Paulo Ormindo de Azevedo
Quando ACM transformou o Conder, órgão de planejamento, em cartório de obras do Estado, a gestão da RMS virou um cassino. Uma casa de apostas em que quem sempre ganham são as empreiteiras. Tentei identificar o jogo mais frequente e descobri que era o bingo de cartas marcadas, em que participam muitas empreiteiras e tem um crupiê governamental que canta as bolas. O valor dos prêmios depende do autor e do montante das emendas do Orçamento Secreto.
As cartelas são distribuídas com as empreiteiras e cada vez que uma delas preenchia uma fileira grita: bingo! Assim temos muitos pseudo-ganhadores e um grande ganhador que preenche toda a cartela. Depois que a Lava Jato quebrou as nossas duas maiores empreiteiras, passamos a ter uma só, os chineses. Eles estão na Ponte SSA-Itaparica, no monotrilho suburbano, na FIOL e no Porto Sul.
O planejamento virou um jogo de apostas. A maioria das capitais transformou suas redes ferroviárias em transporte metropolitano. Salvador está arrancando os trilhos e se isolando ferroviariamente do restante do país. O correto seria transformá-los em uma rede ferroviária funcionando durante o dia como transporte de pessoas e à noite de carga, ligando Salvador a Itaparica, pela contra costa, a Feira de Santana, aos portos de Aratu, Estação de Regaseificação, Estaleiro da Enseada, hubport de Salinas e Ferrovia Centro Atlântica.
Desorientado, o Estado abriu licitação para a construção de um sistema de Veículos Leves sobre Trilho, VLT, suburbano. Os chineses oferecem um monotrilho aéreo, que não transporta carga, e o Estado engoliu a espinha com muita farinha. Para enganar o Tribunal de Contas rebatizou o monotrilho de VLT. Um negócio da China, que tem seu orçamento triplicado mesmo antes de começar.
Enquanto o Rio de Janeiro e muitas outras cidades no mundo investem na hidrovia para aliviar o tráfego metropolitano, o Governo aceitou o projeto da Odebrecht e decidiu construir uma ponte rodoviária para Itaparica¸ restrita a ilha, que irá o substituir um ferry boat mal administrado e acabar com a navegação regional na BTS, modal forte até meados do século XX. A ponte terá forma de anzol para chegar ao centro congestionado da cidade, dificultando as manobras no porto de Salvador e inviabilizando o estaleiro de São Roque.
Quem circula na BR-324 percebe que o metrô de Cajazeiras é todo aéreo. Neste caso seria mais barato e silencioso um monotrilho, que não desmataria a Paralela nem criaria uma barreira viária e social. Em resumo, temos trem onde deveríamos ter um monotrilho e monotrilho onde deveríamos ter trilhos, uma ponte rodoviária onde deveríamos ter trem metropolitano e hidrovia e um BRT tobogã insustentável na Av. ACM pelada que sonha competir com o metrô perna de pau. Um mangue, que custa caro ao cidadão e desumaniza a cidade.
SSA: A Tarde, 05/02/2023
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