terça-feira, 11 de outubro de 2022

VANDALISMO NO AQUIDABÃ

 



A história de toda cidade é uma longa dupla coluna de erros e acertos urbanísticos. Hoje, Salvador brilha mais pelos erros.

E isso quando os edis não abandonam bairros inteiros – o Comércio, por exemplo - e edifícios que são a memória da primeira capital do Brasil, tapam rios, arrancam árvores centenárias e inventam monotrilhos e viadutos tão estrambólicos como predadores e inúteis.



Para muitos profissionais, a surpreendente cobertura metálica do terminal do Aquidabã apoiada em seis colunas de concreto foi durante mais de quarenta anos uma referência de contemporaneidade arquitetônica. Quantos amigos visitantes terei levado durante quase meio século até o início da Baixa dos Sapateiros? Perdi a conta. O arquiteto português Luís Nobre Guedes chegou certa vez a me confessar; “Só por esta obra, já valeu a pena vir morar na Bahia. ”

A Fundação Mário Leal Maia é responsável pela destruição desta obra de arte. Se ainda fosse para dar espaço a algo realmente inovador e ousado, poderíamos engolir nossa raiva. Mas esta instituição carece dramaticamente de um Santiago Calatrava, Mendes da Rocha ou Lina Bô Bardi. Quem projetou “aquilo” não deve ser nem engenheiro, haja visto a mediocridade que a prefeitura teve o desplante de inaugurar em setembro com direito a discurso do prefeito e aplausos da claque municipal.

Estacionamento para uns vinte carros, meia dúzia de plantinhas, uns cubinhos “para comércio” - coitados dos comerciantes - uma quadra que mais parece um galinheiro e já foi pintada quatro vezes no espaço de 30 dias.

Como ironizou o arquiteto Will Marx, enquanto a Conder pinta paredes com tinta para quadra, a FMLM usa tinta de parede para pintar quadras.

Afinal, porque esta obra? Elementar, meu caro: Para eliminar os sem-nada que por lá acampam anos a fio, vivendo de esmola, biscates e pequenos furtos.  Será esta a solução definitiva? Os sem-nada se mudaram para debaixo do vizinho viaduto. E agora, vão destruir o viaduto? Nem a prefeitura nem o Estado da Bahia têm qualquer plano social para sanear o problema.

A mente mais simplória encontraria cem formas de usar o espaço concebido por Firmo de Azevedo e Carl von Hauenschild em 1978 evitando agredi-lo. Uma certeza: sem o mínimo abrigo para fugir do sol e da chuva, esta placa de concreto – como a FMLM gosta de concreto! - será um verdadeiro micro-ondas.

Estou programando um registro fotográfico do atual espaço. Dentro de seis meses voltarei a documentar a manutenção. Aliás, Nostradamus já previu que, sem tardar, os sacizeiros iriam roubar as telas do galinheiro e qualquer peça de metal que o ferro-velho aceitar, as plantas secariam ou seriam arrancadas e o estacionamento passaria pela ditadura dos flanelinhas.

Um passo pra frente, dois pra trás.

 

 RESPOSTA DO ARQUITETO CARL VON HAUENSCHILD:

 

  Dimitri,

 Só vi agora. estava viajando.

Preciso saber:
Você e Firmo de Azevedo são os autores?  
Sim, Firmo e Eu  fomos os autores da Estação.

Como foram contratados, escolha ou concurso? 
Não teve concurso, foi contratação direta do programa TRANSCOL  para fins de uma estação de ônibus similar ao da Praça da Sé.   Aí apresentamos esta alternativa mais adequada para o espaço disponível no local combinado com uma praça. Também a Estação foi concebida para poder no futuro poder ser desmontada e remontada em outro local.

Quem era o prefeito e quanto custou?  
Pref.  Jorge Hage e custo não me lembro..  Arq. Amando Branco estava na frente do TRANSCOL e da nossa contratação.

  • Estação do Aquidabã – CONDER – Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador/GIPOT – Baixa do Sapateiro Salvador – 1977 à 1979. Projeto Arquitetônico e Funcional

A obra começou quando e terminou quando?  v
Ver acima 1977-1979

Vocês foram informados da derrubada? 
Não fomos informados sobre a desmontagem. 

abraço
Carl

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