Numa
sociedade que ainda não aprendeu a viver sem carro nem por um dia, o problema
que se arrasta há décadas é a falta de estacionamento no Santo Antônio para
visitantes como para moradores. Este aliás foi o maior empecilho ao projeto de
shopping a céu aberto de certa colunável carioca. Então porque a prefeitura não
elabora um grande, belo e arrojado projeto? Poderia usar o espaço do posto de
saúde da Ladeira do Aquidabã, monstrengo construído na marra nos anos 80.
Abocanhando parte do terreno ora pertencendo à IURD – estamos todos profundamente
convencidos do humanismo e da generosidade do Edir Macedo, dono do pedaço, a
bem da comunidade – haveria amplo espaço para algumas centenas de carros. O
posto de saúde seria trasladado para o outro lado da rua, no antigo casarão de
oitão que precisa de restauro em caráter emergencial.
De repente
nasce assim a esperança de, pelo menos nos fins de semana, podermos usar das
ruas principais do Santo Antônio como exclusivo espaço pedestre, desde o Largo
do Carmo até o Forte da Capoeira, desejo da grande maioria dos moradores, sem
esquecer uma banda aos domingos no velho coreto do Largo. Alô, Fred Dantas!
Me permitam
outro palpite: um trenzinho elétrico desde a Praça Municipal até o Largo de
Santo Antônio, já que os ônibus normais não contemplam este trecho. Com pontos
fixos de embarque e desembarque, e prioridade absoluta para idosos e
deficientes físicos. Daria conforto e segurança, especialmente na famigerada
Ladeira do Carmo, onde os assaltos são constantes sem que a polícia resolva
atuar de forma eficaz. Nos anos 90 houve uma tentativa de transporte com este
perfil, mas alguns guias de turismo tomaram conta dos carrinhos para proveito
pessoal, matando a galinha dos ovos de ouro.
Existe com
frequência embate entre donos de imóveis e IPHAN. Porque não criar um balcão
especifico deste órgão federal no centro histórico para tratar exclusivamente
dos assuntos referentes ao dito bairro? Este órgão precisa ser acessível e
estabelecer um diálogo constante e sem burocracia com o público em vez de ficar
na sua torre de marfim onde ninguém sabe o que está acontecendo. O Solar Berquô não pode continuar se
comportando como tem feito durante duas décadas. Depois de um superintendente
deslumbrado com colunáveis e outro a serviço da prefeitura, nosso patrimônio
precisa de novas estratégias antes que seja tarde.
Apesar de
minhas repetidas restrições, devo parabenizar o IPHAN pela recuperação da
Biblioteca Anísio Teixeira na esquina da Avenida Sete e Largo de São Bento. Por
um triz íamos perder esta joia da arquitetura eclética. Agora, mãos à obra para
o ressuscitar o antigo hotel São Bento e este pedaço da memória da Bahia será
totalmente salvo!
Dimitri Ganzelevitch
A Tarde, sábado 4 fevereiro 2023
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