Bolsonarismo e nazismo juntinhos
A conversa ficou tensa quando o repórter do DN perguntou a Jair Bolsonaro alguma coisa sobre “nazismo”, na primeira de duas entrevistas telefónicas dadas pelo então deputado federal ao jornal, em 2015. “Escreva o meu nome junto com nazismo aí e eu processo você e o Diário de Notícias”, ameaçou.
Na semana passada, entretanto, o hoje presidente da República reuniu-se, fora da agenda oficial, com uma deputada alemã populista de ultradireita. Beatrix von Storch, cujos avós foram o ministro das Finanças de Adolf Hitler e um dirigente das SA, a milícia paramilitar do nazismo, é uma das responsáveis pela guinada xenófoba, ultranacionalista, fundamentalista e racista do outrora moderado AfD.
Na sequência, Adriana Dias, a principal pesquisadora brasileira de neonazismo, encontrou em publicações de grupos de extrema-direita, em 2006, um link para o então site oficial de Bolsonaro e uma carta do próprio deputado onde se lia “vocês são a razão da existência do meu mandato”. Dias contou ao DN que quando iniciou as suas pesquisas, em 2002, “havia 12 células neonazis no Brasil, hoje há cerca de 350”. “Desde a eleição de Bolsonaro”, sublinha, “esses núcleos nazis crescem a uma média de 16% a cada trimestre”.
Outro pesquisador, David Nemer, da Universidade de Virginia, depois de se ter inserido por um ano em grupos de WhatsApp bolsonaristas, percebeu que o terceiro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, promove nesses fóruns “o supremacismo social” com “conteúdo pró-armas, racista, anti-LGBT, antissemita e antinordeste” através de “técnicas condizentes com a propaganda de extrema-direita americana”.
Na tomada de posse da bolsonarista ferrenha Daniela Reinehr como governadora de Santa Catarina, veio à baila o pai dela, um professor de História que nega o Holocausto e se fez fotografar em frente à casa onde Hitler nasceu com uma legenda a exaltar o Führer.
O próprio Bolsonaro, cujo histórico de declarações racistas contra negros, asiáticos e indígenas é sobejamente conhecido, desculpou, em 1998, os alunos de uma escola de Porto Alegre que elegeram Hitler como personalidade mais admirada. “Estão carentes de ordem e de disciplina.” Já no ano passado, o presidente, cujos slogans “Brasil acima de tudo” e “É melhor um dia como leão do que cem como ovelha” são adaptações de frases de Hitler e de Mussolini, bebeu um copo de leite, simbologia dos supremacistas brancos, numa das suas lives das quintas-feiras.
Noutra comunicação governamental, o ex-secretário da Cultura de Bolsonaro citou Goebbels ao som de Wagner, o compositor preferido do nazismo. Em 2011, membros brasileiros do site StormFront, fórum nacionalista branco americano, realizaram um “ato cívico” em prol de Bolsonaro na Avenida Paulista, onde, já em 2020, apoiantes do presidente empunharam bandeiras do grupo ucraniano radical Pravii Sektor (Setor Direito).
E, apesar de na campanha presidencial de 2018 a maioria dos líderes políticos revelarem preocupação com a eventual vitória de Bolsonaro, houve um que o elogiou. “Ele soa como nós”, congratulou-se David Duke, chefe histórico do Ku Klux Klan.
Enquanto deputado de quinta categoria, o político podia exigir não ser exposto. Como presidente, já não dá. Por estas e por outras, seis anos depois daquela ameaça por telefone ao DN, há 12 referências a Bolsonaro e 12 referências ao nazismo bem juntinhas neste texto.
João Almeida Moreira
Jornalista, correspondente em São Paulo
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