terça-feira, 26 de setembro de 2017

SOBRE O FESTIVAL DA PRIMAVERA

Agora eu vou falar um pouco sobre o Festival da Primavera.

Image may contain: one or more people, crowd and outdoor

Antes da primeira edição acontecer, entraram em contato comigo. Queriam que eu fizesse parte, que o Baile Esquema Novo integrasse a programação, na rua. Que tinha uma conexão, no conceito, com a Virada Cultural paulista, e que seria ótimo. Minha primeira pergunta foi: "Mas porque no Rio Vermelho?". Algo próximo a "isso já está decidido, tem que ser no Rio Vermelho" foi a resposta.
Pulei fora, claro.
Quais são os elementos que compõem um mercado cultural saudável? Estrutura e boas atrações oferecidas a preço que o público possa pagar. Em muitos casos, uma ou mais partes dessa equação não funcionam bem, e para que a arte e a produção cultural cumpram o seu papel social, é preciso uma forcinha.
Se não há estrutura, seria recomendável investir num teatro público com boa estrutura, se não há bons espetáculos, cogita-se trazer artistas de fora. Se o público não pode pagar, pode-se pensar em fazer apresentações abertas ao público.
O Rio Vermelho é um dos poucos lugares de Salvador que tem muitas opções com estrutura suficiente, atrações variadas de qualidade e que atrai um público que pode pagar. Estão em funcionamento mais de 15 espaços com atrações musicais - entre outras artes - que se equilibram nesta equação. Não sem dificuldade, mas acontece. Manutenção custa dinheiro, se manter aberto é correr risco cotidianamente. Estão aí: San Sebastian, Casa da Mãe, Portela Café, Commons, Tropos, Berlim, Irish, Chupito, SESI Rio Vermelho, ZEN, Borracharia, 30 Segundos, Pink Elephant, Taverna, Boteco São Jorge, Rhoncus, Idearium e mais uns 2 ou 3 que eu não estou lembrando, sem falar nos que só abrem eventualmente, como o Clube da Esquina ou Casa do Muro de Pedra. Existem através de investimentos privados, risco de bilheteria, e conseguem fazer girar esse mercado.
Então a prefeitura resolve montar um Festival da Primavera, na rua, no Rio Vermelho. É o equivalente estratégico a montar uma mostra gratuita de cinema na porta do Salvador Shopping, onde está o Cinemark. Qual o sentido? Fomentar o mercado cultural é que não é. "Ah, mas é só um final de semana". Tecnicamente são 52 fins de semana por ano. Menos 2 porque a prefeitura faz reveillon de uma semana. Menos 2 porque a prefeitura faz carnaval prolongado. Menos 1 porque a prefeitura faz aniversário da cidade com show imperdível na rua. Menos 1, porque no São João a cidade fica vazia. Menos 1 porque agora ainda tem o Festival da Primavera, uma festa que celebra o... nada. Fora os feriados prolongados em que as pessoas resolvem viajar e as coisas acabam ficando arriscadas... Cada fim de semana conta. E cada vez que a prefeitura resolve fazer publicidade fingindo que faz cultura, todo o mercado sofre.
E é assim, colocando na rua atrações pelas quais as pessoas podem pagar e pagam, que a prefeitura ajuda a fechar e precarizar casas de show em Salvador.
No ano passado, com o Rio Vermelho em reforma, o festival foi para o Costa Azul (parece que é de propósito) acontecer justamente na boca do antigo Bambara, inviabilizando um fim de semana para os dois estabelecimentos em frente.
Esse ano vai ser muito maior (nada relacionado a eleições, tá?). 10 dias de programação por toda a cidade. BLITZ e Maria Gadú. Mesmo que não seja nada realmente imperdível, o trânsito fica muito mais caótico, e o risco para quem trabalha com a vida noturna do bairro só aumenta. Claro que eu poderia me adaptar à situação e ao invés de fazer festa, eu poderia ir vender cerveja na rua com meu isopor, né? Mas isso a prefeitura também não tem deixado.
Você vai votar em quem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário