quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

OSBA VERSUS OSBREGA

 


Gostei da polêmica. Despertou paixões, o que sempre é saudável no mundo da cultura, especialmente após quatro anos de obscurantismo. Por inclinação pessoal, estaria mais do lado do brilhante pianista Ricardo Castro que protestou a respeito do evento. Por outro lado, sempre simpatizei com as ousadias do Carlos Prazeres, oboísta de talento e regente incansável de nossa orquestra sinfônica.

Mas descer do estrado para se colocar ao nível do povão seria a melhor forma de educá-lo? Sou de opinião oposta. É só lembrar o sucesso estrondoso da apresentação da Osba no Pelourinho no verão de 2020 quando as peças escolhidas – Haydn e Beethoven – foram ouvidas pelo tal povão em religioso silêncio. Sim, eles não usam smoking, mas têm sensibilidade igual à dos privilegiados do Horto Florestal e da Alameda das Espatódeas. Só lhes falta ter pleno acesso a outras expressões.

E esta sensibilidade, acreditem, não se limita ao Bolero de Ravel, às quatros Estações de Vivaldi, ao Aleluia de Handel e aos noturnos de Chopin. Tivesse poder de decisão no setor, não hesitaria em oferecer Honegger, Milhaud, Piazzolla, Schoenberg, Stravinsky, Satie, Boulez, Gershwin, Bartok e um rosário de outros tão significativos quanto.

Não me parece, se me permitirem discordar do Caetano Veloso, que a função da Osba seja interpretar Waldik Soriano. Da mesma forma, nunca me convenceu ouvir uma orquestra, nem que seja de câmara, interpretar Caymmi, pelo qual tenho especial apreço. Coqueiros de Itapoã ou Maracangalha nada ganham em serem tocados por dez violinos, quatro contrabaixos, seis trompetes e dois oboés. Muito pelo contrário. Acaba afogando o despojamento essencial a obra do genial baiano.

Já que estamos falando em educação popular, gostaria de sugerir um maior entrosamento entre os moradores da Liberdade e Fazenda Coutos e a música erudita, pedindo que a Osba execute partes da obra do primeiro compositor clássico negro Joseph Bologne, cavalheiro de Saint-Georges (1745-1799) apelidado de “Mozart negro”. A qualidade musical ainda surpreenderá muitos melômanos.

Continuando no tema música clássica / negritude, que tal o TCA contratar o violoncelista inglês Kanneh-Mason que já é considerado como um novo Yo-Yo Ma? Até a família inteira valeria a pena convidar. O clarinetista Carlos Ferreira, as sopranos Pretty Yende e Pumeza Matshikiza valorizam qualquer palco, do Metropolitan a Salzburg. Com certeza haveria possibilidade de acordo entre várias salas pelo Brasil afora. Além do alto nível profissional, seria uma convincente e elegante forma de lutar contra o racismo. Poderíamos até organizar uma programação sobre dois meses inteiros com alguns dos talentosos intérpretes negros de música erudita.



A reação de negros que nunca ouviram ópera


Não é somente o Sheku...

... E a irmã Jeneba...

.. mas é a família inteira!



Linda e talentosa, vem da África do Sul



Este clarinetista português aos 22 anos já era um mestre


Uma perfeita voz de tenor


Outra sul-africana que conquistou os maiores palcos do mundo


A orquestra Buskaid já se apresentou no Sesc de São Paulo.
Porque não veio a Salvador?













 

 

 

 

 

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