segunda-feira, 20 de novembro de 2017

SOBRE NEGROS E MESTIÇOS

Antonio Riserio

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ALGUMAS BREVES OBSERVAÇÕES
O historiador Joel Rufino - preto e comunista -, autor de diversos livros, a exemplo de "História Política do Futebol Brasileiro", foi um militante que se afastou do Movimento Negro quando este se tornou conservador, trocando a perspectiva de transformação geral da sociedade pela linha do racialismo de resultados, fazendo-se então carente de qualquer dimensão utópica. Bem, Rufino foi lúcido e corajoso o suficiente para observar então que "os movimentos negros trabalham politicamente o ressentimento, o tom do seu discurso é a mágoa pela pouca consideração do branco, há como que uma ânsia em arrancar do brasileiro comum a confissão de que este é racista". Enfim, da frustração social à "formação reativa". Guarde-se o registro.
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Regra geral, o grilo com a "mulatice" (que serve de base para agressões que me dirigem aqui no facebook) é coisa típica de nossos atuais neonegros- vale dizer: de mulatos que sempre foram mulatos e agora se veem como pretos retintos. Enquanto isso, nos EUA (a matriz desse racialismo colonizado e que são o único país do mundo que não reconhece oficialmente a existência de mulatos) cresce a cada dia a chamada movimentação birracial, reivindicando o reconhecimento da ancestralidade mista e a inserção da figura do mulato no censo - e no senso - da nação. Aliás, lembre-se que Obama jamais se elegeria presidente de países africanos como Angola ou a Nigéria. Não só em consequência de ditaduras e fraudes, sob o comando de uma elite negra que massacra cruelmente as massas negras. Mas principalmente porque, para estas mesmíssimas massas negras, Obama não é negro e, sim, mulato. E o mulato é vítima de terrível preconceito em países negroafricanos.
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Uma coisa é o fenômeno objetivo da mistura genética, outra coisa são as ideologias da mestiçagem. No passado, a mestiçagem brasileira ganhou leituras mistificadoras, senhoriais. Para se contrapor a isso, muitos cometeram um equívoco primário: em vez de rediscutir em profundidade a questão, resolveram eliminá-la, como um sujeito que, ao fechar a janela, acredita que a rua deixou de existir. Mas continuamos mestiços. E a mestiçagem não é indestacável da fantasia da "democracia racial". Recusar-se a usar a noção é como se recusar a falar de "raça", por conta do uso que os nazistas fizeram do conceito, combatendo ferozmente, aliás, a mestiçagem. Se não entendermos nossas misturas - genéticas e culturais - nunca entenderemos a nós mesmos. E é bom sublinhar que mestiçagem não é sinônimo de harmonia. Não exclui o conflito, nem a discriminação. A melhor prova disso é o próprio Brasil.
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A maioria dos mestiços mais escuros, dos pretos, ocupa o porão da sociedade brasileira. Vive mal, ganha pouco, não tem acesso aos serviços públicos mais elementares. Mas não devemos confundir as coisas. A mestiçagem é um processo biológico e cultural, não um mecanismo de redução das distâncias sociais. Não implica a localização do indivíduo neste ou naquele ponto da hierarquia social. O problema das desigualdades sócio-raciais jamais se resolveu ou se resolverá na cama. Essas assimetrias exigem, para sua superação, não um incremento de mesclas genéticas, mas distribuição de renda, investimentos em educação, equalização de oportunidades (incluindo, aqui, o fim do instituto da herança, que já cria a desigualdade social no berço). Enfim, são questões que pertencem a ordens distintas de coisas.

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