sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A SAGRAÇÃO DA MEDIOCRIDADE


Foram necessários uma queixa ao Ministério Público (Ceama - Protocolo 003.9.57788/2020), um protesto nesta mesma coluna (“Meio-fio também é patrimônio” 30/05/20) e várias denúncias nas redes sociais para que, após seis meses de iniciada, a Conder se dignasse de comunicar aos moradores – através de um folheto bem fuleiro e incompleto – a finalidade da obra que transformou em trincheiras boa parte do bairro de Santo Antônio. Sem qualquer ilustração do projeto finalizado, e com uma inverdade – diplomática metáfora para não usar a palavra mentira – escancarada: “A cada trecho a iniciar, a CONDER refaz a mobilização social informando aos moradores acerca dos serviços e prazo estimado da ação. E a cada 15 dias está sendo implementado um relatório social de acompanhamento com o trecho em execução”. Oxente, aonde?!
“A requalificação urbana” consiste em retirar postes e fiações, e substituir os antigos paralelepípedos e meios-fios de granito vermelho lavrados a mão na primeira parte do século XX, por outros, milimetricamente cortados, dignos de Camaçari. Qual o destino do material original? Poderia ter sido usado, por exemplo na ladeirado Boqueirão, mas                                                                                     “...não estão em condições de segurança e adequação técnica”. Argumentos débeis de quem se esconde por trás da incompetência ou má vontade. “...serão aproveitados em benefício de outras ruas”. Que bom! Posso saber em quais ruas do centro histórico?



Meio ano já passou e a primeira metade da obra ainda sem acabar. E pelo pouco que já se afirma como terminado, o resultado é simplesmente lamentável de mediocridade. Além de inventar um passeio em ziguezague – merecendo o Oscar do Horror - na aristocrática Ladeira do Boqueirão, criaram um bizarro casamento entre brita, concreto e pedras portuguesas. Se é que assim se possa chamar o trabalho de operários sem a formação de calceteiro utilizando pedras rasas que em breve se soltarão. Porque não fizeram um concurso entre os muitos artistas que moram no bairro para realizar um desenho específico em pedras portuguesas? Seria uma excelente forma de integração comunitária, em vez de impor aquela “coisa”.
A obra está sendo efeituada por uma empresa local, atual xodó dos poderes executivos, tanto municipal como estadual. De Stella Maris ao centro histórico só dá Pejota. Escolhida no único quesito de orçamento mais barato, sem aditivos no meio da obra? Acreditemos piamente.
O que está sendo feito sob o olhar complacente do IPHAN e do IPAC é um atentado ao centro histórico de Salvador. Será que não existe um único arquiteto/historiador nestes órgãos com conhecimento, sensibilidade e poder de execução?


Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde
Sábado 07/08/20 



Um comentário:

  1. A obra está sendo efeituada por uma empresa local, atual xodó dos poderes executivos, tanto municipal como estadual.

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