Gostei da
polêmica. Despertou paixões, o que sempre é saudável no mundo da cultura,
especialmente após quatro anos de obscurantismo. Por inclinação pessoal,
estaria mais do lado do brilhante pianista Ricardo Castro que protestou a respeito
do evento. Por outro lado, sempre simpatizei com as ousadias do Carlos
Prazeres, oboísta de talento e regente incansável de nossa orquestra sinfônica.
Mas descer
do estrado para se colocar ao nível do povão seria a melhor forma de educá-lo?
Sou de opinião oposta. É só lembrar o sucesso estrondoso da apresentação da
Osba no Pelourinho no verão de 2020 quando as peças escolhidas – Haydn e
Beethoven – foram ouvidas pelo tal povão em religioso silêncio. Sim, eles não
usam smoking, mas têm sensibilidade igual à dos privilegiados do Horto
Florestal e da Alameda das Espatódeas. Só lhes falta ter pleno acesso a outras
expressões.
E esta
sensibilidade, acreditem, não se limita ao Bolero de Ravel, às quatros Estações
de Vivaldi, ao Aleluia de Handel e aos noturnos de Chopin. Tivesse
poder de decisão no setor, não hesitaria em oferecer Honegger, Milhaud,
Piazzolla, Schoenberg, Stravinsky, Satie, Boulez, Gershwin, Bartok e um rosário
de outros tão significativos quanto.
Não me
parece, se me permitirem discordar do Caetano Veloso, que a função da Osba seja
interpretar Waldik Soriano. Da mesma forma, nunca me convenceu ouvir uma
orquestra, nem que seja de câmara, interpretar Caymmi, pelo qual tenho especial
apreço. Coqueiros de Itapoã ou Maracangalha nada ganham em serem tocados por
dez violinos, quatro contrabaixos, seis trompetes e dois oboés. Muito pelo
contrário. Acaba afogando o despojamento essencial a obra do genial baiano.
Já que estamos falando em educação
popular, gostaria de sugerir um maior entrosamento entre os moradores da Liberdade
e Fazenda Coutos e a música erudita, pedindo que a Osba execute partes da obra
do primeiro compositor clássico negro Joseph Bologne, cavalheiro de
Saint-Georges (1745-1799) apelidado de “Mozart negro”. A qualidade musical ainda
surpreenderá muitos melômanos.
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