Erguida em 1938, vila modernista nos Jardins pode agora desaparecer de vez
A principal herança da obra de Flávio de Carvalho -a casa da Fazenda Capuava, onde viveu, no interior de São Paulo- está deteriorada. Hoje, a casa, marco inicial da arquitetura moderna no Brasil, vive abandonada, acumula sujeira, teias de aranha, pichações e problemas de infra-estrutura.
Do ousado projeto original, ainda restam intactas, porém sujas, as paredes revestidas de alumínio na cozinha e no banheiro, além da pintura nos dois alpendres de 22 metros de comprimento que atravessam e sustentam o prédio.
A casa, que fica em Valinhos (a 95 km de São Paulo), é um dos dois únicos projetos arquitetônicos concretizados por Flávio de Carvalho. Ela foi construída em 1936 e projetada mais para conceber as idéias do modernista que para oferecer conforto à família, que morou no local até 1992. Os quartos, por exemplo, servem de passagem entre os cômodos, impedindo a privacidade na casa, segundo a análise de especialistas.
Além disso, todos os cômodos têm ligação com a área externa da casa, revestida de grama.
A obra
Do ousado projeto original, ainda restam intactas, porém sujas, as paredes revestidas de alumínio na cozinha e no banheiro, além da pintura nos dois alpendres de 22 metros de comprimento que atravessam e sustentam o prédio.
A casa, que fica em Valinhos (a 95 km de São Paulo), é um dos dois únicos projetos arquitetônicos concretizados por Flávio de Carvalho. Ela foi construída em 1936 e projetada mais para conceber as idéias do modernista que para oferecer conforto à família, que morou no local até 1992. Os quartos, por exemplo, servem de passagem entre os cômodos, impedindo a privacidade na casa, segundo a análise de especialistas.
Além disso, todos os cômodos têm ligação com a área externa da casa, revestida de grama.
A obra
Cercada por vegetação nativa em uma área de 1.000 m2, a casa é dividida em dois setores distintos: um grande salão social, com pé direito de 7,5 metros de altura, e a área íntima, com quartos, cozinha e banheiros, além de biblioteca e uma sala para guardar antiguidades e a memória da família.
A segunda área foi construída em formato de "U" e tem um jardim-de-inverno no meio.
Os alpendres que sustentam o vão livre de 200 m2 na entrada e nos fundos do salão social da casa, sustentados por duas colunas, são sede de um terraço e dois jardins suspensos. O vão livre é a marca do cálculo em engenharia promovido por Carvalho e que permite o equilíbrio das vigas.
No caminho que leva à casa, no bairro batizado também de Capuava, os sinais do abandono são nítidos: quase à beira da estrada que liga Valinhos à rodovia D. Pedro 1º, o chão é de terra e a cidade quase "engole" a fazenda, que já teve 90 hectares. Ao lado, há um haras e um loteamento popular.
Ao chegar na fazenda, os olhos se voltam para a segunda casa, construída em estilo colonial, onde vive atualmente uma prima do artista, sua herdeira.
Para apreciar a obra modernista de Carvalho, é preciso olhar para o lado e confirmar: "É aqui mesmo?". O prédio, uma construção de 500 m2, depois de percebido, no entanto, encanta.
O salão social, primeiro plano da casa, é em forma de trapézio e tem um mezanino de madeira, cujas bordas estão apodrecendo. Seu teto é coberto por placas de gesso, que foram restauradas em 96, mas têm várias infiltrações.
A Prefeitura de Valinhos mantém a casa em regime de comodato desde 97 com a família do artista, morto em 73.
A piscina também chama a atenção: tem 33 metros de comprimento, 11 metros de largura e 5 metros de profundidade e é revestida de azulejo branco, com pedras nas bordas.
Segundo o secretário da Cultura de Valinhos, Antonio Stopiglia, um estudioso da vida e da obra de Flávio de Carvalho, a prefeitura não tem condições de assumir a reforma da casa sozinha.
"A prefeitura fez uma limpeza em volta da casa, onde o mato estava alto, para isolar o local de vegetação, e tentar evitar que ela seja invadida", afirmou.
Os tacos de madeira do chão dos três quartos da casa estão apodrecendo. Há rastros de animais que entraram na casa, folhagens, portas e pedaços de madeira espalhados pelo chão.
Ainda há camas de ferro nos quartos, enferrujadas. No banheiro, o vaso sanitário, feito de louça inglesa branca, está quebrado. Nenhuma das portas de esquadrias de alumínio têm vidros.
Talvez o maior símbolo do descaso com a obra modernista de Carvalho, no entanto, esteja no espaço onde funcionava sua biblioteca particular: o teto desabou por não ter resistido ao peso das telhas e ao acúmulo de água.
No cômodo, entre os escombros do telhado, vive uma cadeira de um arco, projeto do artista, feita com somente um arco de sustentação e com tiras de couro estendidas no assento e no encosto.
O escritor J. Toledo, biógrafo e amigo pessoal de Flávio de Carvalho, disse ter se surpreendido com o estado da casa. "Sabia que a casa estava malconservada, mas não acreditei que estaria completamente caindo aos pedaços. É lamentável", afirmou.
Ele foi uma das pessoas que lutou pelo tombamento da casa, feito pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo) em 82.
Desde que a casa foi tombada, foi feita somente uma reforma no seu teto, em 96, com R$ 30 mil.
De acordo com o secretário da Cultura de Valinhos, o governo do Estado estuda a possibilidade de fazer parcerias com a iniciativa privada, por meio da Lei Rouanet, para restaurar e reformar a obra.
A terapeuta Heloísa Crissiúma de Carvalho Pisciotta, 39, prima e herdeira do patrimônio do modernista, afirmou que morou na casa e que acha triste ver o estado de abandono. "Desde que a casa foi tombada, a família não pode fazer nada lá", disse.
MARCELO BARTOLOMEI
da Redação
ANA PAULA SCINOCCA
free-lance para a Folha
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ANA PAULA SCINOCCA
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