domingo, 5 de fevereiro de 2023

NEPOTISMO

 


As articulações do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), para emplacar a própria esposa no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) deflagraram um clima de revolta generalizada na base do governo estadual. Em meio à repercussão negativa provocada após o destaque dado ontem ao caso pela imprensa nacional, o encontro da bancada do PT na Assembleia Legislativa voltada a discutir a indicação de Aline Peixoto foi dominado por reações duras de parlamentares contrários à ofensiva para garantir a ex-primeira-dama no cargo de conselheira do TCM.

Ação e reação
Na linha de frente da rebelião interna do partido, estava o deputado estadual Paulo Rangel. O petista elevou a temperatura ao condenar as manobras conduzidas sob orientação de Rui e ameaçou divulgar nota aberta de repúdio durante a reunião convocada pelo líder da bancada governista na Assembleia, Rosemberg Pinto (PT), escalado pelo ministro para pavimentar o caminho de Aline Peixoto na Casa.
Pavio aceso
Em conversas com aliados próximos, Rosemberg Pinto admitiu que o levante dos parlamentares do PT provocou uma súbita guinada na operação em torno da vaga no TCM e dificultou bastante os planos de Rui Costa. Até então, o movimento para consolidar a aprovação da ex-primeira-dama enfrentava protestos isolados de políticos com interesse no espaço. Especialmente, o deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB), que cobra para si a cota da Assembleia no tribunal. Contudo, os desgastes gerados pela exposição do assunto no noticiário e nas redes sociais alimentaram o coro dos insatisfeitos em boa parte da base governista.
Efeito adverso
Embora evitem criticar publicamente as investidas de Rui Costa em favor da esposa, cardeais influentes da base não escondem a indigestão com a postura do petista fora dos holofotes da imprensa. Segundo apurou a Satélite, a lista incluiria o senador Jaques Wagner (PT), para quem a interferência direta de um dos ministros mais poderosos para beneficiar a ex-primeira-dama com cargo vitalício, classificado como nepotismo camuflado, pode acarretar danos colaterais sobre o governo Lula e levar a crise antes restrita à Bahia para dentro do Palácio do Planalto.
Fora da curva
O mal-estar disseminado após as ações de Rui Costa entrarem na vitrine da imprensa foi ampliado pela ausência de formação qualificada de Aline Peixoto para o cargo, um dos critérios exigidos nas nomeações do TCM. Graduada em Enfermagem e sem experiência de fato em gestão pública, ela não possui os pré-requisitos mínimos para as funções de conselheira, responsável por analisar e julgar contas de prefeituras, incluindo as de Salvador, administrada pelo grupo de oposição ao PT.
Plano B
Caso o rolo compressor do ministro consolide a aprovação da ex-primeira-dama no TCM, deputados oposicionistas cogitam judicializar a escolha, com base em dois argumentos: falta de qualificação definida por lei e riscos de um eventual uso político do cargo.
Eu estou vendo isso pela imprensa. Quando o ex-governador se manifestar, eu opino. É um direito. Se a lei não proíbe, a presidência coloca para votar. É uma coisa pôr para votar, mas os deputados irão avaliar Adolfo Menezes, presidente da Assembleia Legislativa, ao comentar a polêmica sobre a vaga do TCM em entrevista ao site Bahia Notícias.

De joelhos
Rui Costa, inclusive, colocou a bancada baiana da esquerda de joelhos por causa de sua obsessão particular de emplacar a esposa no TCM. A prática nefasta de usar a gestão pública para favorecer familiares e cônjuges sempre foi criticada por seus correligionários, que agora se calam em indisfarçável constrangimento - sobretudo pela péssima repercussão em âmbito nacional. Mesmo assim, o núcleo duro de Rui mantém a ofensiva sobre deputados pelos votos que podem sacramentar a operação “maridismo”.
Contrariado
Quem não anda nada satisfeito com a indicação é o senador Jaques Wagner (PT), que não esconde de ninguém sua contrariedade à causa. Fontes governistas garantem que, mesmo com a repercussão nacional negativa e a insatisfação de aliados, Rui segue intransigente e não pretende abrir mão da vaga para Aline.
Ironia do destino
Se hoje deseja dar à esposa uma cadeira no TCM, Rui já chegou a defender a extinção do tribunal. Disse, em 2017, que haveria uma economia de R$ 200 milhões aos cofres públicos caso a Corte tivesse suas atividades encerradas. Falou ainda que integrantes do TCM tinham "prazer mórbido" de rejeitar contas de prefeituras.






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