A história
de toda cidade é uma longa dupla coluna de erros e acertos urbanísticos. Hoje, Salvador
brilha mais pelos erros.
E isso quando
os edis não abandonam bairros inteiros – o Comércio, por exemplo - e edifícios
que são a memória da primeira capital do Brasil, tapam rios, arrancam árvores
centenárias e inventam monotrilhos e viadutos tão estrambólicos como predadores
e inúteis.
Para muitos
profissionais, a surpreendente cobertura metálica do terminal do Aquidabã
apoiada em seis colunas de concreto foi durante mais de quarenta anos uma
referência de contemporaneidade arquitetônica. Quantos amigos visitantes terei
levado durante quase meio século até o início da Baixa dos Sapateiros? Perdi a
conta. O arquiteto português Luís Nobre Guedes chegou certa vez a me confessar;
“Só por esta obra, já valeu a pena vir morar na Bahia. ”
A Fundação
Mário Leal Maia é responsável pela destruição desta obra de arte. Se ainda fosse
para dar espaço a algo realmente inovador e ousado, poderíamos engolir nossa raiva.
Mas esta instituição carece dramaticamente de um Santiago Calatrava, Mendes da
Rocha ou Lina Bô Bardi. Quem projetou “aquilo” não deve ser nem engenheiro, haja
visto a mediocridade que a prefeitura teve o desplante de inaugurar em setembro
com direito a discurso do prefeito e aplausos da claque municipal.
Estacionamento
para uns vinte carros, meia dúzia de plantinhas, uns cubinhos “para comércio” -
coitados dos comerciantes - uma quadra que mais parece um galinheiro e já foi
pintada quatro vezes no espaço de 30 dias.
Como
ironizou o arquiteto Will Marx, enquanto a Conder pinta paredes com tinta para
quadra, a FMLM usa tinta de parede para pintar quadras.
Afinal, porque
esta obra? Elementar, meu caro: Para eliminar os sem-nada que por lá acampam
anos a fio, vivendo de esmola, biscates e pequenos furtos. Será esta a solução definitiva? Os sem-nada se
mudaram para debaixo do vizinho viaduto. E agora, vão destruir o viaduto? Nem a
prefeitura nem o Estado da Bahia têm qualquer plano social para sanear o
problema.
A mente mais
simplória encontraria cem formas de usar o espaço concebido por Firmo de
Azevedo e Carl von Hauenschild em 1978 evitando agredi-lo. Uma certeza: sem o
mínimo abrigo para fugir do sol e da chuva, esta placa de concreto – como a
FMLM gosta de concreto! - será um verdadeiro micro-ondas.
Estou
programando um registro fotográfico do atual espaço. Dentro de seis meses
voltarei a documentar a manutenção. Aliás, Nostradamus já previu que, sem
tardar, os sacizeiros iriam roubar as telas do galinheiro e qualquer peça de metal
que o ferro-velho aceitar, as plantas secariam ou seriam arrancadas e o
estacionamento passaria pela ditadura dos flanelinhas.
Um passo pra
frente, dois pra trás.
- Estação do Aquidabã – CONDER – Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador/GIPOT – Baixa do Sapateiro Salvador – 1977 à 1979. Projeto Arquitetônico e Funcional
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