segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

PARA UM BRASIL SEM COTAS

Pelo menos uma das 942 quadras poéticas de Michel de Nostredame deve ter previsto a realização de meus loucos desejos para um Brasil melhor.

O croata e desastrado  TasteAtlas deixará de escrever idiotices a respeito das culinárias deste vasto mundo. Nada como um bom desconfiômetro para, modestamente, limitar os estragos ao analisar seus dois pratos nacionais - o peka e o buzara – que não brilham pela originalidade. Por favor, me deixe saborear meu pato no tucupi, meu abará e minha maniçoba sem torcida de nariz que não é nada mais que limitação culturo/papilar.

Salvo erro de minha caquética memória, Nostradamus também anunciou uma nova era nos consultórios médicos e odontológicos: o médico lhe atenderá exatamente no horário marcado. Afinal estes senhores, você concordará, nunca se atrasam na hora do embarque para Miami. Então, porque somos sempre obrigados a mofar uma boa hora de relógio antes de sermos atendidos?

A maconha e outras drogas serão legitimadas, permitindo assim uma boa assistência sanitária e reduzindo drasticamente o pernicioso poder económico dos PCC, PV, BMT, GBS e outras MRD. Os pequenos traficantes, os de esquina de rua, sairão de prisões onde nunca deveriam ter entrado enquanto vereadores, deputados e delegados continuem ostentando luxos muito acima de suas rendas oficiais.

Esta virada de página terá outras consequências, por muitos inesperadas. Daniela Mercury e Janja Lula da Silva encontrarão finalmente um bom figurinista, deixando aquelas vestimentas hololosas no armário. Gustavo Lima e Claudia Leite, além de perderem o T excrescente, descobrirão as belezas dos Filhos de Gandhi, do Ilê Aiyê, Caetano Veloso e Gerónimo Santana.

Amanhã, depois de amanhã ou, mais tardar, no dia seguinte, as Delegacias da Mulher fecharão assim como aquelas que combatem o racismo. Não serão mais necessárias. O ensino público gratuito e de altíssima qualidade sendo a todos acessível, pragas do machismo e do preconceito extintas, não haverá qualquer necessidade de cotas para minorias, pois estas não serão mais oprimidas. Juízes, generais e desembargadores desistirão de salários pornográficos, contribuindo assim para uma sociedade mais justa. Nas repartições públicas serão retirados quaisquer símbolos religiosos em atenção aos que praticam outros credos ou, como eu, são ateus.

Entrando agora para o mais puro delírio, nossos edis deixarão de construir viadutos, pois onde há concreto, há corrupção, para se concentrar em inaugurar jardins e reposição de mata atlântica. Os rios, recuperados, farão a alegria dos pescadores e os novos edifícios, públicos ou privados, deverão sempre ser o resultado de concursos a nível nacional.

Oxente! Não posso divagar que logo me taxam de maconheiro?

Dimitri Ganzelevitch                                                                                          A Tarde, sábado 28 dezembro 2024

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