O estranho e fabuloso caso do senhor Satie·
Erik Satie nasceu há 150 anos e não faltam edições
e reedições discográficas que passam em revista a obra de uma das mais
excêntricas personagens da história da música.
11 set.
2016, 22:446
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· Quando, após a morte de Erik Satie, a 1 de Julho de 1925, os amigos entraram no minúsculo apartamento de uma divisão, sem água nem electricidade, em que o músico habitara durante os últimos 27 anos de vida, no n.º 34 da Rue Cauchy, em Arcueil, um subúrbio operário de Paris, e que ele nunca franqueara ao seu círculo de conhecimentos, depararam-se com um cenário ao mesmo tempo deprimente e fantástico: deprimente porque revelava as condições de penúria em que o compositor vivera, fantástico porque espelhava o seu espírito excêntrico e zombeteiro.
Erik Satie por Suzanne Valadon, 1893
No apartamento, onde reinava a maior desordem, encontrou-se uma colecção
de guarda-chuvas, com mais de uma centena de peças, outra de lenços, com 84
exemplares, outra ainda de colarinhos de camisa, bem como vários fatos de
veludo cinzentos, todos iguais, ainda por estrear – Satie não gostava de perder
tempo a decidir que roupa iria usar, pelo que comprara de uma só vez uma dúzia
de fatos, usando um de cada vez até ele ficar puído (paradoxalmente, foi, a
crer nas suas palavras, assinante de uma revista de moda). Havia também
desenhos de edifícios medievais, centenas de estreitas tiras de papel com
anotações enigmáticas como “O meu nome é Erik Satie, tal como todas as outra
pessoas” e numerosas partituras inéditas, incluindo algumas que o próprio
compositor julgava ter perdido, como seja o caso de Jack in the Box e
da ópera Geneviève de Brabant.
[Gymnopédie n.º1, por Aldo Ciccolini]
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