sexta-feira, 20 de agosto de 2021

A CULTURA À MÍNGUA

 A principal política cultural do estado é a "expropriação" de recursos do setor

Foto: Rose Brito
Grupo "Caretas de Praia do Forte".
Enquanto houver tradição sobreviveremos.


Sem Arte e... pobre artista. A outra, mesma política, é a dilapidadora do patrimônio. Desapareçam no lixo Mangabeira e Balbino. Desqualifique-se o Centro de Convenções. Uma ruína, literalmente. Despersonificada no governador inculto. Sob o reinado de um deputado e seus vassalos. Uma lástima. Em lugar de linguagem, despatrimônio. No princípio era a verba. Agora é tudo sem qualquer orçamento.
Há quem veja até uma Rainha de Salomé da Inglaterra sobre o Tombadilho, a se fingir de morta quando o assunto é a implantação da Casa Caymmi em Salvador. Dorival é par ou ímpar? Play off. Sim, o jogo acabou. Contudo,
enquanto houver tradição sobreviveremos.
Até porque, o Vila, velho, ainda pulsa. O Gambôa vive. A periferia subsiste. E salve-salve os que têm acesso à Internet. O Corpo de Balé do TCA dará aulas online. A Osba reinventa seu estatuto, como super-heróis, para não desafinar.
Cadeirantes terão acesso ao Casarão e à Capela do MAM, se conseguirem ultrapassar a barreira de arames farpados recém instalada pelo diretor em curso. Todavia, do Mezanino, sob infiltrações e sem climatização, vê-se, sem função, os degraus trapezoidais da Escada concebida por Lina Bo Bardi convertida em mero Adorno, Theodore.
Do mesmo modo, sete diretores e R$ 30 milhões depois, o Parque de Esculturas, sem forma e sem reforma, também permanece interditado ao público. Sem chances para o deleite da comunidade em sua prainha. Se quiserem que pulem o muro farpado à sombra do gradil de Carybé. A faixa de areia, agora, privilegia tão-somente frequentadores descolados a bordo de suas lanchas imponentes.
Reabre-se em pandemia os museus, oh, Sésamo, mas não o Parque de Pituaçu. Instala-se policlínicas, mas vende-se escolas, reservas ambientais e o Zoo. Inaugura-se qualquer coisa, todo mísero serviço público, e a campanha segue em caravana apressada sem adentrar o interior das demandas reais.
Vá entender. Dizem que falam mandarim. Os clans que ladrem. E os esgotos que passem a circundar a lagoa, minha Preta. No mais, conceda-se outorgas para uso indiscriminado da água por multinacionais do agronegócio, à revelia do interesse público no Oeste e na Chapada. Os rios que se curvem, Neguinho.
Quando se diz que a Bahia lidera o ranking do país em pobreza, extrema pobreza e analfabetismo, compreenda culturalmente, sobretudo.
Siga aquele edital! Dane-se, se perdeu o trem. Da história, o avesso. Uma política suburbana e sem memória. E que o espetáculo seja sempre o governante. Eis a súmula. Em nada graciosos outdoors. Tomara que sobre alguma grana pra quadra polivalente. Afinal, quem tiver a Quinta do Unhão maior que suba nas paredes.
E um monte de covardes, quem dera fossem coworkings, à nossa frente. Mas muita gente valente desfila orgulhosa na plateia da fila de emprego. É foda. Digo, é Reda! Mei a Mei. A Cultura na Bahia contemporânea faz o tipo de uberização sem veículos, sem tempo ou espaço em fantasmática TVE.
Se vire. Mas tem CPMF, viu?
E vire-se. Tamofu.
Logo chegará a hora de dobrar a esquina.
Sim, ali, como sonho, ainda chegamos lá na real, oh, delírio, finalmente, à Avenida Nossa Senhora da Educação, s/n, nossa salvadora.

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