Ubaldo
Marques Porto Filho
Diolino Gomes Damasceno, baiano de Ipecaetá, nasceu em 5 de junho de 1930. Durante onze anos, trabalhou no Bar Guarany, na Mariquita. E foi no balcão deste bar que o atencioso garçom aprendeu a ler e escrever, tendo como professores alguns boêmios letrados. Com muito esforço e perseverança, estudou todo o programa do curso primário. Autodidata, pois nunca frequentou uma escola, inscreveu-se, em 1958, para o exame de admissão no Ginásio Estadual Manoel Devoto, logrando a 12ª colocação entre quinhentos candidatos. Cursou até o 1º ano cientifico, à noite, quando saia da labuta diária no Bar Guarany.
Em 1963, Diolino foi ser balconista no Bar de
Cavadas, em Santana. Nesta época, batida de limão era tida como bebida maldita,
coisa inventada por carioca malandro, para consumo dos marginais. Este era o
conceito reinante e, em vista disto, havia um grande medo pela sua introdução
nos bares tradicionais, receio este por parte de seus proprietários. Diolino
não tinha este preconceito e bem que tentou vendê-la onde trabalhava, mas o
dono não permitiu.
Todavia, quando Cavadas empreendeu uma e suas
demoradas viagens à distante terra natal, deixou, a partir de abril de 1965, o
estabelecimento sob a direção do seu eficiente empregado. A primeira coisa que
Diolino fez foi colocar a bebida proibida no balcão. Atraídos pela excelente
aceitação da batida, muito boa e barata, o bar conquistou novos clientes, na
sua maioria composta por jovens. Em pouco tempo, a batida estava consagrada e
todos queriam saber como era preparada. Diplomaticamente, o fabricante dizia
que era segredo profissional. E para alimentar a curiosidade informava que o
segredo residia num ingrediente especial que adicionava à mistura principal,
formada por cachaça da boa, suco de limão galego, mel de abelha de primeiríssima
qualidade e açúcar refinado.
Quando Cavadas retornou com a família da temporada
na Galícia e reassumiu o comando do bar, em julho de 1966, suspendeu a vendagem
da batida. Como não poderia deixar de ser, houve sérios protestos por parte dos
consumidores, mas o espanhol permaneceu irredutível na decisão. Aí, entrou em
cena a coragem e o grande tino comercial do empregado. Diolino pediu demissão
da casa e foi abrir um boteco, somente seu, na garagem de uma residência
vizinha aos fundos do Cine Rio Vermelho, bem defronte à praia do Forte.
Rapidamente, todos os antigos frequentadores do Bar
de Cavadas passaram a beber no Mini Bar, nome do novo estabelecimento. Outros
novos clientes surgiram e o minúsculo bar passou a ficar sempre cheio, com
gente até do lado de fora. Diolino trabalhava duro, febrilmente, sozinho, até à
madrugada. Vendia exclusivamente batida de limão e um tira-gosto misto, de
chouriça, carne de sol e farofa, além de lambretas nos fins de semana.
Perspicaz, observou que muitos rapazes pediam dois
copos de batida e diziam: “Vou beber no carro, volto logo para pagar e trazer
os copos”. Intrigado, ou desconfiado, começou a ir à porta para conferir aonde
os clientes realmente tinham ido beber. Notou que no interior dos veículos
ficavam as acompanhantes, que nunca saltavam, pois não desejavam ser vistas
bebendo em público. Aí veio o outro estalo, o grande responsável pela notável
ascensão comercial que Diolino teria. Contratou dois rapazes para o serviço
externo.
Estava, assim, pela primeira vez, em Salvador,
implantado o sistema de atendimento direto aos veículos, via garçons. Foi o
‘Ovo de Colombo’, haja vista que a novidade alcançou estrondoso sucesso. Em
toda a cidade, principalmente no meio da juventude, só se falava na batida do
Diolino. E foi aí, que apareceu um sabidório e abriu em Amaralina um bar com o
mesmo nome - Mini Bar, também vendendo batida de limão. Como os fregueses
passaram a lhe perguntar se era filial, Diolino resolveu desfazer os equívocos
colocando o seu nome no letreiro, onde se lia: Mini Bar do Diolino, associando,
assim, de forma definitiva, o seu nome ao do estabelecimento.
Já consolidado comercialmente, Diolino
transferiu-se em março de 1971 para um imóvel maior, no Largo da Mariquita,
esquina com Odilon Santos. E para o novo estabelecimento um nome novo, agora
simplesmente Bar do Diolino. A troca de local deu resultados bem positivos e o
movimento cresceu mais ainda, de forma vertiginosa.
Diariamente, centenas de carros ficavam
estacionados em todos os locais próximos ao bar, obrigando Diolino a contratar
um verdadeiro batalhão de garçons. Já havia então diversificado a linha de
produção, passando a fabricar batidas de várias outras frutas naturais. Dentro
do estabelecimento funcionava uma verdadeira indústria de batidas. O bar ficou
tão famoso que passou a se constituir em ponto de visita para várias
personalidades em trânsito por Salvador.
Em março de 1989, quando foi inaugurado o novo
Mercado Municipal, na área do Aterro do Emissário Submarino, ocorreu a última
mudança. Atendendo convite da administração do prefeito Mário Kertész, que o
queria como uma espécie de bar âncora, Diolino transferiu-se para o maior boxe
do equipamento municipal. Não completou quatro anos, pois o olho grande de um
secretário, na gestão do prefeito Fernando José, que queria a área para um
amigo, criou tantos problemas e dificuldades que o ‘Rei das Batidas’ resolveu
devolver o Box à Prefeitura. Diolino decidiu também sair da linha de frente,
passando a fabricar as batidas em casa, sob encomenda de alguns bares. A
produção é limitada, mas, eventualmente, dá para atender solicitações para
eventos.
Texto
condensado das páginas 179/181 do livro
‘Rio Vermelho’,
de Ubaldo Marques Porto Filho,
publicado em 1991.
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