Foram necessários uma queixa
ao Ministério Público (Ceama - Protocolo
003.9.57788/2020), um protesto nesta mesma coluna (“Meio-fio também é
patrimônio” 30/05/20) e várias denúncias nas redes sociais para que, após seis
meses de iniciada, a Conder se dignasse de comunicar aos moradores – através de
um folheto bem fuleiro e incompleto – a finalidade da obra que transformou em
trincheiras boa parte do bairro de Santo Antônio. Sem qualquer ilustração do
projeto finalizado, e com uma inverdade – diplomática metáfora para não usar a
palavra mentira – escancarada: “A cada
trecho a iniciar, a CONDER refaz a mobilização social informando aos moradores
acerca dos serviços e prazo estimado da ação. E a cada 15 dias está sendo
implementado um relatório social de acompanhamento com o trecho em execução”.
Oxente, aonde?!
“A
requalificação urbana” consiste em retirar postes e fiações, e substituir os
antigos paralelepípedos e meios-fios de granito vermelho lavrados a mão na
primeira parte do século XX, por outros, milimetricamente cortados, dignos de Camaçari.
Qual
o destino do material original? Poderia
ter sido usado, por exemplo na ladeirado Boqueirão, mas “...não
estão em condições de segurança e adequação técnica”. Argumentos débeis de
quem se esconde por trás da incompetência ou má vontade. “...serão aproveitados em benefício de outras ruas”. Que bom!
Posso saber em quais ruas do centro histórico?
Meio ano já passou e a
primeira metade da obra ainda sem acabar. E pelo pouco que já se afirma como terminado,
o resultado é simplesmente lamentável de mediocridade. Além de inventar um passeio
em ziguezague – merecendo o Oscar do Horror - na aristocrática Ladeira do Boqueirão,
criaram um bizarro casamento entre brita, concreto e pedras portuguesas. Se é
que assim se possa chamar o trabalho de operários sem a formação de calceteiro
utilizando pedras rasas que em breve se soltarão. Porque não fizeram um
concurso entre os muitos artistas que moram no bairro para realizar um desenho
específico em pedras portuguesas? Seria uma excelente forma de integração
comunitária, em vez de impor aquela “coisa”.
A obra está sendo efeituada
por uma empresa local, atual xodó dos poderes executivos, tanto municipal como estadual.
De Stella Maris ao centro histórico só dá Pejota. Escolhida no único quesito de
orçamento mais barato, sem aditivos no meio da obra? Acreditemos piamente.
O que está sendo feito sob o olhar
complacente do IPHAN e do IPAC é um atentado ao centro histórico de Salvador.
Será que não existe um único arquiteto/historiador nestes órgãos com
conhecimento, sensibilidade e poder de execução?
Dimitri Ganzelevitch
Jornal A Tarde
Sábado 07/08/20
A obra está sendo efeituada por uma empresa local, atual xodó dos poderes executivos, tanto municipal como estadual.
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