coelba. Esta companhia obrigava os moradores e comerciantes
do bairro de Santo Antônio a colocar os contadores de eletricidade na fachada
dos imóveis. Acontece que este bairro, integrando o centro histórico de
Salvador reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO, estava – e ainda está
– obrigado a preservar de qualquer descaraterização das fachadas de todos os
imóveis.
Sob a responsabilidade do Dr.
Heron Santana, promotor de Justiça, e com a presença de representantes do IPAC
e IPHAN, tivemos duas reuniões no Jardim Baiano, reuniões cuja conclusão lógica
foi a de, determinadamente, proibir a agressão ao centro histórico com elementos
que viessem a comprometer sua integridade física e visual.
Semanas depois, a mesma Companhia
de Eletricidade do Estado da Bahia (desde 1997, 8,50% pertencem ao grupo
espanhol Iberdrola) divulgava o folheto “Preservação das Construções
Históricas” com fotografia de capa representando trecho da Rua do Carmo.
Fotografia aliás de péssima qualidade, com um enorme poste bem no primeiro
plano. O capitulo cujo título, bem
esclarecedor, é “Instalação de padrão de entrada de energia em um imóvel
tombado ou situado em área de tombamento” (páginas 9, 10, 11 e 12) explica
claramente que o contador deverá ser instalado dentro do imóvel e nunca fora.
Claro que esta decisão não foi do agrado geral. Entre outros, a Assembleia de
Deus, onde azulejos bicentenários foram quebrados, e o padre da Igreja de Santo
Antônio, se recusaram a cumprir a determinação. Quinze anos passados. Neste
exato momento podemos constatar a indevida instalação de vários contadores,
entre eles na ladeira do Boqueirão, 6.
Quem tem noção da importância de se
preservar tão peculiar acervo é obrigado, quando passeia pelo bairro, a desviar
o olhar das inúmeras agressões que alteram consideravelmente fachadas e
volumetrias. E não adianta apelar para o IPHAN ou a SUCOM: para ambos os
órgãos, o bairro de Santo Antônio simplesmente não existe. Estamos nos
aproximando da estética Baixa do Tubo. Os famigerados puxadinhos, as esquadrias
de alumínio, portas e janelas originais substituídas por elementos
pré-fabricados com desenhos e proporções diferentes do original, violentas pinturas
acrílicas, edifícios inteiros construídos durante fins de semana e feriados sem
o mínimo alvará, anúncios de acrílico – até de secretaria da prefeitura! – vandalismo
de azulejos, telhados de fibrocimento em vez da tradicional telha de barro... e
para finalizar, os ditos horrendos contadores da Coelba!
Na histórica cidade de Cachoeira, a situação é mesma. Esses contadores, além de descaracterizar as fachadas dos imóveis, são expostos com facilidades a ação de vândalos.
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