quinta-feira, 4 de agosto de 2016

ORDENAMENTO OU COERÇÃO?

ÂMGELO SERPA
               
Professor titular da UFBA e pesquisador do CNPq - angserpa@ufba.br


Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), em junho o desemprego na Região Metropolitana de Salvador atingiu um total de 465 mil pessoas, correspondente a 24,8% da População Economicamente Ativa. Salvador, com economia fortemente baseada no terciário, vê mês a mês cair seu volume de serviços.
Nesse contexto, causa espanto a ação da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e da Guarda Municipal no bairro de Santo Antônio em julho, retirando e apreendendo mesas e cadeiras dos bares localizados na Cruz do Pascoal.  A ação foi documentada em vídeo que circula nas redes sociais e demonstra falta de diálogo com os donos dos bares, que há décadas colocam suas mesas ali, uma tradição do bairro. O vídeo mostra protestos contra a ação da Semop, classificada como “truculenta” pelos presentes.
Nas imediações da Avenida Sete, ambulantes foram relocados de seus pontos originais para ruas transversais, vendo diminuir progressivamente os ganhos. Pesquisa realizada por estudantes de Geografia da Ufba comprova que, com a relocação, as vendas caíram significativamente. É fácil compreender porque alguns ambulantes retornam aos antigos pontos para garantir sua sobrevivência.
Tentativas de “disciplinar” de forma coercitiva o comércio de rua têm sido também uma constante no Carnaval. Na folia de 2016 houve protestos de ambulantes, tratados do mesmo modo pelo poder municipal, por não se adequarem à venda exclusiva das marcas de cerveja patrocinadoras da festa que, com isso, ganham da prefeitura direito de monopólio em áreas públicas da cidade.
Todos esses fatos mostram que o ordenamento territorial não pode se dar sem diálogo constante com a população, que ações coercitivas são um sinal de que participação e transparência se tornaram artigos de luxo em Salvador, inviabilizando o trabalho de milhares de pessoas, em tempos de forte crise do emprego na metrópole baiana.

Jornal A TARDE - 02/08/2016  

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