sexta-feira, 5 de março de 2021

ENCOMENDA DE PARIS


O que aconteceu para que Machado de Assis recebesse aquela correspondência ninguém sabia. O fato é que o pacote chegou na Casa do Cosme Velho, número 18, e foi recebido por Dona Carolina Augusta. Machado pegou a encomenda, caracterizada por um embrulho cuidadoso com ilustrações nunca antes apreciadas. Tateou o produto, colocou-o na escrivaninha do seu quarto e, cuidadosamente, abriu o conteúdo. Lá dentro, muito bem acondicionado, havia um livro. A obra lhe chamava a atenção, já que era um clássico da literatura mundial. "Os Miseráveis", de Victor Hugo. Ao abrir a capa, leu imediatamente uma bela dedicatória.

"A Machado que, com uma sublime verve literária, será um dia reconhecido como um dos maiores do mundo.
Assina Victor-Marie Hugo
P.S.: Capitu traiu ou não traiu Bentinho?"
Encantado com a lisonja, Machado pôs-se a escrever-lhe imediatamente.
"Caro Victor,
Revelar-lhe tão precioso segredo seria não prezar pelo desvelo daquilo que atiça a curiosidade. Talvez ela teria se afeiçoado por Jean Valjean. Certamente, jamais por Javert. Perceba, no entanto, que enfatizo o "talvez". Pergunte a Esaú e Jacó, se quiser. Quem sabe possam nos trazer uma resposta? Ou, quem sabe, o segredo esteja bem guardado nas Relíquias da Casa Velha? Quincas Borba ou Brás Cubas não saberiam mesmo a resposta, já que não chegaram a conhecer o nosso casal. Temos aí um exercício de pesquisa e um assunto para outra Correspondência.
Assina M. de Assis
PS.: Não entendo como tanta gente lerá sua majestosa obra-prima em versão reduzida - leia-se, adaptada. Um pecado! Envie meu abraço para o simpático Quasímodo."
Junto, encaminhou-lhe uma cópia de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Se tal contato assim aconteceu? Provavelmente, jamais. Mas que seria uma comunicação entre dois gênios da literatura, não me resta qualquer dúvida!
Leonardo Craveiro
VARANDA DE MIM
Projeto de incentivo à manifestação literária

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