sábado, 18 de novembro de 2017

OS CONTADORES DA COELBA


Mais uma vez, lá vou eu brigando contra moinhos de vento. Estes não moem trigo para seu pão quotidiano, mas produzem energia. Em março de 2002 entrei com ação no Ministério Público Estadual contra a Coelba. Esta companhia obrigava os moradores e comerciantes do bairro de Santo Antônio a colocar os contadores de eletricidade na fachada dos imóveis. Acontece que este bairro, integrando o centro histórico de Salvador reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO, estava – e ainda está – obrigado a preservar de qualquer descaraterização das fachadas de todos os imóveis.
Sob a responsabilidade do Dr. Heron Santana, promotor de Justiça, e com a presença de representantes do IPAC e IPHAN, tivemos duas reuniões no Jardim Baiano, reuniões cuja conclusão lógica foi a de, determinadamente, proibir a agressão ao centro histórico com elementos que viessem a comprometer sua integridade física e visual.


Semanas depois, a mesma Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (desde 1997, 8,50% pertencem ao grupo espanhol Iberdrola) divulgava o folheto “Preservação das Construções Históricas” com fotografia de capa representando trecho da Rua do Carmo. Fotografia aliás de péssima qualidade, com um enorme poste bem no primeiro plano.  O capitulo cujo título, bem esclarecedor, é “Instalação de padrão de entrada de energia em um imóvel tombado ou situado em área de tombamento” (páginas 9, 10, 11 e 12) explica claramente que o contador deverá ser instalado dentro do imóvel e nunca fora. Claro que esta decisão não foi do agrado geral. Entre outros, a Assembleia de Deus, onde azulejos bicentenários foram quebrados, e o padre da Igreja de Santo Antônio, se recusaram a cumprir a determinação. Quinze anos passados. Neste exato momento podemos constatar a indevida instalação de vários contadores, entre eles na ladeira do Boqueirão, 6.


Quem tem noção da importância de se preservar tão peculiar acervo é obrigado, quando passeia pelo bairro, a desviar o olhar das inúmeras agressões que alteram consideravelmente fachadas e volumetrias. E não adianta apelar para o IPHAN ou a SUCOM: para ambos os órgãos, o bairro de Santo Antônio simplesmente não existe. Estamos nos aproximando da estética Baixa do Tubo. Os famigerados puxadinhos, as esquadrias de alumínio, portas e janelas originais substituídas por elementos pré-fabricados com desenhos e proporções diferentes do original, violentas pinturas acrílicas, edifícios inteiros construídos durante fins de semana e feriados sem o mínimo alvará, anúncios de acrílico – até de secretaria da prefeitura! – vandalismo de azulejos, telhados de fibrocimento em vez da tradicional telha de barro... e para finalizar, os ditos horrendos contadores da Coelba!


Um comentário:

  1. Na histórica cidade de Cachoeira, a situação é mesma. Esses contadores, além de descaracterizar as fachadas dos imóveis, são expostos com facilidades a ação de vândalos.

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